quarta-feira, dezembro 21

O (des)acordo na Autoeuropa

Há dois anos o acordo entre os trabalhadores e a administração da Autoeuropa foi elogiado por quase todos os sectores da sociedade, como um acto de bom senso, responsabilidade, competência negocial e destacado como modelo a seguir, por outras empresas e sindicatos.

O propalado acordo, foi conseguido, devido a um grande sentido de responsabilidade dos trabalhadores, ao cederam nos seus direitos sociais, incluindo o congelamento dos salários durante três anos, para assegurar a competitividade da empresa e a manutenção dos seus postos de trabalho e das dezenas de empresas e centenas de famílias dependentes da economia subsidiária local e nacional que a Autoeuropa promove.

Passado este tempo de sacrifícios, legitimamente os trabalhadores pensaram que era a altura indicada, para reivindicar aumentos justos que recompusesse a perda de poder de compra, achando que a empresa, este ano, tinha condições para que isso sucedesse.

A administração e a Comissão de Trabalhadores depois de uma ampla discussão, não cederam ao “fantasma” real, de fecho da empresa, mas agitado de forma descabida, e com a firmeza e a flexibilidade necessária, obtiveram um princípio de acordo, que no entanto, acabaria por não ser ratificado, pela maioria dos trabalhadores (52 por cento), um tanto surpreendentemente.

Ao que sei, esta negociação é conduzida pela Comissão de Trabalhadores que alberga no seu seio várias tendências sindicais e politicas mas como a prática tem mostrado, tem sabido estar à altura das suas responsabilidade, não obstante, parece-me, pelo que leio e pressinto nas várias posições públicas, alguns sindicatos e partidos, à margem, tentem exercer a sua influência, para um lado ou outro, o que é normal, mas os trabalhadores tem sabido estar acima das interferências nefastas e não se deixam seduzir de qualquer maneira.

Pela parte que me toca espero que cheguem a um acordo vantajoso para os trabalhadores e confio que, tal como no passado, irão ter a lucidez bastante, para saber os seus limites reivindicativos, em nome do interesse dos próprios e do colectivo.

Lamentavelmente, aqueles que no passado, elogiaram os trabalhadores, pelo seu grande sentido de responsabilidade, já saíram da toca a censurar os trabalhadores pela sua decisão.

São assim os oportunistas. Antes, estes trabalhadores eram um exemplo, hoje são uns parasitas que só olham para os seus interesses. É preciso não esquecer que estes trabalhadores foram considerados, não há muito, dos mais produtivos, competentes e com a mais baixa taxa de absentismo no universo do grupo VW. Em Portugal eram considerados por todos, um exemplo de competência, competitividade e responsabilidade.

O que mudou? Os trabalhadores são os mesmos, os dirigentes são os mesmos, a avaliação que a maioria dos trabalhadores, fizeram da situação é que é diferente e merece ser respeitada. Se no passado souberam estar à altura, agora com a sua inteligência, saberão, também, encontrar as saídas adequadas, sem pressões ou ameaças.

É por isso inadmissível a chantagem e a intimidação, do Ministro da Economia, Manuel Pinho, exercida sobre os trabalhadores, com afirmações inconcebíveis como “ os trabalhadores são os únicos responsáveis” ou que este acontecimento “mancha a história positiva do País”, colando-se ás posições da administração da Autoeuropa, em vez de assumir um papel mediador, como lhe competiria.

Sem comentários: