domingo, maio 21

O protocolo de Estado e a Igreja católica

Não sou religioso. Mas estou inscrito nos cadernos da igreja católica. Sou portanto um dos milhões de católicos de todo o mundo. Apesar disso não tenho direito a voto ou de opinião. Não estou em nenhuma estrutura da organização, desconheço os seus estatutos, nunca fui convidado para participar em qualquer reunião ou nas escolhas das ideias ou dos órgãos directivos. Não gosto por isso da Igreja. Não gosto de nada que não tenha nas suas causas a democracia e a participação. Dizem-me que posso aparecer aos comícios dos domingos. Mas também não gosto de comícios.

Os meus filhos não estão baptizados. Já podiam estar se quisessem. Já têm idade para pensar e decidir o que é melhor para eles. Não interfiro, apenas dou opiniões se as pedirem, algumas vezes também dou, mesmo não as pedindo, mas poucas vezes mesmo. Os meus filhos são uns “safados”. Não me ligam muito. Só um bocadinho, um poucochinho mesmo. Lembram-se no dia de anos, no dia do pai, quando precisam de dinheiro (mentira). Apesar disso sei que algumas coisas importantes estão lá. Apesar de poder não parecer. Amigos, solidários, bons rapazes, enfim.

Ainda são uns jovens. Um tem 26 anos o outro 23 anos. Não estão baptizados, mas ainda vão a tempo, se quiserem e em que religião quiserem. Por mim tudo bem. Não lhes impus nada, muito menos agora. O Raio dos rapazes. nem sequer estão recenseados... que vergonha!...

Tive uma educação católica, pouca mas tive. A minha mão é católica, mas deixou de ir à missa à muitos anos. Apenas reza por nós. O meu pai, um dia, passou a ser Testemunha de Jeová, mas o meu pai, tinha “pancada”. Aos meus filhos, disse-lhe que iam ser… nada, até eles terem idade para decidir. Parece que se dão bem assim. O mais novo ainda teve uns pequenos problemas nas escola com uma professora de português que punha os rapazes a rezar, o Pai Nosso, antes de dar inicio às aulas. Ele bem dizia, – “mas Pai, eu não conheço a letra, só conheço a música? Deixa lá filho, mexe com os lábios. Quem não foi nessas tretas foi a mãe de uma rapariga que era muçulmana. Foi lá e acabou com a brincadeira.

Bem, mas tudo isto para dizer que não posso aceitar que os Bispos venham agora a apelar ao Presidente Cavaco que vete a lei que reordena o protocolo do Estado. A igreja católica não quer perder a cadeira à esquerda destacada do senhor Cardeal. E não quer perder um lugar de destaque na hierarquia do protocolo.

Deixem-se de merdas. A Igreja católica já tem demasiados privilégios. Não pagam impostos. Tem prerrogativas especiais com base na concordata. Tem as televisões a dar missa aos domingos, tem aulas de religião (católica) e moral, tem a reverência patética dos órgãos executivos do governo, dos partidos da direita, de muitos políticos e um inexplicável silêncio do PCP que nestas coisas não gosta de dizer o que pensa.

A igreja católica não tem que ter direitos especiais. Não tem que ter vantagens sobre outras religiões. Não tem que ter mais vantagens que o grupo associativo e cultural da aldeia, do grupo de teatro da terra, dos grupos desportivos amadores que formam os jovens. A Igreja, a religião, qualquer que seja, deve ser tratada por igual, ou seja, sem nenhuma vantagem adicional, separado do Estado.

As Igrejas ou religiões deviam estar fora destas cerimónias protocolares.


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