quinta-feira, janeiro 19

Uma segunda volta sem história e com um triste fim.

Um terço dos eleitores do Bloco, segundo uma sondagem, diz ir votar no Manuel Alegre. Aparentemente, esse terço perdido, irá ser recuperado, basicamente, em eleitores socialistas de Sócrates e em perdas e recuperações cruzadas na esquerda, pelo que tanto Louçã como Jerónimo, não devem ter grandes oscilações, com votações próximas dos resultados das últimas legislativas.

Já é um fado, triste por sinal, como são quase todos os fados.

Andamos nisto há anos. O País não consegue sair da cepa torta por medos. Medos de fantasmas interiores que nos consomem. Medos de mudanças a sério e uma grande dose de falta de coragem. É sempre o mesmo. A cada desencanto, aparecem novos “encantamentos” que rapidamente se desvanecem para dar lugar a novos desencantos, até novos encantos que hão-de vir. E assim se faz Portugal.

Somos um povo que gosta de sofrer. Anos após ano andamos a fazer escolhas menores. Úteis, dizemos nós. Sempre em nome de um mal menor. E acabamos por ficar com o mal menor rapidamente transformado em igual ou pior. Ainda há pouco tempo saímos de umas eleições em que trocamos um mal por outro mal menor (governo Sócrates) e muitos já se arrependeram. Até à próxima eleição. Altura em que voltaremos a votar no mal que antes recusamos.

É a vida como diria o outro.

Agora como se não bastasse um mal maior (Cavaco), muito dos apoiantes da Alegre, logo na primeira volta, descobrem que é preciso combater, não um, mas dois males maiores a combater (Soares e Cavaco -que para eles são iguais) e escolhem um mal menor. O Alegre, contra Cavaco.

Manuel Alegre, por si, já ficará muito satisfeito se ficar à frente do Soares. O resto vem por acréscimo e que tão bom que é, para ele, claro. Se Cavaco Silva ganhar, Manuel Alegre, não deixará de dormir descansado, mas se Soares ficar à sua frente vai, seguramente, ter umas noites de insónias.

Nada a fazer! Quando a vaidade e o oportunismo se sobrepõem e os tontos do costume (com todo o respeito por quem está sinceramente crédulo na bondade da sua candidatura), são embalados nestas tretas de ocasião.

Em minha opinião Cavaco Silva vai ganhar. À segunda volta. Antes disso vai ter que sujeitar-se a novos debates (era bom que fosse com Louçã). Na minha análise, os candidatos da esquerda vão ter, juntos, mais que 50 por cento dos votos e Cavaco irá novamente a votos. Mas na segunda volta, nenhum candidato da esquerda, qualquer que seja, irá fazer o pleno dos eleitores que votaram nos outros quatro candidatos.

Alegre na segunda volta não vai buscar eleitores a Cavaco (ninguém irá) e não terá o pleno da esquerda. As razões, dos apoiantes de Alegre que se recusam a votar Soares, serão as razões, de muito dos Soaristas para recusar-se a votar Alegre. A maior parte dos eleitores do Partido Socialista que está com Soares, não irá nunca votar Alegre, numa segunda volta. Não conseguiu à primeira não vai conseguir à segunda. Alegre não foi o escolhido pelo PS e muitos militantes não aceitam que Alegre concorra contra o próprio partido.

Alegre, à esquerda desiludiu muita gente e perdeu a consideração e o respeito que antes tinha, com a sua arrogância, as suas incoerências e ataques desbocados e mesmo caluniosos, a que acresce a impreparação e falta de ideias, (apenas favorecido devido às fragilidade do PS de um mal Governo Sócrates e de um discurso reaccionário, perigoso e aproveitador dos sentimentos antipolíticos e antipartidos – surpreendentemente, aceite em alguma áreas de eleitores do Bloco), e por isso não lhe auguro bons resultados na segunda volta.

Soares não tem nenhuma possibilidade na segunda volta, quando deixou de ter apoios numa certa esquerda que, surpreendentemente, recuperou assuntos do baú, julgados arquivados, depois de ter ganho duas eleições presidenciais. Também não irá buscar, a maioria dos votos dos socialistas Alegres. A colagem excessiva às políticas do Governo prejudica-o muito agora, e numa segunda volta será fatal.

O Jerónimo e o Louçã, infelizmente, não conseguem ultrapassar alguns estigmas que lhes estão associados e descolar da percepção generalizada de que não têm qualquer hipótese, apesar de terem feito os dois, à sua maneira, as melhores campanhas e no caso de Louça ser reconhecido como o candidato mais capaz e competente.

Esta poderá, pois, vir a ser, uma segunda volta sem história e com um triste fim. Só um candidato estaria preparado para dar luta a Cavaco no terreno da luta política e das questões económicas, como já aconteceu nos debates da pré-campanha e esse é Francisco Louçã.

É a minha aposta de coração mas também da razão. E fico com uma certeza a de que nunca me arrependerei.

Alegre ou Soares um deles irá à segunda volta, entre os dois prefiro, indubitavelmente, Soares.

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