terça-feira, maio 2

Os ricos que paguem a crise!

Aqui há mais de vinte anos, muitas paredes deste país, de uma noite para a outra, foram invadidas, com pichagens. Não houve um muro, uma parede, pintadas de fresco ou não que não fosse varrido pela frase; Os rico que paguem a crise. Muita lata de tinta se gastou, muitos quilómetros se percorreram, muitas colagens de cartazes se fizeram, com esta frase emblemática.

Essa frase foi muito glosada, por muita gente, incluindo, as vindas de grupos de grupos de esquerda, mais intelectual, como o MES ou o PRP e do PCP, claro. Ainda hoje, em jeito de brincadeira, se recorre algumas vezes a esta frase. Era uma frase “muito radical e esquerdista”, dizia-se. Era verdade. Mas essa frase fez correr muita tinta e não só nas paredes, também nos jornais, em tudo o que era espaço noticioso. Curiosamente, a palavra de ordem, teve a aceitação de muita gente; dos pobres, dos desempregados, das pessoas com dificuldades económicas e em particular os operários. Eram uns tempos dificeis esses, foram os primeiros ataques às conquistas dos trabalhadores e do povo português. Julgo que foram os primeiros tempos da governação de Soares, o tempo do “socialismo na gaveta.”

A frase era forte. Não tinha duas interpretações. Era muita clara nos propósitos. Nessa altura, não havia tanto cuidado com o uso das palavras, não havia o politicamente correcto. Dizia-se o que tinha de ser dito. Claro que havia muito populismo, muita demagogia, muitos oportunismos, hoje sinto isso muito claramente.

Os tempos, hoje, são outros. Hoje sabemos mais. Conhecemos "uns passados", de alguma gente. Aprendemos com os erros. Apesar disso, hoje, ainda nos conseguimos deslumbrar, ainda temos o sonho, ainda carregamos muita ingenuidade, mas menos ingénuos, o tempo e a experiência desses tempos, deram-nos muitos ensinamentos.

A grande diferença daqueles tempos para os de hoje é que agora já não se exige, já não se luta, espera-se…

Hoje os ricos são intocáveis, temos receio de ser acusados de invejosos; hoje não lhes são pedidos esforços (que serão sempre pequenos para quem tem muito); não se lhes exige, uma repartição nas dificuldades. Não! Hoje espera-se... a sua solidariedade e compreensão, a sua caridade, a sua compreensão com os mais fracos. Hoje, não se diz aos ricos para participarem, neste “esforço nacional, para desestabilizar esta estabilização, filha da puta”, citando Zé Mário Branco.

Também, não vale a pena, aliás nunca valeu a pena. E Sócrates sabe isso. Mas mesmo sabendo isso, esperava-se que o “corajoso” Sócrates, adoptasse medidas que obrigassem os ricos a contribuir mais. Porque podem mais. Mas não, Sócrates, só toma medidas, contra os pobres. Nem os reformados de miseras pensões, de 500 e poucos euros, escapam a esta fúria e vão começar a pagar IRS. O mesmo vai acontecer com os reformados, a ganhar mil e poucos euros, ao ser-lhes retirado o pequeno benefício fiscal, depois de já lhes terem baixado o valor da aposentação. Comparado com o último salário a maior parte das reformas médias/baixas, baixaram mais de trinta por cento em muito pouco tempo.

É desta vez que os cofres do Estado vão encher e se irá reparar o défice público...

Enquanto isso, lemos que outros, recebem reformas milionárias, para cima dos cinco mil euros, com poucos anos de descontos. Mas esses são deputados e ex-deputados, ministros e ex- ministros, gestores públicos e ex- gestores, directores gerais, juízes, professores universitários, militares, médicos. E como se não bastasse, ainda pretende deixar de comparticipar os medicamentos e não dar o subsidio de velhice, como anunciou, fazendo-os depender dos rendimentos dos filhos. Sócrates esquece-se que as pessoas, os mais velhos ainda têm dignidade e não querem esmolas.

Na alteração das regras de contribuição, para a segurança social, não há uma só medida, uma única, que altere o financiamento das empresas. Um escândalo. Com este sistema, uma empresa em dificuldades, da área têxtil, com cinquenta trabalhadores, desconta mais para a segurança social, do que uma empresa pequena ou média, da área das tecnologias de informação, por exemplo, com 10 ou 40 trabalhadores, mesmo que os lucros sejam milhares de vezes superiores.

Num país em que o fosso entre ricos e pobres se acentua cada vez mais e é o maior da Europa, talvez não fosse má ideia, voltar a pinchar as paredes com a famosa frase; Os ricos que paguem a crise.

Cada dia que passa sinto-me mais radical e esquerdista. Porque será? Eu que me considero uma pessoa moderada, compreensível, colaborante e avessa ao conflito.

Com o PS no poder os trabalhadores têm sido, sempre os mais prejudicados. Mais do que com a direita no poder. O povo português, parece que fica um pouco anestesiado. E a oposição à esquerda, menos acutilante e com especial respeito pela base social de apoio do PS.

A luta não pode deixar de ser feita quando os nossos direitos estão a ser postos em causa. Seja qual for o governo. Não é assim que vamos lá!

Sem comentários: