domingo, abril 23

Um poema por dia de Alfredo Reguengo (XI)


Mensagem

Se eu não voltar,
amor,
não me lamentes,
nem chores
por mim...

Se eu não voltar...
-Barco encalhado,
não!
-antes
barco
perdido
e que não volta
mais
ao porto de armamentos!...

Não me lamentes;
Faz de conta
que eu volto
qualquer dia
e que me esperas
no cais
-no cais moreno
dos teus braços
abertos
e na Senhora da Agonia
dos teus olhos
afogados
de saudade...

Nem chores
por mim,
amor.
Faz de conta
que eu fui
a um mar distante,
onde há pérolas
feitas de lágrimas
que já choraste
por mim
e vou voltar
para te pôr
ao peito
uma saudade
com milhões de pérolas...

E levar-te comigo
em meu veleiro
antigo,
desafiando
ventos
e procelas,

para além
de todas as linhas
de horizontes
vísiveis
ou sonhados,
onde o silêncio
nos curva
e nos envolva
como um sudário
de bruma
e nós sejamos

vontade
de
dormir!...

Se eu não voltar...
Se eu não
voltar,
amor,
não me procures
na linha do horizonte
-que eu ando a navegar
no fundo
dos
teus
olhos...
-e o leme se quebrou
e o velame
são farrapos
a drapejar
no escuro ...

Alfredo Reguengo
31/12 1971


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