domingo, março 5

Um adeus a Sampaio

É verdade que das 113 visitas oficiais e de Estado ao estrangeiro, Sampaio privilegiou a Europa e os países de língua oficial portuguesa. Não é menos verdade que de todas as viagens realizadas, as que motivaram mais críticas, discórdias e incompreensão foram as efectuadas aos países da América Latina, com excepção do Brasil, por motivos óbvios.

Em regra essas viagens eram realizadas no âmbito das Cimeiras Ibero-Americanas e dos 20 países que a par com Portugal as integram, Sampaio esteve em 12 deles: Espanha, Chile, Brasil, Venezuela, México, Cuba, Panamá, Peru, Uruguai, Bolívia, Costa Rica e Paraguai.

Tolerava-se uma viagem do Presidente a França, à Alemanha ou a Espanha, mas insultava-se quando o destino era o Peru ou a Bolívia.

Posto isto, estou em crer que não são os pouco mais de 90.000 m2 quadrados, que fazem de Portugal um país pequenino, mas antes, a mentalidade tacanha e obtusa patente nos comentários expressos aquando as visitas de Sampaio a esses países.

Ninguém parou para pensar na enorme atracção e consequente tentativa de domínio que a grande potência do norte, vulgo E.U.A., exerce sobre a América Latina. A tradução institucional mais avançada desse assédio era o processo, recentemente falhado, de constituição da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), “produto” idealizado e 100% Made in USA.

Ninguém parou para pensar que na Cimeira Ibero-Americana, a representação europeia é assegurada apenas por Portugal e Espanha.

Ninguém parou para pensar que sem ALCA, resta o MERCOSUL, que se reveste de um particular interesse para Portugal, em virtude do protagonismo que o Brasil assume nessa organização e que assegura a este nosso pequeno país, um papel fulcral no contexto económico da América Latina.

Claro que esta questão só preocupa aos espanhóis. E têm motivos para isso. Pois aos nossos vizinhos não passou despercebida a entrada da Venezuela no MERCOSUL. Nem passou despercebido o facto de, nas negociações que antecederam essa entrada, o Presidente Hugo Chávez ter intercedido junto do Presidente Lula da Silva para que as Escolas do Brasil tivessem o ensino obrigatório do espanhol. E assim foi.

A lei que se encontrava na gaveta desde 1991, já está em vigor no Brasil, porém, desde então, igual pedido quanto ao ensino do português, tem sido reiterado pelo Presidente Lula da Silva junto dos países da América Latina. O que já não sei, porque não me é dado a conhecer, é o que Portugal tem estado a fazer nesse sentido. Desconheço também as acções do Instituto Camões nesta matéria, mas conheço as movimentações do Instituto Cervantes no único país da América Latina que fala português.

Pelo exposto não posso de deixar de dar o meu apoio às criticadas viagens realizadas pelo Presidente Sampaio. Talvez também, porque com alguma pena vejo partir um homem que creio ser de esquerda.

Cris

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