quarta-feira, maio 31

A culpa não existe?

Ninguém quer casar com a culpa

A culpa não se safa. Ninguém a quer. Nasce, morre e renasce, mas está sempre só. Ninguém gosta dela. Todos a querem longe. Deve cheirar mal. Quem é o pai da culpa? Todos sabemos que ela existe. A culpa anda ao nosso lado. Persegue-nos. Às vezes dizem-nos que todos temos a culpa, que é a maneira de dizer que ninguém a tem. Mas a culpa não anda sozinha! Isso posso garantir. Tem um defeito inato. A culpa anda sempre acompanhada. Hoje anda com um, amanhã com outro. A culpa anda com todos! A culpa anda com muitos ao mesmo tempo. Deve ser por isso que ninguém a quer.

A culpa é uma galdéria.

A culpa tem uma doença contagiosa. Todos já tivemos em algum momento a culpa. A culpa já nos apanhou em qualquer esquina. Nós aí sacudimos a culpa. Nós não queremos que saibam que temos a culpa. Temos vergonha da culpa. A culpa é perigosa. A culpa é má. A culpa traz-nos problemas. Nós temos vergonha da culpa! A culpa não devia existir. Mas a culpa existe. A culpa está sempre presente. Às vezes a culpa é inofensiva. A culpa às vezes transforma-se. Muda de nome. Às vezes chama-se erro. Mas essa metamorfose é uma armadilha. Por trás do erro a culpa mostra-se. Não há forma de fugir à culpa. A culpa está sempre presente. A culpa não nos larga. Não adianta. A culpa está lá. Não podemos fingir que não existe. A culpa existe mesmo! Não há volta a dar. Temos que viver com a culpa. Temos que saber lidar melhor com a culpa! Afinal a culpa só existe porque nós existimos. A culpa existe se formos culpados. Se calhar a culpa não é má. Nós é que temos culpa de termos a culpa.

A culpa não pode morrer solteira.

PS: Este post já o tinha publicado no à esquerda. Sem razão aparente, apeteceu-me recuperá-lo agora. É a vida...


Frases.

"O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade"


Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'


terça-feira, maio 30

O menino-azul

As Palavras não existem
fora da nossa voz as
palavras não assistem,
palavras somos nós.

Gastão Cruz

Começo a não ter palavras. De tantas vezes repetidas, certas palavras, começam a perder importância.

Perdi a paciência. Apetece-me insultar. Bater. Ir ao focinho. Aos poderosos, aos homens do dinheiro, aos que mandam, aos que obedecem, aos oportunistas, aos vendidos, aos chico-espertos, aos ignorantes, aos distraídos, aos que deixam andar, aos que não querem confusões, aos que não é nada com eles, aos falsos humildes, aos que não conseguem ver mais longe do que o seu umbigo, aos que fingem não ver, ouvir ou ler, aos que se põem em bicos de pés. Bater-me a mim próprio, mandar uns palavrões aos amigos. Apetece-me acabar com esta merda toda. Acabar com este mundo hipócrita. Apetecia-me se tivesse coragem, se fosse um revolucionário a sério, deixar tudo e entregar-me a causas nobres. Em todo o mundo. Sem impedimento das fronteiras. Não ter limite. Fosse eu um homem corajoso e completamente desprendido… Mas não, também sou um egoísta. Um oportunista. Não pensasse eu em mim, na família, nos filhos, na mãe. Não fosse eu um cobarde…

Desculpem-me, apenas acabei de ouvir a notícia, à poucochinho, da luta desesperada, persistente, corajosa de uma mãe pela saúde e bem-estar do seu filho. A mãe do menino-azul.

Fico alterado. Fora de mim, às vezes... Especialmente com os senhores de todos os poderes, que não querem resolver, que atiram para canto, que fazem de conta que fazem ou que não é nada com eles. É sempre com os outros. Um nojo!

Espero, bem mais, muito mais dos políticos sérios. Um erguer de voz mais forte. Um bater com as portas.

Espero não ser tomado por mais uma desilusão.


Tragam-me um Hugo Chavez por pouco tempo.

Os Prós e Contras, são Prós e são Contras. São Prós, empresários, Prós, politicas neo-liberais, Prós, ataques a direitos sociais, Prós, às politicas de direita do governo. São Contras, os mesmos de sempre. Os suspeitos do costume. Os direitos sociais. Os salários dos trabalhadores. Os malandros da Função Pública. Os imigrantes

Num é um espaço de debate e confronto ideológico. Sobre as causas da crise económica, do défice público, da má gestão dos dinheiros do Estado, da ineficácia do combate à corrupção e fuga e fraude fiscal. Não é um confronto sobre modelos de sociedade, sobre propostas sobre segurança social, justiça, educação, saúde ou politica de habitação ou urbanismo. sobre políticas de imigração

Não! É uma discussão com dois sentidos, mas todos do mesmo lado. Ontem, por exemplo, na mesa dos Prós (ou Contras) estava Belmiro de Azevedo, na dos Contras (ou Prós) estava Medina Carreira, entre outros. Que diferenças apresentavam estes homens entre si? Nenhuma!

A Fátima Campos, presta-se a um papel rídiculo. Escolheu um lado e já nao o esconde. Não tem problemas em não ser imparcial. Tem prestado um optimo serviço às políticas neoliberais. Parece que não há alternativas neste país. O seu programa é sempre muito diversificado... com os mesmos de sempre.

Eu quero ser Iberista, Europeísta, Internacionalista, chamem-lhe o que quiser. Vá, consultem lá o dicionário, para saber o que isso quer dizer. Eu estou-me nas tintas. O que não quero é um país de Medinas, Belmiros, Belezas, Constâncios, Vitorinos, Van Zeller, Carrapatoso, Ulrich e outros que tais, unidos no "compromisso Portugal". Estou farto desta gente! Tão sabedora, tão competente, tão propusitiva que só descobriram agora que andamos mal há trinta anos. Com eles, nos Governos, nas empresas, nos partidos, mas a culpa é dos outros. Quais outros?

segunda-feira, maio 29

Massacre de Iraquianos por "marines", mata, homem, mulheres e crianças.

A 19 de Novembro de 2005, vinte e quatro civis iraquianos, segundo uma versão posta a correr, na imprensa internacional, teriam morrido, numa explosão acidental, em Haditha.

Numa altura em que estão prestes a ser divulgados os inquéritos a esse acontecimento, subsistem os relatos de sobreviventes a afirmar, ter sido um massacre dos marines, em retaliação contra a morte de um marine, numa explosão à beira de uma estrada.

Segundo esses relatos, os vinte e quatro mortos civis, foram alvejados a tiro, à queima-roupa, atingindo, homens, mulheres e crianças, indiscriminadamente, conforme dá conta o Washington Post, de há uns dias. O Times também já, em Março deste ano, tinha posto em causa a veracidade da versão “oficial” da explosão, dizendo mesmo que a "Al-Qaeda, estaria a usar uma gravação do massacre, para incendiar ainda mais as ânimos, em mesquitas, na Síria, Jordânia e a Arábia Saudita", conforme relata, o correspondente do DN na edição de hoje.

Esta vergonha, na sequência das torturas na prisão de Abu Ghraib, vem colocar em causa a preparação das forças do Exército americano no Iraque e reafirmar o absurdo de uma guerra que parece não ter fim.

Tal como muitas vozes que já levantaram pelo mundo inteiro, subscrevo, a opinião de que os mandantes desta guerra deveriam ser sujeitos a um Tribunal Penal Internacional e acusados de crime contra a humanidade. Não faltam razões para incriminar, bandidos como, Bush, Blair e Cª.

