segunda-feira, março 13

Sócrates é um verdadeiro durão

Sócrates avisou que “o pior está para vir”. E a coisa parece bater certo. Na chamada “Convenção Novas Fronteiras” que este fim-de-semana se realizou António Peres Metello foi convidado para dar a novidade mais forte. “O ano de 2006 vai ser marcado pela reforma do Estado e o que se fizer é que vai marcar a governação” avisou. Tomemos bem atenção nas palavras do homem, “para a gente não se enganar em relação à situação”[1].

A tarefa “exige muita divulgação e explicação”. Aviso ao governo – vejam lá se sabem enganar bem o povo – apliquem bem a demagogia.

E continuou:
“Há 112 serviços que vão ser extintos […] e já foi anunciada a criação de um quadro de excedentes com vista à mobilidade interna… isto vai mexer com a vida de dezenas de milhares de pessoas…” disse, estimando em “duzentos mil os funcionários atingidos”.

Mas há mais:
“O problema é saber quem fica e quem sai e, aqui, os critérios têm de ser muito claros, apartidários e facilmente reconhecidos por todos… e sem receio de combater as corporações”. Ou seja: vamos pôr a malta a brigar, uns contra os outros, na disputa do emprego; vamos despedir e transferir para o quadro de excedentes mesmo aqueles que pedirem clemência porque votaram no PS; não vamos dar “hipóteses”aos sindicatos.

Depois de criticar a insuficiência da demagogia governamental quanto ao contínuo encerramento de serviços públicos, o iluminado Metello desafiou o PS para “começar a preparar-se para daqui a um ano responder por que é que o Estado tem a dimensão que tem e não menos, cortando serviços inteiros e entregando-os aos privados, em troca de uma substancial redução de impostos como propõe Miguel Cadilhe”[2].

A petulância conservadora está “na maior”. Metello avisa o PS para privatizar os serviços públicos antes de a (restante) direita se lembrar disso; e cita Miguel Cadilhe, um dos caudilhos da propaganda neoliberal.

Aí está Sócrates, dizendo com quem anda para sabermos quem ele é.
Sócrates é um verdadeiro durão (com letra pequena claro).

Victor Franco

[1] Frase célebre do meu amigo Cipriano Pisco, funcionário da Lisnave / Gestnave.
[2] As citações são do Jornal Público de 2006-03-13.

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