sexta-feira, maio 12

A Liberdade e os nazis em Vila Rei



Sou a favor da liberdade. Da liberdade toda. A liberdade para mim é um valor inalienável. Não troco a liberdade, por nada. Podem-me dar uma boa assistência médica, um bom sistema de ensino, uma boa politica de habitação, um bom emprego, alguns direitos sociais, não me podem é retirar a liberdade.

A liberdade de criticar, de escolher, de protestar, de fazer o que me der na real gana. Vestir-me como quero, calçar-me como me apetecer, usar cabelos curtos ou compridos, usar brincos ou tatuar-me. Quero a liberdade toda. Quero poder dizer não. Quero poder dizer não gosto. Quero poder dizer, o governo é uma merda.

Não quero a liberdade condicionada. Não quero a liberdade com regras. Não quero limites à liberdade. Quero a liberdade toda!

A justiça que tome conta do resto. Do abuso, da ofensa, da liberdade dos outros. A minha liberdade não a quer regulamentada. A minha liberdade quer ser livre e assumir a responsabilidade dos seus actos. Já nos basta a “liberdade” condicionada pela sociedade capitalista. Condicionada pelas regras e os bons costumes da moral cristã. A minha liberdade toda, quer, claro, a paz, o pão, saúde, habitação, para todos, quer como dizia o Sérgio Godinho, a liberdade para mudar e decidir.

A minha liberdade respeita a liberdade dos outros. A minha liberdade, vejam lá, permite a existência de organizações fascistas, o direito de eles se manifestarem, de exprimirem as suas opiniões, apesar de estarem proibidas constitucionalmente. Penso que já temos uma cultura política suficiente, para recusar essas bestas. Não farei contudo, como sugeriu um colega meu, surpreso, com esta minha posição, que para ser consequente, deveria lutar pela alteração da Constituição. Bem uma coisa é tolerar (não gosto nada desta palavra – fica para outra altura a explicação, mas que aqui tem pleno cabimento), outra coisa é fazer alguma coisa que lhes permita esse direito. Só faltavam pedir-me isso.

Atenção, quem diz isto sabe bem o que afirma. É uma pessoa que esteve no Palácio de Cristal a cercar o congresso do CDS; que boicotava os comícios à direita do PS; que na sequência do 11 de Março, invadiu as sedes do CDS e do PSD; que participou na “invasão” à embaixada de Espanha, na sequência do assassinato de militantes da ETA e da FRAP. Mas , també, é alguém que viu a direita a assaltar e a incendiar sedes de partidos de esquerda, a matar militantes de esquerda, a pôr bombas pelo país, a tentar um golpe de estado.

Como vêem, mudei de posição. Hoje concedo-lhes o direito à liberdade. Mesmo sabendo que eles não querem a democracia, que desrespeitam a dignidade humana, a igualdade dos cidadãos, que combatem as minorias, os imigrantes, as etnias, as religiões, a liberdade em geral. Esta posição não colide, pelo contrário, antes reforça, a minha atenção, a minha oposição, o meu combate a estas ideias tiranas, à denúncia do racismo e da xenofobia, sempre presentes nos discursos dessas criaturas, contra os direitos iguais, devidos à pessoa humana. Serei intransigente na defesa dos valores da democracia e da dignidade do cidadão, qualquer que seja a sua raça ou a nacionalidade e opor-me-ei, com todas as forças a qualquer tentativa de mudança de regime, seja pela via constitucional ou de outra natureza que estas forças cavernosas queiram implantar no país.

Por isso, desta tribuna, aí vai o meu aviso: Amanhã um bando de pulhas, de imbecis, de gente desprezível, asquerosa, néscia, reles, uns “putos repugnantes”, queques, vestidos de casacos e de botas de cabedal de besta nazi, filhinhos de papás e mamãs chiques, vão, nas suas potentes motos, ou nos carros, últimos modelos, topo de gama dos papás (dos papás que fecham fábricas, que maltratam os trabalhadores, que lhes retiram direitos) a Vila Rei, organizados e em grupo, com a polícia a acompanhá-los, por que a coragem deles é em grupo, “pacificamente” manifestar-se contra um grupo de cidadãos brasileiros, que a convite da Presidente da Câmara, vieram instalar-se naquele concelho, e em nome de nós, os “portugueses”, em nome da nossa “pátria”, defender a nossa nacionalidade que está a ser “invadido pelos estrangeiros”. Os palermas estão na rua.

Esses rascas vão manifestar-se à vontade, como deve ser. Espero apenas que mereçam da população, um desprezo tão grande, como enorme é o meu asco por semelhantes criaturas.

Eles andam por aí. Mas não há que temer estes canalhas, do PRN e da FN. É preciso é estar atento às suas movimentações. Como eles estão às nossas. Eles estão aí, pelas escolas, pela noite, a influenciar, a recrutar jovens, às escuras. Os vampiros. Os arquétipos a lembrar o nazismo, estão por aí, estampados em camisolas, em corpos tatuados, nas imagens de sangue a sair pelas bocas ou pelos olhos, nas expressões de ódio e intolerância. Eles estão a investir nos jovens em maior dificuldade; com problemas escolares, com problemas familiares, com problemas de emprego, com problemas de integração. Brancos e portugueses.

Mas eles não passarão. Os “velhotes”, não os deixarão passar. E muita e muita juventude, conhece bem a história da barbárie nazi, e também não se deixarão iludir.

Afinal, li agora no site do PNR, os imbecis deslocam-se de autocarro. Assim vão mais protegidos, os cobardes.


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