Cerveja faz bem à saúde [Link]

E ao contrário do que dizem, não faz ganhar aquele odioso "perímetro abdominal."
Ora aqui está uma notícia oportuníssima. Não podia ter saído em melhor altura. Os apreciadores de cerveja, agradecem, muito. A indústria cervejeira, ainda mais.
Uma caneca, faz favor!

domingo, maio 28

A auto-defesa nos Tribunais

Leio no Público de hoje uma crónica do advogado Francisco Teixeira Mota, sobre a história de um Português que, perante os tribunais, se queria defender pessoalmente e recorreu a todas as instâncias, desde os Tribunais de Relação ao Tribunal Constitucional, sempre a negar-lhe esse direito, e por fim ao Comité dos Direitos de Homem das Nações Unidas que lhe deu razão e "pediu" explicações a Portugal, afirmando, ao mesmo tempo, que a legislação portuguesa ao proibir “cegamente” a auto- defesa, é muito restritiva e viola o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. Acabou por dar um prazo de 90 dias, para Portugal informar se alterou a legislação que conceda esse direito em lei aos cidadãos.

Acho muito importante esta decisão. E elogio a atitude deste cidadão que não se conformando com as decisões dos tribunais, recusou recorrer a um advogado (ele próprio era advogado, mas tinha a inscrição suspensa, por exercer, uma outra actividade, como revisor oficial de contas, considerada não compatível) e não aceitou a nomeação de um advogado oficioso (acabando por ser condenado a uma multa e uma indemnização ao magistrado, pela qual era acusado de ofensa) num julgamento que teve de se realizar.

Isto faz-me lembrar um caso ocorrido comigo, em que pretendi recorrer a uma penhora ao meu carro, por alegadamente, não ter pago uma multa. Eu desconhecia a existência dessa multa que teria acontecido, soube depois, na participação de penhora, há cerca de três anos atrás, devido a estacionamento, feito em lugar proibido no parque do Hospital.

Nunca recebi, nenhuma participação da multa. Segundo me informaram no Tribunal teria o registo de terem sido emitidas três participações para a minha residência através do correio.

Ora eu tinha mudado de residência e comunicado, (até costumo ser distraído nestas coisas) para a Direcção de Viação e Trânsito, a alteração de morada. Tinha já a nova carta de condução anterior à multa, com a nova morada, contudo, apesar disso, todas as participações foram para a antiga morada. Curiosamente, já a comunicação da penhora, foi enviada para a actual morada.

De nada adiantou a minha reclamação. Ainda pretendi seguir para a frente com o processo. Disseram-me que a participação, teria de ser feita por um advogado. Não percebia, porquê. Diziam que era da lei. Falei com um advogado amigo, ele confirmou. Acabei por deixar o processo assim. A multa, depois da penhora, subiu de 80 e tal euros para 300 e tal.

Não quis incomodar esse meu amigo. Porque não concordava que tivesse de ser um advogado a defender-me. Achava que neste caso simples, eu teria, a capacidade de me defender. As leis não me permitiam. Acabei por pagar a multa contrariado. Porque não quis envolver um advogado, nem pagar as custas dos processos. Aborrecido quis pagar logo ali a multa, mas disseram-me que não era possível. Só na Caixa Geral de Depósitos e tinha de ser em dinheiro, não podia ser através de cheque de outro banco. E depois do pagamento, ainda tinha de levar lá o confirmativo do pagamento. Aberrações. Ainda perguntei se não tinham lá um sistema de pagamento por Multibanco, tal como qualquer pequena loja, onde se faça compras. Disseram-me que não. Não tinham esses equipamentos “modernos”. Bem, lá tive que ir levantar o dinheiro a uma caixa de Multibanco, dinheirinho certo na mão e lá fui para a fila do banco. Foram largas horas perdidas.

Nisto tudo, parece que eu também teria cometido um lapso, por ignorância: é que além de comunicar a alteração da morada à DVT, teria, também de a comunicar ao registo de propriedade. Burocracias. Nada que o Simplex agora não resolva. Ainda nã há cruzamento de dados entre instituições públicas que interagem. Mas, aquilo que a polícia não foi capaz de resolver, encontrar a minha nova morada, por sinal na mesma freguesia, o Tribunal à primeira tentativa, descobriu-a, onde a Polícia devia ter recorrido, à Direcção de Viação e Trânsito.

É simplesmente fantástico este nosso país. E alguns funcionários burocratas.


sexta-feira, maio 26

Porque tenho um blogue?

São várias as razões. Mas, eu não quero revelar as minhas fraquezas...

Prefiro que seja quem me visita a dizer.

Estejam à vontade. Digam-no com toda a franqueza.

Convido todos a este exercício, a dizer alguma coisa.

Mas digam apenas um motivo... bem podem dizer mais que um, mas não exagerem.

Já deixei umas pistas sérias... para vos ajudar.

Podem assinar com outro nome. De preferência. Para não condicionar as Vossas respostas.

Tenho curiosidade em saber a vosso opinião! Uma opinião séria!

Conheço-me bem, creio eu. Quero saber se também me conhecem... mais ou menos. Eu depois digo o que acho das Vossas opiniões. Prometo. Com verdade. A minha verdade.

Quase de férias ... do blogue

Venho do ginásio (sim, agora faço ginásio), doi-me o joelho, (fiquei quase sem dúvidas, vou ter de ser operado outra vez) vou comer qualquer coisita, depois vou ao café à praia Norte (o meu café de todos os dias), talvez vá à praia (está um dia bom, mas começa a ficar tarde) vou comprar a tabela das marés, pois está a começar a minha época de pesca e depois passo pelo emprego da minha mulher e vimos para casa. À noite ainda não sei como vai ser. E vou, nestes dias, até ao fim de Agosto, tentar manter este ritual.

Entretanto, juntamente, com a Adelaide Graça, até Junho, estaremos preocupados em organizar, uma grande apresentação do novo livro do Álvaro de Oliveira. Em Viana, se tudo correr bem, vai decorrer por ocasião da feira do livro. Em V.N. Cerveira, será antes.

Entretanto, ainda tenho de convencer o Álvaro, a não ser eu a apresentar o livro. O Álvaro deu-me essa honra, mas não me sinto à altura, sem falsas modéstias.

O meu "poema" do post anterior, também quiz dizer alguma coisa. Foi uma deriva à linha habitual. Não liguem. Estou um pouco saturado. Só queria não pensar, por uns tempos. A minha participação no Blogue vai, assim, rarear. Ficam com os restantes colaboradores, espero, que são muito bons.

Um poema não aconselhável a pessoas muito sensíveis. Porque me apetece.

Quero-te!

Quero teu corpo
Quero teu seio
Sentir teu gosto
Sentir teu cheiro
Quero teu sorriso
Quero tua boca
Sentir teu grito
Sentir-te louca.

Vem
Vem até mim
Vem ao meu encontro
O tempo não vai ter fim
O tempo vai ser longo...

Na cama no sofá no chão
Na duna na praia no vão
No carro no pontão
Na mesa no postilhão
No que estiver à mão.

Seduz -me...
Reduz-me…
A pó.

Arrisca
Petisca
Não estarás só.

Eu quero.

Amar
Acarinhar
Afagar
Apaparicar

Eu quero.

Adular
Vibrar
Sonhar
Fantasiar
Lambuzar
Entesar

Eu quero.

Foder...

Soltar a fera que se esconde em mim.

Dar-te meu sexo,
Duro, teso, excitado,
quente.

Dar-te um néctar.
Para provares,
Para beberes,
Se gostares...

Até à saciação!

Fernando Marques


quinta-feira, maio 25

A guerra civil em Timor?

Os graves incidentes em Timor poderão não significar uma guerra civil, mas significarão um conflito sério sobre o qual incidem as maiores perplexidades.

Timor vive um momento delicado e está a fechar acordos internacionais para a exploração de petróleo. Há grupos económicos preteridos, entre os quais a GALP. Até que ponto os preteridos estarão a influenciar a actual perturbação?

Xanana Gusmão, Comandante Supremo das Forças Armadas, chamou a si «todo o controlo da segurança do país». Facto que desagradou ao primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri. Alkatiri, que tinha acabado de vencer um congresso onde as eleições se fizeram de braço no ar, parece ter sido desautorizado, pede apoio militar a vários países estrangeiros.

A Austrália, que demorou anos a reconhecer os direitos petrolíferos de Timor, demorou horas a desembarcar no aeroporto de Díli. "Pura vontade de ajudar"!

