sexta-feira, dezembro 9

Soares ganhou e Jerónimo não perdeu

O debate Soares e Jerónimo tiveram um vencedor claro, Mário Soares.
A principal diferença em minha opinião foi a de que Soares falou para todos e Jerónimo apenas para o seu próprio eleitorado. Jerónimo não está muito à vontade nos debates. Tem pressa de dizer a lição estudada. A tentativa de se demarcar de Soares foi bem anulada por este e mal replicada por Jerónimo. Soares está como peixe na água mas prefere mais o confronto e o repentismo.

Jerónimo foi encostado à parede em alguns momentos.

Quando criticou o primeiro mandato de Soares na presidência e depois apoiou o segundo – Soares acutilante, responde "E apesar disso apoiaram-me, porquê? Porque o PC, sabe que eu sou isento". De uma cajadada mata mais outro coelho que era o de colar Soares à governação.

O segundo momento foi a posição de Jerónimo sobre as relações com a China. Embora a pergunta aparecesse a despropósito aí Jerónimo esteve bem ao fazer notar isso, mas depois nas explicações, não se sai bem (é dificil explicar o inexplicável) e embrulha-se nas suas contradições. Soares é contundente. "A China tem o pior do capitalismo selvagem e o pior do comunismo arrogante" e arruma para canto.

Um terceiro momento foi relativamente à Europa. A posição do Jerónimo é frágil e não sai do discurso pobre, pouco consistente e mesmo míope, sobre a Europa que o PCP tem sobre esta matéria. Mário Soares confronta com o que seria Portugal fora da Europa, "talvez uma Albânia". Jerónimo fica-se.

Soares também soube gerir as relações com os eleitores do Jerónimo para uma 2ª volta sem hostilizar o candidato e o partido.
De resto foram convergências com as dúvidas sobre a OTA, o apoio ao TGV, contra a guerra no Iraque, o papel da Nato.

Soares, foi a "velha raposa". No momento certo, atirava-se à caça e quebrava as regras com inteligência. Esperava um Jerónimo mais inciso a contrariar a cassete da inevitabilidade destas politicas, quando Soares defendeu a governação de Sócrates.

Em resumo: Jerónimo, apesar da sua figura empática não tem o rasgo e a sagacidade suficiente para ser mais acutilante. Tem contudo o discurso suficiente para satisfazer as suas hostes mais fiéis. Não ganhou nem perdeu com o debate. Soares mostrou estar bem. Foi convincente, apesar de alguns lapsos como na declaração final "Eu sou o presidente", mas em minha opinião ganhou terreno a Alegre nesta disputa entre os dois.

Foi um debate mais animado do que o produzido entre Cavaco e Alegre todo cheio de salamaleques e muito cerimonioso, mas não muito entusiasmante.

Apesar disto fico com a convicção que este modelo de debate não favorece as candidaturas mais ofensivas como são as Soares e Louçã que vivem mais do confronto de ideias, da argúcia, da resposta na ponta da língua. Penso que este modelo não favorece o estilo aguerrido e frontal de Louçã que só teria a ganhar com o debate cara a cara.

Este modelo hermético favorece claramente as candidaturas mais defensivas de Cavaco e Alegre ou mesmo de Jerónimo bastando ter a lição bem estudada para as perguntas conhecidas.

Aguardemos pelo debate de hoje entre Louça e Cavaco Silva. Apesar das limitações do formato espero que Louça dê uma lição ao "senhor professor".


Sem comentários: