sexta-feira, junho 30

Logo tenho Assembleia Municipal e eu ...


Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

(...)

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar

Porque até aqui eu só:

Estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só quero estar
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou

António Variações

Adenda: que dia é hoje?

quinta-feira, junho 29

Fechar Guantánamo

Uma decisão histórica do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, decreta o encerramento da prisão de Guantánamo.

A base naval de Guantánamo (em território cubano) existe há mais de cem anos e nos últimos tempos tem servido para os Estados Unidos encarcerar centenas de pessoas, sem quaisqueres direitos civis e ao arrepio da convenção de Genebra, no que respeita aos procedimentos com prisioneiros de guerra, e do respeito pelos direitos humanos, estando neste momento detidos,
"cerca de 660 prisioneiros, de 43 países". Segundo a ONG Centro para os Direitos Constitucionais, há presos com idades de 13 a 15 anos e também com mais de 80 anos, apelidados de terroristas, à revelia dos direitos humanos e da justiça internacional,em nome do "combate ao terrorismo".

Esta decisão reforça os apelos internacionais de organizações de defesa dos direitos humanos, da ONU e de alguns países da União Europeia e de todos as pessoas que defendem a justiça e os direitos humanos.

O Governo Português deve aproveitar a oportunidade para tomar uma posição pública, preconizando o encerramento da prisão de Guantánamo.

Passo a Passo

Passo a passo em Anisa faço um traço
pudesse eu segurar tal frescura
e no traço em Anisa me refaço
fazendo-me nos passos da longura.

Então, traçado o céu: o grande espaço
onde um passo se expõe destinatário
e quando o homem nega o próprio passo
logo esse passo é dado ao contrário.

E um passo vale tudo e vale nada
levado à medida do espaço
o espaço que se torna a cada passo.

Aí passa por mim a madrugada
depois que faço um traço em cada passo
no passo em Anisa me refaço.


Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(sete sonetos para Anisa)

quarta-feira, junho 28

Assinatura telefónica convertida em minutos de conversação

A Portugal Telecom apresentou uma proposta à Anacom, para que o valor da assinatura telefónica seja convertida em minutos de comunicações. Esta medida é positiva e há muito que é reclamada por muitos clientes.

Esta proposta já mereceu a discordância pública da Tele 2. Devem seguir-se a Novis de Belmiro e a Oni da EDP. Eles ou não concordam com a proposta da PT ou no mínimo querem que a oferta seja extensível aos outros “operadores”.
Era mais uma originalidade. Nada impede que os novos operadores ofereçam a assinatura, convertida em minutos,
como a PT pretende fazer. O que não devem é esperar que a PT lhes ofereça a linha, gratuitamente, para beneficio dos seus clientes.

Nós sabemos que esta liberalização das telecomunicações foi e é uma chuchadeira. Mais de uma dúzia de anos depois os novos operadores ainda querem tudo. Porventura quererão até acabar com a PT. Não pode ser.

Tudo isto está mal desde o inicio. Em minha opinião, parece-me que a solução deveria passar pela rede básica, voltar à posse do Estado (nesta situação, os trabalhadores da PT que operam com as infra-estruturas seriam integrados, se o desejassem, na nova empresa do Estado). Na posse da rede básico o Estado pode e deve gerir as infra-estruturas, sem privilegiar nenhum operador.
Uma outra alternativa seria a PT criar uma nova empresa, com o único objectivo de gerir a rede, de cabo e cobre, com uma lógica de competição ente si. Com esta separação , entre as redes de cobre e de cabo
a concorrência era mais forte e teria mais e melhores ofertas e os consumidores, ganhavam com isso, também ao nível da qualidade dos serviços e dos preços.

Hoje pela razão da PT ser grossista e simultâneamente retalhista além de lider destacado do mercado, prejudica o consumidor e a oferta inovadora de serviços, na medida em que, com toda a lógica, a PT não vai competir entre si, com empresas do mesmo grupo. Por exemplo, assistimos a PT a oferecer a banda larga em ADSL a nível nacional e a TV Cabo não. Assistimos a TV Cabo a não fazer a oferta em telefonia. Assistimos a PT Comunicações, a não oferecer o sinal televisivo. E por aí afora.