Adelino Gomes, num texto publicado no Público de 24 de Maio, lança algumas interrogações pertinentes. Depois de criticar a atitude sobranceira da ONU sobre os próprios timorenses reforça a importância do diálogo e faz notar que o governo não informou os partidos, que Xanana Gusmão "ainda não sentiu necessidade de convocar o Conselho de Estado", que os bispos não sentem necessidade de "apaziguarem o povo".

No conflito timorense sobram vontades de disparo e faltam vontades de diálogo. É neste conflito interno que o governo português decide, com o apoio de CDS, PSD, PS e PCP, enviar uma força militar ou militarizada para Timor. Sem sequer o ministro dos Negócios Estrangeiros passar primeiro pelo parlamento para explicar "qualquer coisinha".

A mediação política é a condição fundamental para o não agravamento do conflito - respeitando as opções do povo timorense.

Victor Franco

Não... porque sim.

Luandino Vieira, disse não. É um não, querendo mesmo dizer… não!

É um não mesmo. Foi um não bem sonoro, embora dito muito baixinho. Com respeito. Quase pedindo desculpa. Mas um não incomodativo. Foi um não, sublime. Um não, digno. Um não, que não se usa. Um não, grandioso.

Luandino Vieira, não quis receber o galardão do maior prémio da literatura lusófona, o Prémio Camões. Luandino Vieira, não quis receber, os 100 mil euros do prémio.

Rendo-lhe a minha homenagem. Por dizer não. E por dizer não… porque sim.

Luandino, se calhar não existe. Fisicamente, sim, está aqui próximo, em Vila Nova de Cerveira e escreve, passeia, cumpre alguns rituais; andar pelos montes, pelas calçadas, falar com os animais, com os pássaros, sorrindo, cumprimentando. Um grande senhor, posso afirmar eu que não o conheço, a não ser pelo nome e de quem nunca li um único livro. Não me interessa o motivo porque disse não! O que me arrebata a alma é o gesto. O desprendimento. A grandiosidade de recusar o Maior Prémio da literatura e de recusar 100 mil euros.

Luandino, tem um mundo. Um mundo que não é o nosso. Um mundo que só deve ser habitado por pessoas muita boas. Como ele.

Luandino disse não! Quando é difícil dizer não. Disse-o, singelamente, como poucos o diriam. Discretamente.

Luandino merece este reconhecimento. Não o fiz quando ganhou o prémio. Faço-o agora que teve a nobreza de o recusar porque sim. A minha sincera homenagem.

Gostava de conhecer Luandino. Gostava que houvessem muitos Luandinos.

José Vieira Mateus da Graça, o galardoado José Luandino Vieira

O Galardão da Literatura Portuguesa 2006 bateu à porta de Luandino Vieira. Entrou na Vila das Artes, que é a mesma Vila de Cerveira.

Porque sou desta Terra nascida e lá residente... Porque tenho o privilégio de "conhecer" Luandino Vieira, por quem nutro um especial apreço, fiquei naturalmente feliz por o grande Camões chegar a Cerveira na pessoa de José Luandino Vieira.

Há pouco mais de uma década, Luandino escolheu este canto encantado das Terras de Cervaria como retiro de todos os dias. Quer num moinho pautado pelo rio S. Lourenço, quer no mítico convento de S. Paio do escultor José Rodrigues, o escritor encontra aqui a alcova ideal para a sua libertação.

Apesar do seu dia a dia recatado, cuidando das árvores e da sua privacidade, criando o vínculo com os outros através da sua obra, a mesma Terra e a força das palavras escritas fizeram o ponto de encontro entre mim e o Luandino. E não são necessários muitos encontros e muitas palavras para bebermos dele uma sabedoria fantástica, uma filosofia de vida contagiante.

Não fiquei surpresa com a atribuição do Prémio Camões, porque lhe é conhecido o mérito. Não me surprende a recusa do Prémio, porque o Luandino é despido de protagonismo, é incompatível com este "Mundo". A sua atitude perante a vida está num patamar acima. Não é ele que o diz. Naturalmente, fá-lo sentir através do seu bom ar sereno e inibido, das parcas palavras cheias.

Para além da sua vasta obra, a biografia é também prenhe desde que se tornou cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional e contribuição no nascimento da República Popular de Angola. Exerceu diversas profissões até ser preso em 1959, novamente em 1961 por 14 anos. Em 1954 foi transferido para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde esteve 8 anos, donde saíu em 1972 em regime de residência vigiada em Lisboa, altura em que iniciou a publicação da sua obra, a maior parte escrita nas diversas prisões. Depois da Independência foi nomeado para a Televisão Popular de Angola, que organizou e dirigiu de 1975 a 1978; para o Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA que dirigiu até 1979; para o Instituto Angolano de Cinema que organizou e dirigiu de 1979 a 1984. Como membro fundador da União dos Escritores Angolanos exerceu a função de Secretário-Geral Adjunto da Associação dos Escritores Angolanos Afrosiáticos, 1979 a 1984 e de 1985 a 1992 foi Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos. Após as eleições em 1992 e do recrutamento da guerra civil abandonou a vida pública passando a dedicar-se à literatura.

O que sei de Luandino é mais o "gosto" que fica das palavras.

Adelaide Graça

quarta-feira, maio 24

Nem sempre sou igual...

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,

Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

Álvaro de Campos
(Guardador de Rebanhos XXIX)

terça-feira, maio 23

Há uma mulher a perseguir-me. Vejo pela sombra.

Parece que é forte como um rio que derruba as margens que o condicionam. Terá bigode ou alguém há-de dizer, que tem. Não consigo deixar de pensar nela. Sempre que abro o Blogue lá está ela, uma vez mais, sempre mais. Até, poderia ser uma pessoa interessante. Mas não é ou não quer ser. Não é esta! Agora, vou para a cama. Para não dormir a pensar nela, vou com esta imagem nos olhos. É bem mais agradável. A sombra fica. Amanhã encontramo-nos, no sítio do costume.


Caros amigas e amigos, leitores e comentadores do Blogue, desculpem-me o devaneio. Isto passa! Até lá paciência, podem sair mais coisas destas. Se bem que não me desagrade esta ideia...

O acesso à Internet

A Portugal Telecom anunciou ontem, o aumento da velocidade do acesso à Internet em banda larga, de dois para quatro mega bits por segundo. Há poucos anos, a velocidade oferecida, era de 512 Kbits. Estamos perante, um aumento de velocidade quatro vezes superior à primeira oferta. Esta alteração da velocidade e também algumas mexidas nos limites de tráfego são positivas, sem dúvida, tendo, em conta, especialmente, que os preços se mantiveram inalterados.

Os outros concorrentes da PT há muito que anunciaram a oferta de velocidades superiores e também preços mais baixos. O presidente da PT, Henrique Granadeiro, tem razão, quando afirma, que os concorrentes da PT, “dizem que vão fazer e depois não fazem. Nós primeiro fazemos e só depois anunciamos.”. Tem razão. Não tem razão é noutros aspectos.


Na verdade, não passa um dia, em que não ouçamos, principalmente, pela Clix, de Belmiro de Azevedo, anunciar velocidades e preços espantosos e depois, ou a oferta não está disponível, (são conhecidos casos de inscrições à largos meses) e nos poucos sítios onde o serviço existe, é uma logro.

Apesar de positiva esta medida da PT, também não deixa de constituir uma manobra de propaganda e em alguns casos de uma falácia. Esta oferta da PT é para os clientes residenciais com ligações, através do Sapo ADSL e Netcabo, segundo a notícia do DN de hoje.

Um estudo da Anacom, em Janeiro deste ano, concluiu que as medidas da velocidade do tráfego efectuadas, não atingem as velocidades máximas anunciadas e prometidas.

No ADSL, isto acontece porque a transmissão se faz através de um suporte fixo, a linha telefónica, e esta não consegue assegurar um comportamento linear devidas às condições técnicas da linha telefónica que não sendo impeditivas para o uso da telefone são fatais para a Internet.

