terça-feira, abril 25

O 100 de Abril e Salgueiro Maia


As minhas actividades políticas começaram cedo. Por isso, desde cedo comecei a frequentar os cafés onde, em Santarém, se reunia a esquerda da terra. No saudoso café “Brasileira”, situado no Largo do Seminário, juntava-se a esquerda florida, ou melhor, toda a esquerda.

Ali arrumávamos as lutas locais e discutíamos acaloradamente a política nacional. Ali conheci várias figuras, entre elas Salgueiro Maia.

No “Brasileira” juntavam-se também muitos dos membros da comissão das comemorações populares do 25 de Abril. Esta comissão organizava iniciativas comemorativas várias e depois da morte de Maia organizou várias homenagens e romagens a Castelo de Vide.

Desse tempo recordo duas histórias.

A primeira passou-se com Salgueiro Maia. Numa conversa, em grupo alargado, Maia contou que durante um combate na Guiné, se a memória não me falha, as tropas portuguesas repeliram um ataque das tropas de libertação. Vendo rastos de sangue no chão as tropas de Maia seguiram os rastos. Até que, vários quilómetros à frente, encontra um soldado autóctone morto segurando, com as mãos em concha, as tripas que lhe caiam do corpo aberto. Mais tarde, Maia percebeu que o soldado, prevendo que ia morrer, percorreu o caminho inverso ao da sua base para afastar dela as tropas portuguesas. Maia relatava esse facto como tendo sido um marco na sua tomada de consciência.

Já depois da morte de Maia, numa outra conversa, alguém contava como Maia dava conta do seu desgosto com o caminho do país. E que este terá dito “isto agora já não vai com um 25 de Abril, nem com um 50 de Abril ou um 75 de Abril, isto agora, só lá vai com um 100 de Abril”.


Quando ouvimos as notícias que aumentaram os pobres em Portugal e que os gestores das empresas cotadas no PSI 20 ganham 486 mil euros por ano só posso concordar com Salgueiro Maia. Isto agora só lá vai com um 100 de Abril.

O problema é que o povo tem que perceber e acreditar nisso. E heróis teremos que ser todos nós!

Victor Franco

1 comentário:

Anónimo disse...

Presto aqui a minha homenagem a Salgueiro Maia.

Tudo de bom!