domingo, junho 25

sem o mais leve murmúrio

sem o mais leve murmúrio se despede o vento brando e azul
e áspera a tarde sobre os teus cabelos carrega uma asa
de mortalha o primeiro sinal de um cigarro artesanal
e frio
talvez um verso proibido te convoque para a geometria
de outras páginas na longura desta imensidão searas
que te esperam verdes e há nelas um repúdio de vento
que sopra sobre a voz que lá longe acompanha um violino
triste
temo que os tentáculos do sistema te cortem a arte de construir
um cigarro e a alegria das palavras que inventaste nos primeiros
dias de abril leio poemas pelo correr da tarde e caminho
pelas imagens da tua ausência aí tomo o relembrar
desse primeiro sinal o teu cigarro amortalhado ao lado
desse violino triste e a voz desfaz-se
em baladas de orvalho
como são longas as horas e breves as águas quando o sol
à tardinha nos fala de outra sede

Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa 23)

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