Outros aspectos a ter em conta são:

1) a distância entre, onde está instalado o ADSL, até ao ponto de acesso de todos as ligações (as instalações da PT). Quanto maior for essa distância pior velocidade se consegue obter;

2) a largura de banda disponível, entre pontos de acesso diferentes, por exemplo entre Viana e Braga; (a soma individual dos acessos, não é igual à largura de banda existente, entre estes dois pontos, o que é justificável do ponto de vista da gestão financeira. Os utilizadores, não usam a Internet em simultâneo.

3) assim a disponibilidade da taxa de ocupação simultânea, é um aspecto muito importante ao diferenciar as propostas dos operadores com reflexos na qualidade das ligações. Em períodos de maior utilização, haverá mesmo congestionamento, a quem estiver ligado a operadores com menos largura de banda, nestas interligações;

4) O estado das condições físicas da linha telefónica (a secção dos condutores, os fracos isolamentos, entre condutores ou à terra, são muito condicionadores da velocidade e da flutuação do sinal.

No caso da Netcabo, o problema principal, reside na largura de banda ser partilhada, por pequenos concentradores, por zonas geográficas e por isso está mais dependente do uso mais ou menos intensivo, de cada um dos clientes ligados.

Assim e para arrefecer alguns ânimos, convém desde já que fique claro, que se um Cliente, hoje, não consegue atingir velocidades ao nível da velocidade contratada, devido, à distância da sua linha telefónica, ao ponto de acesso da PT, não irá ter, por este aumento, maior velocidade, qualquer que seja a largura de banda que se divulgue como disponível. Do mesmo modo, se não for aumentada a largura de banda, para o caso das interligações entre pontos de acesso, dificilmente vão notar diferenças.

Queria, neste post, abordar um outro aspecto, ligado com o preços das ligações e dos equipamentos, mas dada a extensão deste, já não o vou abordar. Deixo apenas as ideias que pretendia desenvolver:

1) O serviço do acesso à Internet, em banda larga, deveria ser considerado um serviço público e os preços de acesso, deveriam ser simbólicos ou gratuitos, para permitir o uso amplo desta tecnologia;

2) Os computadores, tal como acontece com os packs de telemóveis, deveriam ser subsidiados com preços, associados, PC + Internet, a um custo insignificante.

A Sapo tem uma oferta deste tipo, mas, nem os preços altos do serviço ADSL, nem a oferta de equipamentos são tentadores.


Democracia sindical

"Se eu tivesse uma varinha de condão transformava os ratos em homens»

Bruno, 3º ano

O combate pela democracia sindical (leia-se ORT's) está hoje, mais do que nunca na ordem do dia.

Usada e abusada por todos, a expressão tornou-se rotineira, num lugar comum... Fragilizou-se!

Muitos trabalhadores, revolucionários convictos incomodam-se com a referência à "democracia sindical", porque, indevidamente (oportunistas) os sindicalistas conotados com a direita colaram-se como lapas à expressão. Para se distanciarem, para não permitirem confusões, os revolucionários têm tido alguns pruridos em usá-la. Não sei porquê? A democracia não é património da direita. (Nem dos serventuários dos patrões que se prestam a criar sindicatos, a torto e a direito, invocando precisamente a falta de democracia interna nos sindicatos tradicionais.) A defesa da democracia sindical é inequivocamente um dever de todos os que se propõem construir uma alternativa sindical.

Não há alternativa viável, por mais combatividade que reivindique, que possa descurar a democracia sindical. Para além de que quem não exercita a pratica sindical democrática, simultaneamente representativa e participada, logo na própria casa, na construção da alternativa, na composição da lista, na discussão e na aprovação do programa de acção, não está em condições de a defender e de fazer dela um ponto de honra.

Não há estatuto sindical, do mais ortodoxo ao mais liberal, que não contemple um artigo onde faz o seu "compromisso de fé" à democracia. Porem a democracia sindical, tem que ser uma força intrínseca, genética até. A democracia não se compadece com meras "profissões de fé". A democracia tem que ser a estirpe do sindicato, da CT, do movimento alternativo e não pode sujeitar-se a projectos pessoais, às manhas e matreirices dos que a todo o custo se querem perpetuar. Mas se, por um lado não pode ser trampolim ou estar sujeita a modas, a verdade é que não a podemos deixar cair. A democracia sindical é uma exigência ética e uma questão civilizacional.

Impõe-se de imediato a intransigente defesa do método de Hondt para todos os órgãos sindicais, a limitação de mandatos e a marcação de lutas por voto secreto. Sem estas premissas não há democracia sindical, sem elas o lento definhar dos sindicatos, tornar-se-á irreversível. Ainda que, pontualmente possa haver, mediante circunstâncias muito particulares, compromissos tendentes a alcançar estes objectivos, sem os expressar claramente, o projecto só é valido se, os revolucionários envolvidos se comprometerem, por escrito se necessário, a tudo fazer para instituir estes princípios. Tudo o mais o mais não passa de desabafos ou desculpas, quiçá esgares pútridos de quem tem tirado ou quer vir a tirar proveitos da situação.

[Para facilitar a vida aos meus detractores, cito a opinião do actual secretário-geral, então Membro da Comissão Política do CC do PCP, Jerónimo de Sousa, inserta no «O Militante» Nº 267. Diz ele: «Em relação ao método de Hondt, (...), o argumento é que isso se faz em todo o lado (?) permitindo, assim, mais democracia. O que se propõe é a «salamização» das direcções sindicais, as fracções, os chefes de fila, a parlamentarização e a partidarização do movimento sindical.

A ideia de que com tal método finalmente haveria democracia no movimento sindical e em particular na CGTP-IN conduz-nos inevitavelmente e de forma exemplar à «democracia» existente na UGT, onde tal método se aplica.

O que a vida comprova é que a democracia sindical se mede pelo envolvimento, grau de participação e intervenção dos trabalhadores, de activistas e dirigentes sindicais a todos os níveis da estrutura, pelo trabalho colectivo, o papel de Direcção e a justeza das suas decisões e orientações.

O que alguns pretendem é lugares para «ter, para estar e para mostrar» e não tanto para intervir, agir na defesa dos princípios e do projecto consubstanciado na CGTP-IN, tentando comprometer a forma criativa como todos e cada um têm sabido respeitar equilíbrios e sensibilidades, erigindo como prioridade a unidade necessária para desenvolver a acção em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores.»

Exposta a opinião do ex-operário (há muitos, muitos anos que não sabe o que é trabalhar no duro) e actual líder do PCP, espero sinceramente ser poupado a resmas de citações de documentos oficiais desse partido e possamos ter um debate sério, desapaixonado até, sobre a democracia sindical.]

No fundo é meu entendimento que:

Se possa ser contrário à introdução do método de Hondt na vida dos sindicatos, contrário à limitação de mandatos, acérrimo defensor do "braço no ar", mas ter inteligência suficiente para perceber o contexto das propostas e a sinceridade delas; que se possa ser de esquerda e não estar de acordo com as propostas, com as sugestões – que nem são minhas, outros mais empenhados que eu, as têm defendido ao longo da vida – e ter o discernimento para as entender como uma tentativa para estancar o definhamento; que possamos ter a ingenuidade de acreditar que na blogosfera também à espaço para debates elevados e, finalmente, pode-se ser tudo o que se quiser, que nada alterará substancialmente a realidade sindical e por consequência os nossos direitos, se desistirmos, se nos acomodarmos, se nada fizermos para alterar este estado de coisas.

Para terminar, lembrando que há peditórios para os quais não dou, quero, ao contrário do que alguém quis ler no meu ultimo post, reforçar que da minha parte não há desistência. Aliás, correndo o risco de ser tomado por «um gajo preocupado em cultivar a auto-imagem» ou por «um dos iluminados e incompreendidos auto-proclamados líderes do “sindicalismo de combate” verbal» que se «aproveita(m-se) da blogoesfera para se auto-promover(em)», apesar destes carinhosos epítetos, repito a citação de Manuel Alegre, com que terminei o anterior:

"Não há outro sentido senão este, lutar até ao fim. Um homem não se rende", muito menos vacila perante os "funcionários da esperança, [porque estes] são verdes… da cor dos ratos" (*1).

