
Há quem considere que a proposta de primeiro emprego que concede às entidades patronais a possibilidade de nos dois primeiros anos, despedir o jovem trabalhador, quando quiser e lhe apetecer, vem promover a criação de mais emprego e fixar os melhores.
É um discurso a que já estamos habituados. Os patrões provavelmente acham ainda pouco. O ideal, para muitos, era que não houvessem regras e direitos dos trabalhadores. Direitos são privilégios, consideram eles.
De repente, dou comigo a pensar no Operário em Construção, de Vinícius de Morais, “dou-te todo esse poder/ e a sua satisfação/ porque a mim me foi entregue/ e dou-o a quem eu quiser/ dou-te tempo de lazer/ dou-te tempo de mulher/ tudo o que vês/ será teu se me adorares/ e ainda mais se abandonares/ o que te faz dizer não.”
Pois é. Eles dão-nos. Dão-nos o emprego. Dão-nos o dinheiro. Dão-nos a saúde. Dão-nos a educação. Eles dão-nos tudo e nós ingratos ainda resistimos. Não pode ser assim. Somos mesmo uns ingratos
O que está em causa em França, não é uma simples alteração de legislação de trabalho. É um modo de vida. É um estilo. O capitalismo quer mais, sempre mais. “Eles” estão sempre em grandes dificuldades, em crise, atravessam imensos problemas. E por isso querem mais. Mais precariedade, mais horas de trabalho, menos direitos sociais, sem baixas médicas, sem férias, sem sindicatos e menores salário. "Eles" querem o impossível. O paraíso na terra!
Aos jovens é-lhes negado, contudo, o direito ao sonho. A dar o primeiro passo na vida organizada. A pensar em comprar casa, carro, casar, ter filhos. Pensar o futuro, enfim.
Os governantes, os donos do poder e do dinheiro, deviam olhar com outros olhos para estes milhões de pessoas que deixaram o “conforto” do sofá, da paz social, da aquietação, do comodismo e vieram para a rua protestar. E manifestam-se em alguns casos violentamente. Não venham dizer-nos que quem se expõe assim, está enganado, que não percebe a bondade das propostas dos governantes, que estão ser manipulados. Chega dessa treta!
As pessoas querem ter uma vida tranquila, sem inquietude no serviço público, querem emprego com direitos e não uma lei da selva, querem estabilidade e não insegurança, querem trabalhar em sossego e melhor qualidade de vida. É pedir muito? Não, não é. É o mínimo exigível a quem está no mundo, quer trabalhar e ter uma vida digna. Com direitos e deveres, mas com decência. Empenhem-se nisso os nossos governantes e patrões e tudo seria diferente.
A dignidade não tem preço e o sonho também não tem limite!
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