Mas disso, não vou falar, não me sinto capaz de ter uma discussão aprofundada e fundamentada.
Se tivesse de dizer que tenho uma “nacionalidade”, diria Viana do Castelo. Apenas por isto: é aqui que tenho as raízes, família, amigos, conhecidos, onde vivo e espero viver toda a vida. Onde cresci, brinquei, estudei, andei à porrada, fugi à polícia. É aqui onde estão os amigos de infância, os que andaram comigo na primária, os que tinham, como eu as caças rotas no cu e nos joelhos, a cara e as mãos sempre sujas da brincadeira ou do trabalho, a ranheta no nariz, os brinquedos de plástico, a bola de meias. Aqui, onde assaltávamos os quintais para roubar fruta ou para partir os ovos nos galinheiros, fazer traquinices para chatear os mais velhos, os professores, a policia, desesperar a família. Aqui onde pedia dinheiro aos espanhóis, lhes levava as compras à estação, para receber umas pesetas. Aqui onde ia pedir pão aos restaurantes, comer a sopa dos pobres, onde fui parar, por uns tempos, a uma casa de “caridadezinha”, para jantar e dormir. Eu como quase todos os meus amigos de infância. Aqui onde comecei a trabalhar cedo, percorri vários empregos, aprendi uma profissão, cresci como homem, ganhei consciência social e politica, formei a minha personalidade. Aqui onde cresci e vivi, no meio da ferrugem, do papel e dos trapos velhos e em chão de terra. Aqui onde sempre trabalhei, estudei, intervi politica e sindicalmente, onde fui condenado por motivos políticos. Aqui onde hoje, tenho a vida, agora, mais ou menos estabilizada (ainda tenho dois filhos, maiores, mas filhos... e solteiros) … até ver.
É esta a minha pátria, se assim quiserem ou se tiver que dizer que tenho de ter uma pátria.
Não me incomoda, nada a Globalização, absolutamente nada. A Globalização abriu-nos portas ao conhecimento, à novidade, ao romper de fronteiras, à destruição de mitos e de certezas. Hoje sabemos mais, conhecemos mais, temos acesso a mais informação, vivemos melhor, temos mais liberdade, apesar de tudo. Hoje sei mais, estou mais informado ou posso estar mais informado, dos meus direitos, dos meus deveres, das minhas responsabilidades cívicas e socias. Hoje conheço melhor o mundo, as diferenças culturais e sociais, o que se passa no planeta, estou mais habilitado a conhecer e compreender os outros, a perceber onde está a injustiça, a razão das guerras, quem são os culpados e os inocentes. Compreendo melhor as motivações pessoais, do ser humano, dos políticos, das políticas, das religiões e das nações. Dos motivos das guerras, das razões da divisão dos povos. Dos efeitos das religiões. Hoje conheço melhor o papel do capitalismo, do império e dos trabalhadores.
Hoje não tenho dúvidas: os povos são todos iguais e que o que divide o mundo é o dinheiro e o poder, em qualquer ponto do mundo. Por isso a luta é universal. A luta é onde houver injustiça, discriminação, indignidade. Para acabar com a fome, a doença, a miséria extrema, as desigualdades sociais, a guerra.
“Etnias e raças, a cada dia que passa, perdem, mais e mais, suas peculiaridades, sem nunca ter existido, na espécie humana, uma raça pura. Raça é um conceito biológico e etnia um conceito cultural. Embora ocasionalmente várias etnias possam pertencer a uma mesma raça, como é o caso das populações indígenas brasileiras, que têm, hoje, cerca de 220 povos, todos originários de migrações asiáticas que penetraram no continente americano. A humanidade caminha para a cultura global e a homogeneização antropofísica, que poderá, dependendo do desenvolvimento histórico, levar a espécie humana a se constituir em uma só grande raça.”
Os homens preocupados com as injustiças, não têm pátria; os humanistas, as pessoas de bem, as verdadeiras pessoas de esquerda não têm nacionalidade. O pobre é sempre o pobre em qualquer parte do mundo. O explorado é sempre um explorado em qualquer parte do planeta. Os homens de bem, não defendem o pobre português contra o pobre ucraniano, o branco contra o preto. O trabalhador explorado português, contra o explorado chinês. O Mourinho contra o Camacho, o Belmiro contra o Bill Gates.
O homem do mundo, preocupado com a solidariedade social, com as injustiças, com a fome, não escolhe uns contra outros na mesma situação.
A nossa escolha é estar do lado dos que mais sofrem, dos que têm menos. Eu escolho estar do lado dos oprimidos e humilhados, seja português, russo, chinês, cubano, americano, independentemente da raça, da etnia, da religião.
Eu sou a favor de uma Globalização que caminhe neste sentido! Uma miscelinazação de hábitos, culturas, pessoas.
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