quinta-feira, janeiro 5

Acudam-nos!

Esta campanha eleitoral está a tornar-se enfadonha. Parece que já está tudo dito e tudo decidido. E afinal, quase nada se disse de importante. E parece que também não estão interessados. Quase parece que os resultados das sondagens satisfazem todos. Com uma pequena nuance: Cavaco Silva quer ganhar à primeira e os restantes candidatos, querem empurrá-lo para a segunda volta! A excepção parece ser Manuel Alegre que lhe será indiferente, a não ser que seja ele próprio a ir à 2ª volta.

Cavaco Silva quer despachar já isto na primeira volta. Ele não está para se chatear com uma segunda volta! Mais debates televisivos, mais contactos de rua, mais sessões públicas, visitas, aturar jornalistas, prestar esclarecimentos, ser confrontado, ouvir criticas? Não! Isso não é para uma pessoas da sua estirpe. Ele não ouve, não responde, não modera, não conversa. Ele afirma, ele é superior, ele manda, ele comanda, ele é que sabe, ele é o salvador. Ele se não ganhar à primeira volta é capaz de desistir. Falo a sério. Ele não é homem para sofrer derrotas. Já lhe bastou perder em 1996, contra Sampaio. E por isso desapareceu, sem “produzir” nada a não ser dar umas aulitas.
Tadinhos de nós, se o temos de gramar!

Mário Soares desperta-me sentimentos contraditórios. Eu até simpatizo com o Homem. É uma pessoa solta, tem um discurso forte e sem peias. Diz sempre o que pensa mesmo que politicamente incorrecto ou obtuso. É uma pessoa do povo, afectuosa e carismática. Sabemos quem ele é com todos os defeitos e virtudes. Mas tem constrangimentos fortes: um percurso político sinuoso, especialmente, como Primeiro-Ministro, com alianças, com o PSD, com o CDS e imensas medidas impopulares e desnecessárias, mesmo contra-natura e tem outras questões não esclarecidas, como foi o caso “Macau” ou o papel de Carlucci, entre tantas outras. Tem muitos anticorpos na esquerda. A colagem às políticas do governo, também o prejudica fortemente. E tem um grande handicap, que é a idade, não obstante a impressionante capacidade física e mental que ainda demonstra, mas já confunde e “tropeça” muito, (Ribeiro e Castro, o mais flagrante) e no fim do mandato, terá oitenta e cinco anos.
Não sei ao que veio!

Manuel Alegre é a maior desilusão. Aquele que poderia ter sido é o candidato “escolhido” da esquerda se tivesse a coragem e convicção de avançar como candidato, à semelhança do que fez Sampaio em 96 sem esperar pelo apoio do seu partido é afinal uma pessoa ressabiada, vaidosa, um pouco petulante que procura um ajuste de contas e a glória de uma carreira política inócua. Talvez consiga uma outra estátua. Adivinha-se um novo PRD. Tenho de concordar com Pacheco Pereira quando afirma que “o que Alegre diz sobre qualquer tema é vago, confuso, ou lugar-comum”. Em minha opinião, por muito que possa doer, Fernando Rosas, caracterizou bem a campanha de Alegre” Manuel Alegre não sabe muito bem do que fala, acerca de assunto nenhum”. E mesmo quando, aparentemente, usa o verbo, vem carregado de um nacionalismo perigoso e confuso que tenho dificuldade em entender, como “ a energia criadora de um povo que
se orgulha da sua história e da sua marca que deixou no mundo”. Como diz o Historiador José Neves, “falta de rigor intelectual ou conveniência estratégica”. Proponho-vos um exercício: imaginem o discurso de Alegre se tivesse tido o apoio que pediu ao PS, como seria o seu discurso? Os eleitores de Alegre estão, maioritariamente, no centro político, embora cuidem de estar na esquerda do PS.
Alegre não é a renovação!

Jerónimo de Sousa é o PCP com as suas qualidades e defeitos. É uma figura com carisma e simpática à vista. O problema é que não descola do discurso para dentro do partido, para segurar as hostes. Mas em substância nada mudou. Ainda há dias, em entrevista ao DN, concedia que os países, governados pelos Partidos Comunistas da China e da Coreia do Norte, com quem tem relações de proximidade, são socialistas embora não perfilhasse para Portugal um modelo igual. Tem feito uma campanha sem sobressaltos, mas demasiado previsível, certinha, mas sem rasgos, em particular nos debates. Tem imenso “medo” do crescimento do Bloco.
Cumpre o papel, mas tem um discurso batido!

Francisco Louça é o mais consistente e o mais bem preparado. Com ele não há baldas. É estudioso, inteligente e competente. O seu discurso é forte, não tem medo das palavras, tem posições muito claras e trouxe para o debate questões e propostas que ninguém ousou contestar, técnica e politicamente. Tem um curriculum impressionante. Francisco Louçã, além de deputado e coordenador do Bloco, também lecciona na universidade, publicou uma série de livros de investigação na sua área, individual ou com outros reputados economistas internacionais, traduzidas em várias línguas e publicou artigos, nos mais prestigiados jornais internacionais, foi convidado para conferências e colóquios no estrangeiro. Comparando com Cavaco Silva, nestes seus dez anos de exílio, apenas foi professor e publicou dois livros autobiográficos. Nos debatos a dois foi o mais esclarecedor e competente.
É o candidato da esperança de renovação das políticas e dos políticos!

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