Seria, neste tão difícil momento, no momento em que o neo-liberalismo aparece triunfante, seria bom repito, ter presente, que podemos uns e outros, não seguir os caminhos convencionais, ignorar as cartilhas, desconhecer o "a, bê, cê", mas percebermos que a combatividade não se mede por aí. Mede-se por resultados e, os que conhecemos não auguram nada de bom para os trabalhadores deste país, desta Europa, do mundo que nos cabe partilhar.

Mas, se eu pudesse transformava-os, [aos funcionários da esperança] como pretende o Bruno, em seres humanos.

Mas não posso e eles não querem!

José Carrilho

(*1) José Fanha

segunda-feira, maio 22

A guerra civil em S. Paulo

Policiais do GOE realizam operação na favela do Jardim Elba, na zona leste de São Paulo - da folha Online de S. Paulo


A guerra que se desencadeou no Estado de S. Paulo assumiu contornos que merecem uma reflexão a que estas linhas não têm pretensão.

Mas vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar.


As contradições sociais atingiram, no Brasil, um elevadíssimo grau. O Estado tornou-se numa brutal máquina de transferência de capital e de financiamento da propriedade capitalista. Financiamento “legal” através dos orçamentos e das legislações a isso destinadas, mas também financiamentos ilegais e corrupções generalizadas e abertamente conhecidas.

A corrupção percorre o Estado de cima a baixo.

O Estado brasileiro tornou-se no paladino do Estado neoliberal – quase só assegura o aparelho repressivo e militar. Serviços públicos são quase inexistentes, direitos sociais a mesma coisa, e a lei é coisa muito ignorada.


No Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre assisti a duas cenas dignas de registo. A primeira passou-se no pavilhão Gigantinho, enquanto decorria uma conferência com Tarik Ali, Leonardo Boff e outros. Um cidadão ostentado um placard na frente do corpo e outro atrás anunciava que vendia um rim para ter dinheiro para curar a perna. Esta, com aspecto de gangrena, não deixava muitas margens de dúvida. O outro passou-se no lugar onde as delegações se juntavam para comer. Um jovem acercou-se da mesa ao lado da minha e perguntou à pessoa se já tinha acabado de comer. Tendo obtido resposta afirmativa o jovem começou a comer os restos de comida dessa pessoa. E assim fez por mais algumas mesas.


No Brasil cresceu a miséria social e uma exclusão em massa acompanhada de caos urbanístico completo. Nesse caos urbanístico cresceram territórios sem lei – ou melhor, sob a lei dos chefes dos bandos de criminosos.

Em nome da luta contra esses bandos, a polícia acumula violações sistemáticas dos direitos humanos, assassínios indiscriminados, matanças conhecidas internacionalmente. Para muitos milhões de pessoas o território mais seguro é precisamente o seu gueto, a sua favela.


O comércio de droga, a clandestinização e a criminalização do toxicodependente empurram-no para os braços dos traficantes e alimentam os fabulosos lucros deste comércio. Ao mesmo tempo alimentam o poder e financiam a militarização dos bandos.

No interior persiste escravidão e trabalho forçado e altamente reprimido. Muitos activistas acabam às mãos de jagunços e exércitos privados. Alguns, depois de lhes cortarem os pulsos, são atirados vivos para os rios com piranhas. Os activistas do Movimento Sem Terra somam mártires todos os meses ante a impunidade quase total dos seus assassinos materiais e morais e a divagação de Lula da Silva.


Na linha do conservadorismo ideológico o povo rejeitou, em referendo, a restrição do acesso à posse de armas. A arma é um sinónimo de segurança – mas o país tem o maior índice mundial de mortos por armas de fogo.

Os acontecimentos de S. Paulo fazem soar as campainhas da esquerda. É verdade que o crime deve ser submetido à lei e à repressão, mas também é difícil de entender que depois de toda aquela escalada de violência o governo estadual acabe negociando com os chefes dos criminosos. Ou será que é os criminosos negociando entre si?


É necessário atacar as causas. Para isso são precisas políticas sociais públicas, serviços públicos de qualidade para toda a população, trabalho, nova política de urbanismo... e novas respostas na luta contra o negócio da droga, nomeadamente, retirando os toxicodependentes da dependência do traficante através da distribuição estatal do produto…


Victor Franco


domingo, maio 21

O protocolo de Estado e a Igreja católica

Não sou religioso. Mas estou inscrito nos cadernos da igreja católica. Sou portanto um dos milhões de católicos de todo o mundo. Apesar disso não tenho direito a voto ou de opinião. Não estou em nenhuma estrutura da organização, desconheço os seus estatutos, nunca fui convidado para participar em qualquer reunião ou nas escolhas das ideias ou dos órgãos directivos. Não gosto por isso da Igreja. Não gosto de nada que não tenha nas suas causas a democracia e a participação. Dizem-me que posso aparecer aos comícios dos domingos. Mas também não gosto de comícios.

Os meus filhos não estão baptizados. Já podiam estar se quisessem. Já têm idade para pensar e decidir o que é melhor para eles. Não interfiro, apenas dou opiniões se as pedirem, algumas vezes também dou, mesmo não as pedindo, mas poucas vezes mesmo. Os meus filhos são uns “safados”. Não me ligam muito. Só um bocadinho, um poucochinho mesmo. Lembram-se no dia de anos, no dia do pai, quando precisam de dinheiro (mentira). Apesar disso sei que algumas coisas importantes estão lá. Apesar de poder não parecer. Amigos, solidários, bons rapazes, enfim.

Ainda são uns jovens. Um tem 26 anos o outro 23 anos. Não estão baptizados, mas ainda vão a tempo, se quiserem e em que religião quiserem. Por mim tudo bem. Não lhes impus nada, muito menos agora. O Raio dos rapazes. nem sequer estão recenseados... que vergonha!...

Tive uma educação católica, pouca mas tive. A minha mão é católica, mas deixou de ir à missa à muitos anos. Apenas reza por nós. O meu pai, um dia, passou a ser Testemunha de Jeová, mas o meu pai, tinha “pancada”. Aos meus filhos, disse-lhe que iam ser… nada, até eles terem idade para decidir. Parece que se dão bem assim. O mais novo ainda teve uns pequenos problemas nas escola com uma professora de português que punha os rapazes a rezar, o Pai Nosso, antes de dar inicio às aulas. Ele bem dizia, – “mas Pai, eu não conheço a letra, só conheço a música? Deixa lá filho, mexe com os lábios. Quem não foi nessas tretas foi a mãe de uma rapariga que era muçulmana. Foi lá e acabou com a brincadeira.

Bem, mas tudo isto para dizer que não posso aceitar que os Bispos venham agora a apelar ao Presidente Cavaco que vete a lei que reordena o protocolo do Estado. A igreja católica não quer perder a cadeira à esquerda destacada do senhor Cardeal. E não quer perder um lugar de destaque na hierarquia do protocolo.

Deixem-se de merdas. A Igreja católica já tem demasiados privilégios. Não pagam impostos. Tem prerrogativas especiais com base na concordata. Tem as televisões a dar missa aos domingos, tem aulas de religião (católica) e moral, tem a reverência patética dos órgãos executivos do governo, dos partidos da direita, de muitos políticos e um inexplicável silêncio do PCP que nestas coisas não gosta de dizer o que pensa.

A igreja católica não tem que ter direitos especiais. Não tem que ter vantagens sobre outras religiões. Não tem que ter mais vantagens que o grupo associativo e cultural da aldeia, do grupo de teatro da terra, dos grupos desportivos amadores que formam os jovens. A Igreja, a religião, qualquer que seja, deve ser tratada por igual, ou seja, sem nenhuma vantagem adicional, separado do Estado.

As Igrejas ou religiões deviam estar fora destas cerimónias protocolares.


Acabou a minha paciência.

