sábado, agosto 26

Portugal deve participar na UNIFIL 2?

A derrota política de Israel no Líbano, mais do que a incapacidade de neutralizar o Hezbollah, o recente protagonismo de Kofi Annan e da ONU e, em particular, o arrufo italiano fizeram despertar alguns activistas-da-treta defensores do papel “insubstituível” da Europa e de um ressurgir do multilateralismo.
Deixem que vos traga apenas algumas breves notas à reflexão:

1. Israel decidiu unilateralmente (com o apoio dos EUA e da Inglaterra) invadir o Líbano. Quando bombardeava este território bombardeou e matou soldados da UNIFIL apesar dos insistentes alertas destes de que estavam a ser mortos.
2. Israel continua a cercar o Líbano por mar e pelo ar e sempre que entende continua a violar a resolução 1701.
3. Israel continuou a bombardear, a destruir casas, a matar populações na Palestina e a raptar dirigentes eleitos pelo povo palestiniano.

E, compreendendo a necessidade do governo libanez e do Hezbollah de pararem com as bombas que lhe caíam em cima da cabeça, a verdade é que:

1. A resolução 1701 é suficientemente ambígua para poder dar para os dois lados.
2. Ainda falta uma nova resolução que clarifique, de facto, o que fazer com os assuntos mais decisivos.
3. Ainda nada impõe uma disciplina internacional a Israel que o obrigue a respeitar as resoluções das Nações Unidas que ele sempre violou. Será essa força internacional?
4. Os EUA e a Inglaterra não se querem meter naquele vespeiro, porque será?
5. Ainda está por ligar a situação do Líbano à situação da Palestina – a raiz de todo o problema.
6. Qual o futuro do Líbano? Mais um protectorado internacional, como a Bósnia e o Kosovo, sem solução à vista?
7. Que garantia de que essa força internacional não se junta a uma possível guerra contra a Síria e/ou o Irão?
8. Há novos passos para a paz que precisam de ser dados…

Perante tudo isto, a participação portuguesa na UNIFIL 2 não é obrigatória, é imprópria e é desaconselhável.
Apenas o governo e se calhar algumas chefias militares, sequiosas de protagonismo guerreiro que depois há-de ser altamente mediatizado pelas televisões – apesar de não passarem de uns paus mandados e uns zeros à esquerda na escala de decisão –, acham que a presença de Portugal numa força internacional é assim uma coisa absolutamente transcendental e indispensável à resolução dos problemas no planeta Terra.
Neste quadro, político, militar e económico, os factores de predomínio do imperialismo continuam e qualquer actividade militar nesta zona estratégica do mundo ou a ele está subordinada, ou, se calhar, teria que ter um grande movimento mundial de solidariedade e contestação da guerra - coisa que não está a acontecer.
É pena, mas ainda é assim!

Victor Franco

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