É para mim claro que a criação de uma empresa, para gerir a rede básica de telecomunicações, independente dos operadores, iria criar melhores condições para o desenvolvimento de uma sã concorrência e de melhores ofertas comerciais e tecnológicas e melhores preços para os consumidores.

Esta nova empresa detentora das infraestruturas deveria ser uma empresa do Estado.

É claro que eu compreendo-os a todos. Estas empresas visam o lucro. E por isso não se dão ao luxo de investir a longo prazo e socorrem-se do Estado para ganhar o mais possível com o menor investimento. Mas ao Estado cabe fazer a opção, sobre o que é melhor para o país, para a economia do país e também para os trabalhadores das empresas. Não cabe servir os interesses das empresas se não contribuirem para a melhoria e bem estar do país.

A grande verdade é que os novos operadores quase não investem ou investiram, nestes anos todos, em tecnologia, em infra-estruturas, em equipamentos, em investigação, em formação, em criação de empregos e aguentam-se, a parasitar na rede de outros, à custa de alugueres das linhas, a preços simbólicos e é natural que por isso se sintam "ameaçados" com esta proposta.

Em minha opinião empresas como a Tele 2, nem deveriam ter licença para operar, pois são exemplos de intermediários que não trazem nenhum valor para o País. Com apenas “meia dúzia” de pessoas, alguns computadores, usando as linhas telefónicas da PT, alugadas a preço irrisórios, fixados pela Anacom, realugam-as aos seus clientes pelo valor da PT e vendem o tráfego telefónico a preços mais competitivos. Fácil, não é?

Pudera! Sem terem que investir em nada, são apenas parasitas que vivem à custa dos meios e recursos dos outros, no caso da PT. Não interessam.

O que era desejável é que estas empresas fossem empresas a sério. Empresas a competir no mesmo terreno da PT, colocando as suas capacidades de gestão, em todos os sectores de negócios de telecomunicações, com ofertas comerciais atractivas, com serviços inovadores, investindo nas redes físicas com as melhores tecnologias, formando ou contratando os melhores técnicos, apostando na investigação.

Mas isso não se vê! A Sonaecom prefere comprar tudo feito (a PT) a preço da chuva. A EDP, quer vender a ONI, A Tele 2, prefere continuar a parasitar. A Anacom não lhes tem complicado a vida. Parece-me, contudo, que está a fazer um trabalho com independência.

A continuara assim um dia destes não temos concorrência!
Apenas se pede que os novos operadores da rede fixa, imitem os operadores da rede móvel. Invistam. Todos temos a ganhar.


terça-feira, junho 27

O "roubo" nos valores da reforma dos trabalhadores da PT e dos CTT

Com as alterações do cálculo da reforma introduzidas pela Lei 1/2004 na Função Pública, os aposentados da Caixa Geral de Aposentações, após 31 Dezembro de 2002, deixaram de receber o valor da última remuneração, passando a depender da média dos últimos três anos.

Os trabalhadores da PT e dos CTT tinham o seu sistema de reformas, alinhado pelo mesmo estatuto da Função Pública, como empresa pública e de natureza pública que eram os antigos CTT.

Em 1992, com a alteração da forma jurídica dos CTT, para Sociedade Anónima, os trabalhadores, admitidos a partir dessa altura, passaram a estar vinculados ao sistema de Segurança Social.

Concomitantemente, para os trabalhadores no activo, ficou a salvaguarda por DL 87/92, de 14 de Maio,no seu artigo 9º 1 e 2 que: “ os regimes jurídicos definidos na legislação aplicável ao pessoal da empresa pública [sublinhado meu] Correios e Telecomunicações de Portugal vigentes nessa data continuarão a produzir efeitos relativamente aos trabalhadores referidos no número anterior “. O nº anterior refere que “ os trabalhadores e pensionistas da empresa pública [CTT] …mantém todos os direitos e obrigações de que forem titulares na data de entrada em vigor do presente diploma….”

Inexplicavelmente a Caixa Geral de Aposentações, decidiu, na sequência de um despacho do secretário de Estado do Orçamento, alterar este alinhamento com os trabalhadores da Função Pública, à revelia do DL acima referido e incluiu-os no regime de contrato individual de trabalho, o que em termos gerais, veio agravar em mais 10 por cento o valor da aposentação, em comparação com os funcionários públicos. Foram duplamente prejudicados.

