Eu tinha todos os discos em vinil, do Zé Mário. Infelizmente alguns, perderam-se por aí emprestados. Agora tenho-os todos em CD. O FMI é um disco que foi editado, se bem me lembro, na mesma altura que o Ser Solidário, mas com a proibição expressa do autor, em que o mesmo fosse ouvido em público. Esta música deve ser ouvida "à época", um período conturbado, penso que nos fins dos anos 70. Portugal, vivia um período muito conturbado e os pequenos grupos "esquerdistas", eram dominados, no topo, por um pequeno grupo de intelectuais mas que imprimiam um discurso e uma prática muito radical e obreirista. Zé Mário foi um dos primeiros a perceber os "equívocos" destes grupos (M-L) e o lançamento do FMI é o seu "grito de alma", de revolta e de desconforto pelo rumo do País, e é, simultâneamente, uma marca indelével, do seu profundo empenhamento na luta de toda uma vida. Não por acaso, José Mário Branco foi considerado depois da morte de José Afonso, o "único" cantor, autor e produtor da música de intervenção, tal como ela foi conhecida, durante muitos anos, até aos dias de hoje. José Mário Branco que nessa altura já se tinha afastado da actividade partidária era olhado com desconfiança pelos "chefes" dos grupos esquerdistas e também era "perseguido" pelo aparelho do PCP e da CGTP (na altura, apesar de ser dos cantores mais requisitados, nunca participou na Festa do Avante e só muito mais tarde, foi convidado para as festas do 1º de Maio da CGTP), já para não falar dos grupos políticos e sindicais mais à direita. Era uma espécie de cantor maldito. Ainda hoje, José Mário Branco, é o cantautor mais respeitado por uma grande falange de admiradores, entre os quais me incluo.
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