A Margarida a partir de hoje não mais terá respostas minhas, a comentários seus. Acabou. Gosto do debate, gosto do confronto de ideias, aprecio a polémica. Já aqui mantive debates importantes. Com pessoas de esquerda, pessoas de direita, pessoas do contra, pessoas a favor, mas sempre debates civilizados.

Lembro-me de um, travado num blogue, assumidamente de direita, a propósito do aborto e da homofobia. Nunca poderíamos chegar a acordo. Os campos estão demasiados extremados. Mas apesar disso, até que cada um de nós, esgotasse a sua argumentação, em defesa das suas posições, a discussão travou-se com elevação.

Também não esqueço outro, sobre a sustentabilidade da Segurança Social. Foi um debate exigente. Do outro lado estava um economista ou estudante de economia. Ele estava mais habilitado nas questões eminentemente técnicas. Eu nas questões mais políticas. Ganhamos os dois com o debate, disse-me ele, no fim, em jeito de comentário.

Ele "ganhou" porque, com uma visão mais técnica e se confrontou, com outra visão, mais política, mais terra a terra, mais do quotidiano das pessoas, uma visão de alguém de "fora" do seu circulo mais próximo, mas também, passe a imodéstia, porque o seu oponente era alguém que tem acompanhado bem e com uma certa profundidade este tema. Eu também "ganhei", porque o "adversário" era dificil, competente, conhecedor e obrigou-me a pensar muito, a repensar melhor a minha argumentação, a estudar ainda mais o problema. Ficamos por isso "empatados."

Foi uma polémica extremamente saudável e enriquecedora. Mas foi um debate educado, de respeito mútuo, humilde, tentando cada um de nós perceber as posições do outro. Terminou sem chegarmos a acordo em muita coisa. Mas concordamos, em bastantes aspectos.

É disto que eu gosto, meu povo. Sem extremismos, sem "querer" ganhar, procurando o esclarecimento, com cada um a defender, civilizadamente, as sua propostas, a apurar a sua argumentação, a estudar melhor os assuntos a melhorar a capacidade de escutar as outras opiniões, tentar perceber e respeitar a opinião dos outros, por muito discordantes que sejam.

É possível, diz-me a minha experiência, falar com quem quer que seja desde que, os interlocutores, sejam sérios e pessoas de bem.

Com quem não consigo debater é com a Margarida. Ponto final. Não vou dar mais justificações. Quem quiser perceber tudo, terá que ler os seus, os meus e os comentários de outros.

A Margarida (continuo a chamar-lhe este nome) é alguém com quem não se consegue ter um debate. Ela não é séria intelectualmente. Mentiu, omitiu, truncou, confundiu, fez de conta que não percebeu, fugiu às questões, respondeu só ao que lhe interessa, recorreu, muitas vezes ao insulto. Infelizmente, em determinada altura, já não parecia eu que estava a responder-lhe. Ainda fui pacientemente aguentado o barco. Não consigo mais.

Há quem, como o Daniel e a Isabel se cansassem mais depressa. Ela não está por aqui inocentemente. Ela tem um objectivo definido. Ela não quer discutir ideias. Quer atacar pessoas e um partido e propagandear outro. Que continue.... Por mim não terá mais respostas. Diga ela o que disser. Não quero, passar a vida a responder a comentários dela. Tenho mais que fazer. Quero o Blogue de antes da Margarida.

Já tinha pensado nisto, estarei agora, porventura até a repetir coisas que já escrevi num post anterior intitulado "A Margarida, cansa-me." Agora é mesmo. Já não dá mais para aguentar...

Não quero compactuar com faltas de educação e o desrespeito. Não quero falar mais com a Margarida. Não quero responder a mais comentários seus. Ela que continue a fazer e a dizer o que quer. Espero que um dia se canse por falta de interlocutor.

Espero conseguir cumprir esta palavra. Até aqui não tenho conseguido resistir às sua provocações. Não, agora não, não vou mesmo comentar mais.

sábado, maio 20

Retirar o subsídio de férias aos pensionistas? Bárbaros!

Segundo o Jornal de Notícias “o secretário de Estado do Orçamento, Emanuel dos Santos, alertou hoje (18/05/06) em Coimbra para a possibilidade de os pensionistas deixarem de receber o subsídio de férias (14º mês), para equilibrar o Orçamento de Estado.


O governante reconheceu que ‘não será fácil’ retirar direitos adquiridos, mas adiantou que a decisão poderá ser inevitável para equilibrar ‘o sistema de Segurança Social e corrigir algumas políticas do passado’. Emanuel Santos lembrou que o subsídio de férias para os pensionistas foi atribuído em 1990, num período de expansão económica, mas que não foi acautelada a sustentabilidade deste pagamento no futuro. ‘Como é que podemos aguentar assim o sistema?’, questionou o secretário de Estado do Orçamento, que falava na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra”.


O PS não deixa de nos surpreender. Agora pretende retirar o subsídio de férias aos reformados. A seguir deverá ser a todos os trabalhadores. Todos sabem que a esmagadora maioria dos reformados recebe reformas baixíssimas e que o subsídio é aquela pequena ajuda que chega para suprir algumas dificuldades não resolvidas entretanto.


Na minha profissão de funcionário da EDP encontrei muitas vezes, quando ia a casa dos consumidores, idosos que se embrulhavam em cobertores para evitar gastar energia. Em muitos verifiquei como o menor consumo de energia era um peso maior nos seus magríssimos orçamentos.


O que o governante propõe é de uma grande violência social. Dois dias depois de rejeitar a proposta do Bloco de Esquerda de limitar as vantagens fiscais das empresas com as mais-valias obtidas nas OPA, o PS desanca sobre os mais pobres aquilo que se recusou ir buscar aos mais ricos.


Bárbaros é o nome mais simpático que se lhes pode chamar.


Mais uma vez, retirar direitos para diminuir a despesa. Mais uma vez, recusa de ir buscar receitas aos que cada vez mais têm. À nossa custa.


Ontem li na imprensa que uma pessoa vai ser julgada, por pressão dos juízes desembargadores da Relação do Porto, por ter roubado 4 queijos para matar a fome – apesar do supermercado lhe ter perdoado. A injustiça preside na vida, na lei e no poder. Mas a injustiça alimenta uma espécie de “pilhas duracel”, uma revolta e uma vontade de lutar.


Victor Franco

sexta-feira, maio 19

No umbral do meu silêncio

As touradas voltaram a Lisboa. Ao Campo Pequeno.

Aconteceu uma festa com a beleza, pompa e circunstância a que estamos habituados nestas coisas de inauguração. Um belo espectáculo, sem dúvida, com peso, conta e medida. À medida do povo. Do nosso povo! Gostei de ver, porque os olhos e a alma regalam-se com o agradável, como cortina ao desagradável que nos fere, diariamente, como ferros em dorsal de touro…

Gosto de festas. Muito. Não gosto de touradas. Não gosto mesmo. E só não digo: abomino, porque das touradas gosto-lhes a coreografia em passos musicados de cavalo, o desafio em corrida centrífuga, antes do primeiro ferro, a babar-se de glória, na dor do animal touro. A partir daí, a magia encenada pelo brilho, pelo toque em luvas brancas engalanado, mescla-se em espectáculo sangrento.

Não suporto os aplausos à custa do sofrimento escancarado dos outros, mesmo que os outros sejam uns animais chamados touros. Não suporto as vitórias conquistadas à medida que o animal se enraivece de dor por cada ferro que o “brilhante” cavaleiro lhe espeta. É sangue sobre sangue. A escorrer. Baba-se, o animal, porque a indignação tamanha não lhe dá para falar. Reage escouceando o pó de pedra.

A mim, a indignação, dá-me para o pasmo, porque quanto mais se me aleija a alma pelas façanhas incoerentes de outros, menos se me despegam as lágrimas e, as palavras inaudíveis, gritam mais, cada vez mais, no umbral do meu silêncio.