Como é natural, os trabalhadores e as organizações de trabalhadores não aceitaram esta alteração e questionaram o Procurador-geral da República. Ouvido o seu Conselho Consultivo, através do parecer nº 31/2004, o PGR, deu razão aos trabalhadores. Contudo, o Secretário de Estado do Orçamento, decidiu não homologar o referido parecer.

Agora e depois de uma petição dos trabalhadores, os grupos parlamentares do PCP e do Bloco de Esquerda, vão apresentar projectos de resolução para permitir a reposição dos valores das reformas, aos trabalhadores aposentados ou a aposentar, com vinculo anterior a 19 de Maio de 1992, nos estritos termos do que é concedido aos trabalhadores da Função Pública.

Escusado será dizer que esses 10 por cento davam jeito, para além de justos, num momento em que em que os valores da reforma já tinham baixado bastante com a alteração da fórmula de cálculo.

segunda-feira, junho 26

O orgulho Gay

Este fim-de-semana decorreu em vários pontos do mundo, as marchas do orgulho gay.

Nada a dizer contra. Hoje, cada vez mais, o mundo está a encarar esta nova realidade, como normal. A homossexualidade existe, não se pode fechar os olhos. E existe, independentemente de uma vontade expressa individual.

A homossexualidade acontece. Basta ouvir ou ler alguns testemunhos. Acontece, simplesmente. Sem saber como, os homossexuais descobrem que gostam de pessoas do mesmo sexo. Que têm essa inclinação sexual. E não há nada a fazer. Nem a opor. As pessoas gostam-se e amam-se e mais nada.

Embora possa parecer contra-natura, nem isso, hoje, parece assim, tão evidente.

Agarrados que estamos a uma cultura religiosa que nos “impôs” determinadas normas de comportamento e de regras morais, tendemos a julgar como anormal esses tipos de comportamento. Porque fomos educados a ver a família de uma determinada forma. Habituados a que a procriação, se tinha de fazer no espaço de um casamento entre pessoas de sexo diferentes e durante uma relação sexual.

Hoje, sabe-se que não é assim. A sexualidade, o amor, sempre aconteceu, com pessoas do mesmo sexo, ao longo dos séculos. E a procriação deixou de ser um entrave com o avanço da ciência e com a inseminação artificial. Em Portugal, já foi inclusive aprovada uma lei de procriação medicamente assistida, ficando, lamentavelmente de fora as mulheres sós.

O preconceito e a ortodoxia estão a diminuir. Devagar, muito devagarinho. A ideia de apenas um modelo único familiar, não condiz com os novos tempos. Hoje, casais homossexuais, partilham, vida, casa, filhos, constituem família. Não lhes é assegurado ainda as mesmas condições, os mesmos deveres e direitos que aos casais hetero.

Há que arrumar os últimos preconceitos. Hoje não há apenas o modelo familiar tradicional. E por isso a escolha do modelo familiar, deve ser um espaço de liberdade de cada um. Sem constrangimentos e sem preconceitos.

O casamento homossexual, o direito à procriação medicamente assistida, a adopção de crianças, deve ser um direito indeclinável. A sociedade moderna tem de se abrir aos novos tempos. Não faz sentido, esta discriminação, este conservadorismo, num quadro do avanço científico, do conhecimento, da emancipação dos “valores” católicos.

Não consigo perceber a objecção a estas novas realidades, que não sejam por ignorância ou por preconceitos desajustados no tempo.

O que verdadeiramente as pessoas precisam é de ser sensatas: Afirmar o amor, o afecto, entre as partes, o casal, os filhos ou as crianças adoptadas, criando as condições básicas para que se desenvolva esta nova família, sem constrangimentos e preconceitos.

