sexta-feira, abril 14

Um poema por dia de Alfredo Reguengo (III)



Em 19 de Janeiro de 1973, com o poema Dístico, Alfredo Reguengo, parece querer fazer um balanço da sua vida. É uma linguagem em linha recta.Toda a sua linha poética tinha essa matriz, ser percebido por todos. Nas suas próprias palavras, ele foi uma "voz que se ergueu/ e que falou/ falou sempre/ como sabia/ em voz alta e de maneira que todos percebessem". Era assim Alfredo Reguengo, uma pessoa culta que não fazia da poesia ou literatura um modo de vida, mas era a sua vida. Sempre ao lado dos mais sofridos e da liberdade. Este poema, transporta alguma desilusão, depois da "prometida" primavera marcelista. É um desabafo de quem sempre lutou, sem nunca ter pedido "nada/ que pudesse/ fazer grande/ ou pequeno/ isto que sou".

Dístico

Eu quero lá saber
se, um dia,
alguém
há-de achar bom,
ou mau,
isto que fiz
e há-de deitar,
ou luz
ou lama,
sobre o meu nome
esquecido!...

Eu fui,
apenas,
voz que se ergueu
e que falou,
como sabia,
naquilo que entendeu
ser seu dever dizer-se...

Falei sempre
em voz alta
e de maneira
que todos entendessem
quanto disse
-e quanto era impossível
que dissesse.

Eu nunca pedi nada
que pudesse
fazer grande,
ou pequeno
isto que sou.

Tive sempre
o orgulho de ser pobre
-pobre sem ser mendigo,
nem farrapo;
pobre de pé,
pobre de mãos nos bolsos
-nos meus bolsos.

Hoje,
mais do que nunca,
nada peço
-e nada aceito
que não seja meu!
E meu, só tenho
o orgulho de ser pobre
e estes papéis
inúteis
que aqui estão...

Alfredo Reguengo

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