segunda-feira, junho 5

Tempo de reflexão

Quando, atravessados por um tempo em que o homem eufemisticamente se rotula de civilizado, com o mundo já dividido entre as grandes fortunas e as maiores misérias, entre as classes mais mediáticas e as mais desprezadas, entre os cada vez mais ricos e os cada vez mais pobres, é aí que nos apercebemos da dureza que advém do nosso egoísmo e da nossa vaidade, da prepotência do poder e da ganância pelo acumular de riquezas fáceis.
Mas o maior dos males, hoje, reside ainda na corrida às armas de destruição maciça. Ou na loucura dos eternamente depravados.

Como o mundo está!...

E em que mãos colocamos o nosso destino e a segurança do planeta ao eleger com o voto aqueles que, doravante, mereciam pelo voto ser derrubados! Os que, afinal, só pensam em fazer a guerra, os que praticam todos os tipos de tráfico, os que agridem constantemente os mais elementares direitos da pessoa humana, os que atiram milhares de idosos e crianças para campos de concentração e de refugiados.

Ao elaborar este texto pergunto-me se, porventura, não estarei a traçar uma ideia de exacerbado pessimismo. Certo e absolutamente que não!
O contrário, seria não ter consciência da realidade, não querer ver.... não querer assistir... recusar aceitar...
Seria esquecer que, nesta conjuntura, morrem por ano cerda de dez milhões de crianças com fome em todo o mundo. Seria não querer assistir à mais sofisticada forma de escravidão nos nossos dias. Seria recusar ver a diabólica manifestação da mentira sobre a verdade. E isto, caros leitores, obriga-nos a uma reflexão profunda.

E, para esquecer misérias e injustiças, nada melhor do que entrar na onda da selecção de futebol que nos é impingida pelos donos da TV, sem que nos falem do esbanjamento e do desperdício que tudo isso acarreta.
Depois, isso mesmo: temos ainda o Santo António, o S. João, o S. Pedro e outras romarias populares espalhadas por tudo quanto é terra. Muita festa e muito pagode para levantar o viço. Para uma falsa auto estima. Para dar largas ao nosso entusiasmo. E, apesar de tudo, esquecer... para fazermos de conta que nada de anormal se passa à nossa volta. E tudo é tão efémero, meu Deus!
Salvam-se os verdadeiramente Santos, sempre filhos do anonimato, formiguinhas de Deus e peregrinos do Amor que, voluntariamente, colocam toda a sua força e toda a sua inteligência ao serviço dos famintos, dos desprezados e dos esmagados. Porque vivem os seus dramas e interpelam-se com os dramas dos seus irmãos. Vivem a sua dor procurando minimizar a dor dos seus irmãos, vivem a sua solidão interiorizando a solidão dos seus irmãos. E, nesta grande caminhada do Amor, ainda transportam consigo carradas de esperança para dar aos desesperados, aos doentes e aos sem abrigo. São assim, simplesmente assim, os que amam em abundância.

Álvaro de Oliveira

(artigo também publicado no Correio do Minho)

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