Sobre a marcha, apenas dizer que não gosto do uso da palavra Orgulho. As pessoas são o que são. Orgulho Gay é uma palavra desadequada e aparentemente provocatória. Não se tem Orgulho por ser homossexual, como se não deve ter por ser, heterossexual. Não se tem Orgulho por ser homem ou ser mulher ou por se ser branco ou se ser preto. O Orgulho é outra coisa. Também não gosto das manifestações exibicionistas e apalhaçadas de alguns. Mas aqui, trata-se apenas, de bom ou mau gosto.

domingo, junho 25

sem o mais leve murmúrio

sem o mais leve murmúrio se despede o vento brando e azul
e áspera a tarde sobre os teus cabelos carrega uma asa
de mortalha o primeiro sinal de um cigarro artesanal
e frio
talvez um verso proibido te convoque para a geometria
de outras páginas na longura desta imensidão searas
que te esperam verdes e há nelas um repúdio de vento
que sopra sobre a voz que lá longe acompanha um violino
triste
temo que os tentáculos do sistema te cortem a arte de construir
um cigarro e a alegria das palavras que inventaste nos primeiros
dias de abril leio poemas pelo correr da tarde e caminho
pelas imagens da tua ausência aí tomo o relembrar
desse primeiro sinal o teu cigarro amortalhado ao lado
desse violino triste e a voz desfaz-se
em baladas de orvalho
como são longas as horas e breves as águas quando o sol
à tardinha nos fala de outra sede

Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa 23)

O Futebol e a integração


O Futebol é um desporto de massas indubitavelmente. Não distingue, raças, credos, ideologias. Todos, ricos ou pobres, vivem o futebol com ardor. O futebol é uma paixão.

O Mundial de Futebol tem trazido à rua, às praças públicas, aos cafés, um incontável número de pessoas. A convivência, o festim, o encontro de gerações, a amálgama de culturas, a confraternizarem, a torcer pelas suas selecções, nos mesmos espaços, com desportivismo, com classe, com respeito, são bons exemplos de coabitação e acolhimento da diversidade cultural e dos costumes, sem encolhes, cortês e harmonioso.

É exercer o direito à diferença numa sociedade que deveria ser de todos e para todos; global, compartilhada, justa, respeitadora da diversidade.

Isto é o contrário do patrioteirismo palerma dos skinhead, dos neonazis, da honra pateta/nacionalista, do engalanar bandeirinhas, do “orgulho” patriótico. É a antítese do confronto, da guerrilha, da superioridade, da raça, da cor, da religião. É o oposto da ideologia fascista, racista ou xenófoba.

Sentir e viver isto e ao mesmo tempo ler as notícias de que a autorização de residência, dos imigrantes no nosso país, estão condicionadas pelo rendimento de trabalho, superior a 5400 euros anuais; ler que um cidadão paquistanês, casado, dois filhos, com 33 anos de idade, se suicidou, num acto de desespero, porque a sua situação de imigrante, trabalhador da construção civil, se transformou, ficando desempregado ao fim de cinco anos, e concomitantemente, cessou a sua condição de imigrante legal, por não possuir o rendimento anual fixado; ler que de 170 mil imigrantes legalizados, há mais de cinco anos, cerca de 70 mil podem ficar agora ilegais, pela mesma razão.

Sentir e viver isto e saber que as associações de imigrantes apenas pedem a legalização e a integração dos imigrantes que estão no território nacional e reivindicam “uma política global, de controle de fluxos imigratórios, de simplificação dos títulos e direitos dos estrangeiros e um combate mais eficaz à imigração ilegal” é brutal e atenta contra os direitos e a dignidade humana.

Sabendo-se ainda que 125 mil trabalhadores estrangeiros, se encontram a trabalhar em situação ilegal, explorados por patrões sem escrúpulos, sem descontos, sem direitos sociais, é inumano e incompreensível, tomando como exemplo, a forma elevada com que a maioria dos nossos imigrantes, vivem em território português.


sexta-feira, junho 23

Gatunos

Um amigo enviou-me o e-mail abaixo.

Segundo a revista Focus (pág.25), a EDP conta com um novo assessor jurídico.
Foi nomeado pelo ex-ministro António Mexia (actual presidente executivo da EDP) e vai ganhar cerca de EUR 10.000/mês.
Quem é ele?
Pensem um pouco...
...
Mais um bocadinho...
...
Não era fácil...:
...
Pedro Santana Lopes
Comentários para quê?


