A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, anunciou hoje no parlamento o encerramento de 1500 escolas, as que têm menos de 10 alunos.
O argumento da ministra parece esmagador, "a taxa de sucesso em escolas com menos de 20 alunos e muito inferior ao daquelas que têm mais de 100 estudantes. E por isso, a decisão de encerrar 1500 escolas é irreversível". Mas este argumento, lançado à "bruta", tem que se lhe diga.
Em primeiro lugar, porque não é unicamente o tamanho da escola que determina o sucesso ou insucesso escolar. O meio social envolvente, as capacidades financeiras e intelectuais dos pais, o dinamismo cultural e social da comunidade, os meios postos ao dispor das crianças, o isolamento físico de povoações onde tudo parece faltar...
Em segundo lugar, porque a primeira obrigação deste governo era lançar uma reflexão sobre o sistema de ensino no interior do país, uma visão autocrítica do seu papel (e dos governos anteriores) enquanto primeiro responsável pela educação.
Em terceiro lugar, porque não há sucesso em qualquer mudança que seja feita de forma imposta aos principais interessados. Por muito bem intencionada que seja.
Em quarto lugar, porque, na verdade, os objectivos do governo são outros. E quais? Economizar, economizar, economizar... menos escolas são menos professores, menos funcionários, melhor rentabilidade económica. O que o governo não diz é que quer criar megas-escolas onde amontoará crianças vindas de todos os cantos.
O que o governo também não diz é que pretende acentuar um modelo de desenvolvimento que despovoa o interior, litoraliza e centraliza a população. No interior deste país esquecido acabaram as delegações da EDP e da PT, estão a acabar os centros de saúde e as escolas mais pequenas. Os CTT já estão no mesmo processo, que será acelerado com o caminho para a privatização. Os serviços públicos (os nossos salários indirectos) estão a ser anulados.
O governo faz isto tudo em nome da melhoria dos cuidados de saúde, do aproveitamento escolar das crianças... eis um governo esperto. Eis um governo que sabe como se engana este povo dormente. Eis um governo que em nome da defesa do estado social lhe retira a solidariedade e só deixa a caridade. Eis um governo que em nome da defesa do almoço nos retira o jantar. Eis o governo PS - a "social-democracia" rendida ao neoliberalismo.
Victor Franco
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