O DN de ontem trás uma pequena reportagem sobre o Arquitecto José Pulido Valente. Não o conheço pessoalmente, nem nenhuma obra sua. Nem o DN faz nenhuma referência a qualquer dos seus trabalhos. Já tinha ouvido falar dele contudo, mas mais pela sua actividade de denúncia de irregularidades. Lembro-me da Casa da Música e do Bom Sucesso, no Porto.
O que se evidencia na notícia é que se trata de um arquitecto mal-querido entre os seus colegas e também pelo poder autárquico que acusa de ligações “mafiosas” com os construtores civis. E onde não escapam alguns colegas arquitectos.
À falta de trabalho tem recorrido à publicação de livros dos quais o último tem o significativo nome de Remar contra a maré. Já antes tinha publicado o Acuso – Crónicas de urbanismo e arquitectura. A característica que mais se destaca é que este homem com 70 anos de idade tem uma de vida de luta e rebeldia contra o sistema e normalmente tem saído sai perdedor. “Mas não desisto”, acrescenta.
Soube agora que ainda jovem, tinha-se oposto com veemência, em especial com artigos de opinião, à construção do denominado Prédio do Coutinho em Viana do Castelo que agora vai ser demolido no âmbito do programa Polis. Na altura o argumento da Comissão de Estética para dar parecer positivo à construção é que na “horizontalidade da cidade ficava bem um prédio em altura”. Venceram os “merceeiros da terra”, considera Pulido Valente. E mais não acrescenta. Para mim foi claro não precisava adiantar mais.
Hoje décadas volvidas dão-lhe razão. O prédio em altura destoa da horizontalidade da cidade. Mas, o arquitecto está do lado contrário dos que pretendem demolir o Prédio do Coutinho e preconiza uma outra solução: defende que o prédio “deve ser demolido apenas no que está a mais em altura”.
Mas onde, Pulido Valente é muito cáustico é quando se refere à demolição do mercado de Viana, “um belíssimo projecto de João Anderson” para dar lugar a um edifício que albergará os desalojados do Coutinho. O que estão a fazer "é um crime, é máfia é pornografia intelectual, moral e estética". E estende essas criticas a muitos projectos urbanísticos que se estendem pelo país.
E como é isto possível? A resposta desassombrada do arquitecto: “Porque para ultrapassarem empecilhos, [PDM opinião pública, etc...] as câmaras chamam o Siza Vieira ou o Souto Moura para lhes fazerem os projectos que sabem que não podiam ser feitos” e depois anunciam que o município terá uma “obra de mestre”. E assim se calam muitas bocas. Quem ousará pôr em causa os trabalhos dos mesmos? “É uma bandalheira e uma vergonha”, acrescenta. Pulido Valente não podia ser mais explicito: Esses arquitectos dão cobertura a actos ilegais ou cometem atentados urbanísticos sem que alguém ouse levantar a voz.
José Pulido Valente, afirma que a área que está adstrita à construção nos planos directores municipais (PDM), dava para um país com mais de trinta milhões de habitantes. “E mesmo assim continua-se a fazer um país de monos ao alto, desabitados e em degradação”. Uma máfia entre municípios, construtores com a “cobertura” entre outros de célebres arquitectos.
Fiquei a admirar este homem. Ninguém lhe deu e dá ouvidos. Mas não se entrega e continua a sua luta. E como está de fora deste “meio”, continua sem trabalho. Mas não desiste e uma das suas grandes bandeiras é lutar pela demolição do Bom Sucesso, no Porto, que”viola as leis vigentes”.
Quanto ao plano de pormenor do Pólis de Viana para aquela zona estou, estou de acordo com Pulido Valente. A melhor solução seria mesmo não demolir o mercado municipal e também tendo a concordar com a solução do prédio do Coutinho.
Agora parece que não há outra solução, depois da demolição do mercado. Aqui está uma questão em que todos nós somos responsáveis e deviamos meditar bem. A pouca participação e exigência cívica, que nos leva a aceitar tudo, o que vem de certas cabeças iluminadas.
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