
O grupo Sonae está no mercado das telecomunicações desde a liberalização das telecomunicações no início dos anos noventa. Na rede fixa com a Novis, na rede móvel com a Optimus e na Internet com o Clix. Na rede de cabo tão apetecível, o Grupo PT apenas concorre com a Cabovisão de Pereira Coutinho. Em todos estes segmentos do negócio das telecomunicações a PT é líder no mercado.
Mais de uma dúzia anos depois, sem excepção, todas as empresas que obtiveram licenças para operar, praticamente, não fizeram investimentos em infra-estruturas de telecomunicações, com excepção da rede móvel. Nestes anos, os novos operadores pouco mais fizeram, do que se encostarem ao proteccionismo do Estado, exercendo grande pressão sobre o regulador Anacom e operando parasitariamente sobre a rede PT.
Não tenho grandes dúvidas de que ao contrário do que afirmam, o Estado sempre favoreceu os novos operadores e obstaculizou invariavelmente o operador incumbente de avançar com novos serviços, produtos e preços mais baixos, para facilitar a penetração no mercado à concorrência. Quem não se lembra do anúncio, com toda a pompa e circunstância de Guterres, da aplicação da tarifa plana na banda larga de Internet? Quem não se lembra do boicote dos novos operadores ao lançamento do ADSL? Quem impediu o desenvolvimento de novas ofertas comerciais e de serviços de redes de grande débito, só porque os novos não tinham capacidade de competir? Quem inviabiliza a indexação do preço de assinatura do serviço telefónico com um período grátis de chamadas? Porque se impede o operador incumbente de contactar os clientes que ardilosamente foram para a concorrência, com ofertas de preços mais baixos, a não ser passados, uns meses, mesmo que os clientes se sintam ludibriados? Quem fixa os preços de venda por grosso dos serviços (redes), a preços mais baixos que na generalidade dos países europeus, com a manutenção a cargo dos técnicos da PT? Quanto investe o grupo Sonae, (e os outros operadores) em infra-estruturas, em formação, em investigação? Em instalações? Em pessoal especializado?
A concorrência trouxe, também, aspectos positivos no sentido em que obrigou a PT a melhorar a qualidade do serviço, na relação com os clientes, a investir em mais em tecnologia, na competência técnica e comercial, no plano de preços ao consumidor. Mas isso era o mínimo que se esperava de quem vem para o mercado e lhes são oferecidas as maiores facilidades para actuar. Não esquecer que após a liberalização das telecomunicações a PT esteve impedida, durante um largo tempo (penso que dezoito meses) de apresentar-se a concorrer ao nível do preço dos serviços.
É claro que não poderiam esperar que tudo fossem facilidades. E compreensivelmente a PT não largou tudo. Criou dificuldades ao nível da desagregação do lancete local. Bateu-se por preços de revenda mais altos. Não dispensou a rede de cabo. Atacou e defendeu-se onde seria legitimo fazê-lo. Não estivessem os novos operadores à espera de todas as facilidades e investissem a sério e tudo seria diferente.
Pode acontecer que o Grupo Sonae tome a PT. Belmiro de Azevedo já mostrou que tem visão estratégica, queda para o negócio, ousadia quanto baste. Não me perturbo com isso. Faz bem o que faz com mérito e competência. Mas o seu objectivo é tão-só, ganhar mais valor, ganhar mais dinheiro, como qualquer capitalista que se preze. Mas as telecomunicações num país são estratégicas para garantir a solidariedade social, os direitos dos cidadãos mais desprotegidos, a este meio de comunicações, em condições favoráveis que não dependam do negócio simples, a garantir o controle estratégico pelo Estado, de um sector tão sensível para a independência do país.
O Grupo Sonae com a OPA já garantiu a paralisação da empresa PT. Durante largos meses a gestão empresarial está condicionada à gestão corrente, não pode celebrar contratos, avançar com planos estratégicos. Ora objectivamente isto serve a estratégia dos concorrentes e em particular da Sonae. A Administração da PT está em condições, face à declaração de OPA hostil, de desencadear, se entender justificável, um procedimento judicial por danos materiais à Sonae. Para já, o que é sabido, é que com esta operação deixou inquietos os milhares de trabalhadores da PT e famílias, o próprio país ao anunciar, se adquirir a PT, o desmembramento de empresas, como a PT multimédia ou a fusão de outras como aTMN/Optimus ou da venda de importantes activos internacionais, como a Vivo. Sem resposta ficam também os trabalhadores da Empresa quanto ao seu sistema de protecção social, como o fundo de pensões e dos cuidados de saúde, para os quais ainda não se viram propostas concretas.
A manutenção das “Golden Share” e impedir o desblindagem dos estatutos por forma a garantir o controle estratégico da Empresa por parte do Estado é o passo necessário e indispensável como afirmaram a CT e todos os sindicatos do sector em comunicado conjunto.
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