quinta-feira, maio 25

Não... porque sim.

Luandino Vieira, disse não. É um não, querendo mesmo dizer… não!

É um não mesmo. Foi um não bem sonoro, embora dito muito baixinho. Com respeito. Quase pedindo desculpa. Mas um não incomodativo. Foi um não, sublime. Um não, digno. Um não, que não se usa. Um não, grandioso.

Luandino Vieira, não quis receber o galardão do maior prémio da literatura lusófona, o Prémio Camões. Luandino Vieira, não quis receber, os 100 mil euros do prémio.

Rendo-lhe a minha homenagem. Por dizer não. E por dizer não… porque sim.

Luandino, se calhar não existe. Fisicamente, sim, está aqui próximo, em Vila Nova de Cerveira e escreve, passeia, cumpre alguns rituais; andar pelos montes, pelas calçadas, falar com os animais, com os pássaros, sorrindo, cumprimentando. Um grande senhor, posso afirmar eu que não o conheço, a não ser pelo nome e de quem nunca li um único livro. Não me interessa o motivo porque disse não! O que me arrebata a alma é o gesto. O desprendimento. A grandiosidade de recusar o Maior Prémio da literatura e de recusar 100 mil euros.

Luandino, tem um mundo. Um mundo que não é o nosso. Um mundo que só deve ser habitado por pessoas muita boas. Como ele.

Luandino disse não! Quando é difícil dizer não. Disse-o, singelamente, como poucos o diriam. Discretamente.

Luandino merece este reconhecimento. Não o fiz quando ganhou o prémio. Faço-o agora que teve a nobreza de o recusar porque sim. A minha sincera homenagem.

Gostava de conhecer Luandino. Gostava que houvessem muitos Luandinos.

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