Começo a não ter palavras. De tantas vezes repetidas, certas palavras, começam a perder importância.
Perdi a paciência. Apetece-me insultar. Bater. Ir ao focinho. Aos poderosos, aos homens do dinheiro, aos que mandam, aos que obedecem, aos oportunistas, aos vendidos, aos chico-espertos, aos ignorantes, aos distraídos, aos que deixam andar, aos que não querem confusões, aos que não é nada com eles, aos falsos humildes, aos que não conseguem ver mais longe do que o seu umbigo, aos que fingem não ver, ouvir ou ler, aos que se põem em bicos de pés. Bater-me a mim próprio, mandar uns palavrões aos amigos. Apetece-me acabar com esta merda toda. Acabar com este mundo hipócrita. Apetecia-me se tivesse coragem, se fosse um revolucionário a sério, deixar tudo e entregar-me a causas nobres. Em todo o mundo. Sem impedimento das fronteiras. Não ter limite. Fosse eu um homem corajoso e completamente desprendido… Mas não, também sou um egoísta. Um oportunista. Não pensasse eu em mim, na família, nos filhos, na mãe. Não fosse eu um cobarde…
Desculpem-me, apenas acabei de ouvir a notícia, à poucochinho, da luta desesperada, persistente, corajosa de uma mãe pela saúde e bem-estar do seu filho. A mãe do menino-azul.
Fico alterado. Fora de mim, às vezes... Especialmente com os senhores de todos os poderes, que não querem resolver, que atiram para canto, que fazem de conta que fazem ou que não é nada com eles. É sempre com os outros. Um nojo!
Espero, bem mais, muito mais dos políticos sérios. Um erguer de voz mais forte. Um bater com as portas.
Espero não ser tomado por mais uma desilusão.
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