Adelaide Graça

Hoje tive um sonho

Imagine que não exista nenhum paraíso,

É fácil se você tentar.
Nenhum inferno abaixo de nós,
Sobre nós apenas o firmamento.
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje...

Imagine que não exista nenhum país,
Não é difícil de fazer.
Nada porque matar ou porque morrer,
Nenhuma religião também.
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz...

Imagine nenhuma propriedade,
Eu me pergunto se você consegue.
Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
Uma fraternidade de homens.
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo.

Você talvez diga que sou um sonhador,
Mas eu não o único.
Eu espero que algum dia você junte-se a nós,
E o mundo viverá como um único.

John Lennon
Imagine (versão traduzida)


quinta-feira, maio 18

Uma falta de educação, uma grande falta de educação!

A concentração de activistas e dirigentes sindicais estava marcada para as 15 horas, frente à residência oficial do primeiro-ministro.

Saí do Metro, desci a rua de S. Bento, - ainda deu para beber um café numa daquelas ruas em frente à Assembleia da República - e, exactamente às 15 horas estava a passar em frente à residência do dito. Passei por entre as dezenas de polícias que ali aguardavam a chegada dos manifestantes. Indiferentes ao transeunte, nem se mexeram, obrigando este a fazer em ziguezague naquele troço do passeio ocupado pela polícia. Lá adiante o jardim convida a um descanso. Para lá me dirigi na esperança de que os camaradas não tardem. Consultei o relógio, já passa das quinze... Lá adiante mais polícias, três carrinhas atulhadas.

Sentei-me e aguardei... Enquanto a malta não chega - pensei - aproveito para acabar, faltam apenas três páginas, "O Quadrado" do Manuel Alegre [Não, não é ele... o livro é que tem esse nome].

Acabei a leitura, mesmo a tempo. Já chega um carro de som, dos altifalantes... o sempre presente Zeca. Retenho uma das últimas frases do ultimo conto, precisamente o que dó o nome à obra: «Não há outro sentido senão este, lutar, lutar até ao fim.»

Volto a passar por entre os polícias, agora mais agitados, para me encontrar com os camaradas. A concentração afinal é no lado de lá da rua...

Vão chegando mais activistas... poucos, muito poucos é certo, mas vão chegando.

E sem querer dou por mim a pensar: «São(omos) os mesmos de ontem, de antes de ontem... Os mesmos do ano passado, do outro ano, e do outro mais atrasado... Aquele ali é fundador... está(mos) velho... aquele outro tem um ar cansado... o outro parece sem alegria nenhuma... E aquele, aquele está reformado? Pois está! E aquele outro também. [Dou por mim a rir, amarelo, mas a rir] Aquela direcção tem o presidente e o vice... reformados...

E o fulano, que é feito dele? Terá morrido?»

Encontro o Presidente do meu Sindicato. (As más línguas tinham afiançado que ele não estava... no país. Más línguas é o que é? [Olha esse bilhete de avião ainda o perdes...]) Cumprimento-o. Cumprimenta-me. Trocamos palavras, de circunstância, claro. [Estamos comprometidos, eu e ele. Mas salvamos as aparências... Fica bem e parece unidade. Ou convergência como ele gosta de dizer.] As palavras estão gastas, perderam o sentido. E nós falamos muito sem dizermos nada...

Pouco depois a inquietação a angustia... Que estou eu aqui a fazer? A cumprir agenda? De quem? Minha não é concerteza... Esta relação tem que acabar... Estou farto de contribuir monetariamente, mas não só, para isto.

Chegam amigos, mais amigos... que também cumprem a agenda, mas são amigos e são camaradas.

Abraços e mais abraços...

A coisa passou... de novo.

Já no comboio que passa a ponte, a cabeça não deixa de ser martelada com as ultimas frases do livro acabado de ler naquele jardim ao lado da residência de Sócrates.

«Enquanto me bater a guerra não está perdida, ainda que se me perguntassem que guerra e, eu não soubesse ao certo responder. (...) Não há outro sentido senão este, lutar até ao fim. Um homem não se rende, não seria bonito, seria aliás se me permitem, uma falta de educação, uma grande falta de educação.»

José Carrilho
(membro da C. Trabalhadores da PT)


Hoje, sinto que devo dizer isto

O meu agradecimento a todos os que por aqui passam. Em especial, desculpem o meu machismo, às minhas visitas femininas... são as melhores! Haja outro blogue que seja capaz de dizer o mesmo.
Ah,aquele não sou eu.


Amanhã, provavelmente, completo 30 000 vistas. Nunca pensei quando entrei nesta aventura, estar por aqui tanto tempo e acontecer que este blogue mereça algum respeito por quem cá anda.

quarta-feira, maio 17

Cuba vs Portugal

É anedótico ler alguns comentários de portugueses, que Cuba teve o desprivilégio de receber como Turistas e voltam conhecedores da verdade definitiva e real sobre o país.

Eu tenho seis anos de Cuba…a Cuba real e a turística também, e ainda não logrei tal feito!

Escandalizam-se com as casas velhas e deterioradas, esquecendo-se sempre de falar que Cuba é o único país pobre do Mundo onde pobreza não é sinónimo de sujidade.

Horrorizam-se com as crianças que pedem pastilhas elásticas e chocolates, esquecendo-se que às mesmas não lhes falta o leite diário, os cuidados de saúde e a educação gratuitas.

Pasmam-se quando vêm algum mendigo, deve ser pela raridade dos mesmos.

Criticam os autocarros atolados de gente e as más condições das estradas, esquecendo-se de informar do sofrimento que é ir atrás dum autocarro escolar, pela proibição de ultrapassagem do mesmo, por motivos de segurança.

Horrorizam-se porque os cubanos não têm acesso a todos os serviços e bens de consumo, esquecendo-se de dizer que a todos é fornecida a “libreta” que lhes garante a alimentação diária.

Impressionam-se com a existência de prostitutas, mas esquecem-se de informar que quando as contratam lhes pedem a exibição dos resultados negativos da SIDA que o governo gratuita, esporádica e obrigatoriamente lhes faz!

E lembram ainda esses portugueses, que há cubanos que cometem actos ilícitos e muitos milhares procuram deixar o país, rumo aos países do Primeiro Mundo, Portugal incluído.

Durante estes últimos dias de turismo em alguns blogues, apesar de inúmeras inverdades que li, consegui fazer uma experiência com a maledicência.

Limitei-me a copiar os comentários, a traduzi-los para Espanhol e a mandá-los para alguns amigos cubanos. Tive a preocupação de escolher os “guarijos”, ou chamemos-lhe os camponeses, com mais dificuldade de aceder à Internet e mais afastados do turismo.

E pedi-lhes que me escrevessem sobre Portugal através desses comentários. E falaram! Como se aqui não existissem barracas, nem pessoas vivendo nas ruas ou em casas degradadas. Como se aqui não houvessem crianças pedindo nas ruas, nem mendigos, nem prostitutas. Como se não houvessem filas, nem transportes públicos que funcionem sem ser na perfeição.

E neste país, qualquer cidadão, pode comprar o que quiser, quando quiser, frequentar qualquer restaurante ou hotel sem se preocupar com os preços. E pasme-se!...Até podem ir de férias para Cuba.
Além disso, não há prostituição, nem criminalidade e nenhum português deixa o país para tentar a sua sorte no estrangeiro.

Pois é! Quem ouvir estes cubanos a falar baseados em tão eruditos comentários, Portugal está na plenitude do seu desenvolvimento: não há pobreza, nem miséria, nem fome, nem desemprego, nem criminalidade e primamos pela moralidade pública, pela excelência das condições de acesso à educação e à saúde.

O verdadeiro problema de Portugal, descobri-o agora: gente a mais que se diz de esquerda, mas com discurso de direita, para não dizer de extrema-direita.

Não entrarei nessas discussões. Além de que, é de uma extrema covardia utilizar-se um povo que vive há mais de 50 anos sob um bloqueio assassino, para criticar partidos ou ideias políticas.

É curto o meu tempo e aproveito-o para lutar noutras guerras. Mais justas e com toda a certeza mais frutíferas.

