quarta-feira, fevereiro 22

Grito de poema

(antigo forte/prisão de Peniche, hoje museu
Amigo:
Há dias visitei a ex-prisão de Peniche. Não conhecia. Situada à borda do mar onde o olhar se perde na liberdade das águas, as pedras que a sustentam gritam, ainda, poemas que foram a tentação de muitas horas de silêncio:

"Le Chien das la Vitrine" (Sátira)

Estar preso: - que grandíssima estopada!
Tão sempre iguais as horas e os dias...
... O bacio que se entorna... As queridas tias
Que nos vem ver e nos trazem marmelada;

Aquela meninota que "inda há dias
Andava ao colo da mãe, já está casada
Com o dono do talho!... O camarada,
(Que gozo!) a discutir filosofia

Em cuecas, com a barba meia feita,
O dedo em riste, a cara ensaboada...
... O olho que atrás do ralo nos espreita

E as tias outra vez, com marmelada...
A cama à noite, solitária e estreita
Ó Mário! Que gradíssima estopada!

Diniz Miranda (ex-preso)- 1959
...
Cela Disciplinar (Sátira amarga)

" A aranha
Deixou a teia em meio
E foi-se embora:

- O lugar era demasiado
Desconfortável.,,

Diniz Miranda / 1959

Não resisti a estes poemas. E, pensei no teu blog.

Um beijo
Lay

    (A Adelaide Graça, poeta vianense, e minha amiga, em boa hora, trouxe-me estes poemas que marcam o tempo de ditadura salazarista. Por lá passaram grandes anti-fascistas, como Álvaro Cunhal, Francisco Martins Rodrigues, Jaime Serra, Rogério de Carvalho, Dias Lourenço, etc. ... Era um dos locais mais terríveis, onde os presos eram isolados e aí eram constantes as torturas como o espancamento, sono, isolamento ou estatua.)
Obrigado Lay por me trazeres estes dois lindos poemas de Diniz Miranda, um militante anti-fascista e comunista alentejano.

Sem comentários: