quarta-feira, maio 10

A actividade sindical, hoje.

A actividade sindical quase não existe, em Portugal. Uns poucos, muito poucos, trabalhadores, de vez em quando, participam em algumas reuniões, nas cada vez menos reuniões, que os sindicatos promovem. Ainda assim, os que participam, na sua maioria, só lá vão, quando se sentem ameaçados nos seus direitos mais fundamentais.

Eu percebo-os.

Assoma sobre eles o medo. O medo das represálias, o medo da pressão, o medo de conotação, o medo de não renovarem o contrato, o medo de perder o emprego.

Predomina, igualmente, a ideia de que estas reuniões não adiantam nada, os discursos são palavreado repetido e de circunstância, reiteradamente ouvidos, sem consequências práticas, cantando vitórias inexistentes ou esboçando perigos iminentes, para por fim, fazerem uma declaração de guerra e serem convocados para jogos políticos de encomenda.

É assim, tem sido assim. Os sindicatos não vão aos locais de trabalho, não conversam com os trabalhadores, não os percebem, não os ouvem, não entendem os seus problemas e receios. Aparecem para distribuir uns comunicados, muito radicais na linguagem, mas nada eficazes, na explicação dos problemas, na dinamização activa. É preciso o esclarecimento personalizado, pequenas reuniões, conversa a sós ou em grupo, no local de trabalho, nas pausas, nos gabinetes, nas oficinas, nos grandes espaços físicos, é preciso ir para a rua, fazer comunicados à população, colocar tarjas, recorrer à imprensa, sensibilizar as pessoas para as suas causas.

É preciso acabar com as greves, nas vésperas de feriados, nas pontes, no dia dos exames. Hoje ao contrário doutros tempos é preciso estar atento às pessoas, conquistá-las, e não prejudicando-as deliberada e quase ostensivamente, porque até dá um certo jeito pessoal. Não! Isso é ganhar inimigos, é dar argumentos aos populistas. É dar-lhes a oportunidade de denegrir uma luta. A decisão da luta tem de ser discutida, consensualizada, abrangente. Fazer greve, encontrar novas formas de protesto, mobilizar os jovens e as populações, fazendo convergir descontentamentos, são caminhos a serem encetados.

A maioria dos sindicalistas ou estão nos gabinetes sindicais ou nas sedes “ a tempo inteiro”, em viagens ao estrangeiro ou de vez em quando a organizarem uma acção de acordo com a agenda política do partido ou da central sindical a que estão afectos.

Por isso certas acções de luta ou algumas comemorações como o primeiro de Maio, não passam de rituais. A maioria dos sindicalistas, dirigentes sindicais, dirigentes das estruturas intermédias, as uniões sindicais, ou dirigentes nacionais, estão desacreditados, institucionalizados, rendidos, acomodados, alguns estarão mesmos “vendidos”.

Hoje na sua maioria são uns burocratas para ocasiões festivas, para cumprir papéis partidários. Uma vez ou outra fazem uma ou outra acção conjuntural para mostrarem que existem. E lá estão sempre os mesmos: Os dirigentes de sempre, os delegados sindicais de sempre, os funcionários do partido de sempre, e os trabalhadores, carne para canhão de sempre. E os ingénuos de sempre. É esta a mobilização que conseguem. Os mesmos de sempre. E há outros que não querem ficar de fora e conscientemente alinham em algumas destas iniciativas, para não desbaratarem um capital de unidade e luta. Alguma coisa tem de ser feita. Assim é uma tristeza. Um dia destes, nem os trabalhadores de sempre, nem os que alinham para não criar divisões. Ficam só os burocratas sindicais ou os burocratas do partido.

A verdade é que nós, também, pouco fazemos para mudar. Sabemos que não é fácil, a máquina está "fechada" para nela ninguém entrar. Mas vai faltando participação, exigência, esforço para mudar, falta determinação para o combate. Um amigo meu, dirigente sindical diz-me que está farto. Quer sair, quer voltar ao local de trabalho, mas também não vê ninguém, ninguém se aproxima. Mas se não for da cor politica também não tem hipóteses. Ele diz que os dirigentes sindicais, de um Sindicato, todos juntos e espremidos, não dão mais que alguns bons sindicalistas. Mas, apesar de tudo, quem quer ser sindicalista hoje? Quem é activista sindical? Quem quer ser dirigente sindical? E quem está interessado, como conseguir “derrubar” o muro que está vedado a outras vozes e pensamentos? O cerco da máquina partidária ou sindical abafa tudo.

É uma tristeza e lamentável. A grande verdade é que hoje a carreira profissional está primeiro. O egoísmo está primeiro, O individualismo está primeiro. Tudo poderia ser diferente se o processo de renovação se desse pacifica e livremente, sem interferência politica e partidárias, sem querer controlar a máquina, escolhendo os mais preparados, os mais disponíveis em cada momento e por períodos curtos.

Os trabalhadores só tinham a ganhar!


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