Há muita coisa para ser criticada em Cuba, meus senhores! Mas não é por aí. Só lhes fica mal esse papel.

Salvam-se os comentários do Fernando, a sapiência de quem nunca foi a Cuba, nem precisa, para ver o que efectivamente vai mal na Ilha. Pessoa para quem, como eu, acima de partidos, acima de políticas, está a Paz, a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade…em Portugal, em Cuba, nos EUA, na China, em todo o Mundo! Para todos os Povos, pois só estes sofrem e só estes importam!

Cris

Não há dinheiro para tudo e as escolhas politicas

Não há dinheiro para tudo. Já estou cansado de ouvir estas palavras, mas é verdade. Não há dinheiro para tudo. Todos sabemos isso. Não há por onde esconder. Fecham-se escolas, cantinas, hospitais, maternidades, aumentam-se impostos, taxas moderadoras, propinas, combustíveis, transportes, rendas de casa. Retiram-se direitos adquiridos, comparticipações em actos médicos, medicamentos, congelam-se vencimentos, aumenta-se o tempo de trabalho, diminuem-se os valores das reformas, dos subsídios de desemprego, eu sei lá… e tudo continua na mesma!

Portugal sempre teve um problema de liderança e de falta de rumo. As nossas lideranças, as elites deste país ou são incompetentes ou são interesseiras. Ou são ambas. Inclino-me para esta última.

Por causa disso, atrasamo-nos. Por causa disso, temos problemas de contas públicas, temos um país adiado, sempre à espera de melhores dias. Temos um país em que uns enriquecem muito depressa, tão depressa como outros empobrecem. Um país de mais ricos e um país de mais pobres. Estamos sempre a bater na mesma tecla. Mas não pode ser de outro modo.

Quando não há dinheiro para tudo há que fazer escolhas políticas. Há que pedir maiores esforços a quem pode dar mais. A classe média-baixa, aos mais pobres, já não se lhes pode pedir mais. Há que pedir a quem ainda pode, exigir a quem quer fugir, ou retirar a quem não quer contribuir.

O problema do emprego e o da segurança social são dos mais graves problemas que Portugal atravessa: mais de quinhentas mil pessoas sem trabalho e o risco de uma segurança social, insegura, incerta. Sem emprego não há economia. Sem economia não há país. Sem segurança social, não há futuro, nem há presente. A todos são pedidos esforços a sério.

Francisco Louçã, em conferência de imprensa deu a conhecer as propostas do Bloco de Esquerda, há dois dias. Ontem li-as no Público, na página 40, bem lá para o fim, com um título bombástico, “ BE quer que salários acima dos 1500 euros paguem mais para a Segurança Social.”

Concordo com esta medida. O problema da Segurança Social é sério. Eu já o tenho alertado aqui por muitas vezes, embora não concordando com as soluções do Governo. É preciso garantir as reformas de hoje, a solidariedade com os excluídos de hoje, o apoio aos pobres de sempre, sempre e acautelar as reformas no futuro.

Mas esta não é uma proposta isolada. Esta é o esforço que é pedido aos sectores da classe média e média alta. É um imposto ainda possível. Francisco Louçã, chamou-lhe contribuição de solidariedade. É uma contribuição progressiva de 1 a 5 por cento, para salários acima dos 1500 euros. A taxa social única mantém-se nos 11 por cento, excepto para quem ganha por mês, acima dos 5000 euros que passará para 16 por cento.

As Empresa deixariam de pagar pelo número de trabalhadores que têm ao serviço (actualmente um perfeito disparate) mas pelo, VAB (Valor Acrescentado Bruto) ou seja em função dos seus lucros, numa taxa variável até três por cento desse valor. Em simultâneo, a contribuição das empresas para a Segurança Social, tinha uma redução de 3,5 por cento para 19,5 por cento.

Com estas medidas o sistema de Segurança Social está seguro até 2025, o “espaço de uma geração”. Segundo o Bloco fazer cenários até 2050 são pouco credíveis, assim como não faz sentido que num sistema que tem dificuldades haja uma taxa plana e por isso propõem o princípio da progressividade nas contribuições, a partir dos 1 500 euros.

As propostas do Governo de aumento da idade da reforma, da antecipação da alteração da fórmula de calculo e a criação do imposto de sustentabilidade, “são conservadoras, ineficientes e desadequadas”, representa uma punição demasiada elevada para os futuros reformados que se “irá traduzir em reformas equivalentes a 60 por cento do último salário” e isso é inaceitável.

Se a par destas medidas se avançar no combate à economia paralela e à legalização dos imigrantes para que passem a ser uns contribuintes líquidos, os cenários tendem ainda a melhorar.

Claro que estas medidas sensatas e moralizadoras do sistema vão ser reprovadas, se for a votação e desta vez, tenho cá uma fezada, até o PCP, vai votar contra. Não me admiraria, num partido, com resquícios, conservadores e corporativistas, de esquerda.

Proposta completa aqui em PDF.



Caminhos do silêncio

Levanto-me deste chão
quando me falas de afectos.
...
Acaricias-me com lágrimas
que afloram no teu olhar
quando te falo de afectos.


Adelaide Graça
(do livro Sem Chaves Nem Segredos)


terça-feira, maio 16

Segurança ou insegurança social

O debate que tem atravessado a sociedade sobre a sustentabilidade da segurança social e a manutenção das suas prestações revela uma assinalável luta ideológica.

De um lado estão aqueles que entendem a segurança social numa perspectiva solidária e inter-geracional. A perspectiva de que o Estado tem a palavra central na escolha e na responsabilidade das políticas sociais públicas.

Do outro estão aqueles que entendem que os cidadãos devem construir as suas próprias pensões, de que o Estado não se deve imiscuir nem limitar a iniciativa individual, de que os fundos de pensões são entidades dinâmicas na economia e, por consequência, propiciadoras de sucesso (ou reforma garantida) mas também de insucesso (perda de todo o dinheiro descontado e reforma zero).

Chamar o Estado à sua responsabilidade tem todo o sentido. Em primeiro lugar porque o Estado não é neutro, em segundo lugar porque só há Estado porque há pessoas. E se há pessoas há sempre escolhas que se fazem para essas pessoas. Os neoliberais pretendem que as pessoas sejam usadas para a acumulação privada de capital retirando do Estado as verbas que as pessoas descontam para a segurança social. Nós só podemos exigir que a modernidade conquistada com muitos milhões de pessoas na luta social se mantenha e melhore.

Mas como melhorar?

Responder com a nova realidade económica é um primeiro passo. Nos antigos sistemas produtivos para aumentar a produção era necessário aumentar o número de pessoas. Era um sistema que progredia quase só aritmeticamente. Hoje em dia, o sistema produtivo cresce pela incorporação de tecnologia e, portanto, a produção tem condições de crescer numa tendência geométrica. Portanto o Valor Acrescentado Bruto das empresas é hoje melhor indicador do valor económico de uma empresa do que o número de trabalhadores. Por isso faz sentido que as contribuições à segurança social comecem a incidir sobre o VAB.

Mas há mais. Hoje em dia muitas são as empresas, nomeadamente do sector financeiro, da importação e da exportação, e empresas que subcontratam produção, que apresentam um número reduzido de trabalhadores mas que têm valores de vendas muito elevado. Essas empresas contribuem com pouco para a segurança social.

A forma das contribuições individuais, de cada trabalhador, também representa uma diferenciação. Os conservadores pretendem tornar o actual sistema progressivo de impostos (em que quem ganha mais deveria pagar mais) num sistema de taxa única. Ora propor que o actual sistema de taxa única para a segurança social passe para um sistema progressivo é uma proposta justa e solidária. É, politicamente, o contra-ataque ao neoliberalismo.

O problema da sustentabilidade da segurança social não está pois no aumento da idade das pessoas porque isso é um avanço civilizacional. A solução não é diminuir o valor das reformas nem aumentar a idade de reforma como quer fazer este governo. A solução passa por encontrar novas receitas - adequadas à realidade da vida de hoje.

Victor Franco