segunda-feira, janeiro 9

Que fazer?

Às vezes, paro para pensar, nos precisos termos que isso possa significar; parar mesmo, faço-me entender? Pensar é um acto mais ou menos irreflectido. Estamos sempre a pensar. Nesta nossa massa cinzenta, ao mesmo tempo, fervilham, turbilhões de pensamentos. Acontece com todos, presumo. É por isso que digo que paro, às vezes, para pensar. Parar para pensar só num assunto. Comummente chama-se a isto, reflectir, pensar muito, ir aos pormenores para compreender melhor.

Há pessoas que pensam melhor que outras. Gozam de mais instrução, são mais brilhantes, possuem mais informação, desenvolveram melhor certos neurónios. Admito isso sem custo. Mas, por si só, tais capacidades não as habilitam mais. Ou são, as suficientes para ter uma melhor opinião, mesmo quando se apresentam todas juntas. Há muitas mais variáveis que constroem um pensamento. A nossa vivência, o nosso trabalho, o meio em que nascemos e convivemos, as circunstâncias da vida, forjam personalidades distintas e sabedorias diferentes. Por isso somos diferentes. É no encaixe de algumas destes peças, do puzzle da vida, que se alinham causas idênticas e se juntam as pessoas em volta de certos propósitos.

Todos sabemos isto. Negar é negar a evidência. É a esta luz que encontro a explicação para diferentes posicionamentos em questões capitais da organização da sociedade. Que vejo os alinhamentos à esquerda e direita, plurais, que interpreto a luta de classes sociais. Esta lição deu-me a vida. É claro que a leitura de Marx ou Engels ou de outros pensadores marxistas, ajudou a consolidar um pensamento, a perceber a relação dos acontecimentos. Mas foi sem dúvida a “escola da vida”, as dificuldades, a pobreza extrema, a injustiça social, a guerra colonial que nos deram consciência social e mais tarde, a consciência politica que criaram as pessoas que hoje somos.

Nunca poderei vir a ser uma pessoa de direita. É seguro! Nunca poderia trair a minha memória e a memória de tantos que lutaram e lutam por um ideal de sociedade mais justa e que não se conformarão com as desigualdades. Posso, com o passar dos anos moderar ou radicalizar as minhas posições, posso ter momentos de desânimo e desilusão, posso “ameaçar” desistir, posso mudar a minha forma de intervenção, mas nunca, nunca deixarei de ser uma pessoa da esquerda exigente, da esquerda combativa, da esquerda que não abdica dos seus valores mais profundos. Essa esquerda está em muitos partidos e até fora deles. Ela saberá encontrar, os denominadores comuns para encontrar as energias para estas batalhas de transformação. Tenho essa convicção.

É claro que os grandes momentos de desilusão acontecem quando se travam grandes disputas, se emprega todo o nosso esforço e tudo fica na mesma ou volta atrás. Espero pelo dia em que os grandes vitimados atirem a pedra ao charco e dêem a confiança a quem pretende mudar, a sério, as coisas.

Vasco Pulido Valente, enfastiado faz um diagnóstico destas eleições presidenciais, quase perfeito. Para ele:

Cavaco Silva, “arrasa” a concorrência porque o eleitorado o associa a “prosperidade”. Alegre tem uma razoável votação por que “faz figura” o que lhe basta quando metade do eleitorado PS detesta o governo. Soares, perde porque esta simpática sociedade não gosta de velhos. Jerónimo e Louçã ficam de fora porque ninguém os consegue imaginar em Belém e Louçã, fica atrás de Jerónimo, por falta de uma “máquina” e porque no fundo, o papel de revolucionário oficial do regime (de que nunca mais conseguirá sair), diverte a populaça, mas não leva longe.”

Terá razão? Que fazer?

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