terça-feira, agosto 8

Cuba II

Num post anterior colocava algumas reflexões. Elas suscitaram opiniões muito interessantes e sentidas. Gostei dessas reacções porque se colocam com abertura e sinceridade.

Por isso quero voltar à primeira pergunta: Pode haver socialismo sem direito de greve dos trabalhadores? Pode haver socialismo com pena de morte? Pode haver socialismo sem direitos humanos?

Não resisto a contar um dos episódios. Num dos hotéis, em Varadero, onde fiquei, estive de conversa com uma empregada de limpeza. Ganhava (há dez anos atrás) 20 dólares por mês. Parte do seu salário real era o que lhe vinha das ofertas de bens dos clientes dos hotéis, material escolar, de higiene e limpeza...

Falámos um pouco sobre a vida difícil que levava. Em dada altura perguntei:
E se fizesse greve por aumento de ordenado? Resposta pronta: "Não posso que me prendem".

Senti uma coisa estranha, eu estava a falar com uma trabalhadora num país dito socialista... tentei argumentar, mas não dava... não havia argumentos.

Se um país é socialista os trabalhadores precisam de ter direitos de cidadania. Não é isso que reclamamos no capitalismo? Como posso eu lutar por uma sociedade em que tenho menos direitos do que agora?

Reconheço os avanços na medicina, na educação... um pouco à semelhança dos outros países ditos socialistas. Mas a vida demonstrou que esses avanços são insuficientes para qualificar o socialismo. Não sendo comparável, também reconheço avanços desse tipo em países nórdicos - mas esses países são capitalistas. O socialismo não depende apenas do papel social do Estado - da maior ou menor redistribuição do nosso salário indirecto.

Há uma coisa importante a ter em conta: a relação entre as pessoas na sociedade - essa sociedade dá ou não direitos aos cidadãos? No socialismo precisamos de ter medo dos direitos das pessoas?

A pena de morte é um exemplo demarcatório. No socialismo todos os cidadãos têm que ter direito de acesso à justiça - cada vez mais negado no capitalismo. Então como é possível que alguém ordene fuzilamentos sem sequer a pessoa ter direito a um sistema judicial democrático? E mesmo que tivesse acesso, como é possível no séc. XXI existir a barbaridade da pena de morte?

Os direitos têm que ser parte integrante de um futuro socialismo. É por esse que eu luto.

Victor Franco

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