Faço um intervalo nesta pausa, para vir aqui publicar isto. Não resisti e vim aqui chamar-lhe nomes. Todos os nomes. Chulos, gatunos, cabrões, merdas, vigaristas...

Triste país e triste povo de memória curta e crédulo nesta gente poderosa, rosa ou laranja ou cinzenta.

Um povo que se embala nos números do PIB, da economia em dificuldades, de um país em crise, que uns Constâncio uns Medina uns Sócrates, nos apresentam, uns números negros assustadores e o povo adormece com essas tretas… e já não se lembra das empresas que fecharam, dos 500 mil desempregados, dos pais que não têm de dar de comer aos filhos, dos trabalhadores que vieram para a rua em protesto...

Que nojo!

quinta-feira, junho 15

Há um ano o meu primeiro post.

Hoje é o funeral de um homem bom. Sim, Cunhal era um homem bom. Um homem que dedicou uma vida aos outros. Que abdicou de uma vida própria, para se entregar a causas nobres. Fica a memória e o exemplo. Um dos meus heróis. Hoje, esqueci-me das minhas divergências políticas para lembrar as convergências com os seus ideais, mais profundos.


Nota: No dia 15 de Junho faço um ano nesta coisa de blogues. Iniciei com o à esquerda e com o texto acima a minha entrada no que se convencionou chamar de blogosfera. Não vou fazer balanços. Agora vou fazer uma paragem. Durante uns tempos ou para sempre. Não sei, sinceramente. Um obrigado a todos os que por aqui andaram e desculpem qualquer coisinha.


quarta-feira, junho 14

até um dia!

Quieta

Inquietação

Com volta na ponta

Ou não!


O azul dos dias está cinzento.


raios!

alguém rasgou
o terno azul da tarde

Alonso Alvarez

Na hora que havia de vir

Os lábios se uniram num beijo de gratidão recíproco e selaram o encantamento que ambos sentiam. Deixaram-se cair para o lado, com os seus corpos nus enlaçados, num abraço forte que teimava em não se desunir. Ficaram assim uns tempos. Um tempo que não existia. Não havia horas. Só as horas seguintes. Havia um só corpo, um só coração, em dois corpos fundidos.

A respiração sufocante, a palpitação descompassada, iam abrandando, tomando o seu ritmo normal. Estavam no deleite dos virtuosos a comprazer-se com a ocasião ímpar.

Amor, paixão, desejos tudo ali estava presente a querer continuação. Na hora que haveria de vir. As roupas no chão, a cama desfeita, os lençóis embrulhados, os corpos húmidos de transpiração, deixavam adivinhar o que ali se tinha passado. Não durou muito e adormeceram nos braços um do outro, muito agarradinhos.

Não sei quanto tempo se passou. Pareciam ter sido horas. Ali não havia relógios. Irá ficar para sempre a dúvida. Os olhos resplandecentes dela abriram-se, sacudiu os cabelos com as mãos e aplicou-lhe um beijo suave e terno nos seus olhos semicerrados que se tinham recusado a fechar ao inesquecível acontecimento. Ele despertou sobressaltado. Num ápice passou-lhe pela cabeça que teria estado a sonhar. Mas não, o sorriso radioso da amada, não enganava. Delicadamente retribui-lhe com um beijo na boca. Estava ambos acordados.

Abraçaram-se de novo. Não falaram, não era preciso. Pela cabeça de cada um deles o filme era mil e uma vez rebobinado. Suas bocas se uniram uma vez mais. As línguas se tocaram outra vez. Estavam insaciáveis. Ela gostava muito de o beijar e ao mesmo tempo mergulhava o seu olhar penetrante, nos dele, tentava perceber as suas motivações próximas. Não precisou de muito tempo.

Seus corpos se entregaram um ao outro. De repente sem darem por isso estavam no chão embrulhados e balanceados em movimentos puros de sedução e atracção que os deslumbrava. Ele pegou nela e sentou-a no seu colo, frente a frente, as costas dele coladas à parede fria, mas isso não importava. Na sua frente estava a mulher que queria possuir.

Fernando Marques

terça-feira, junho 13

(...)


Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Fernando Pessoa

A cerveja faz bem à saúde II

No fim do mês de Maio, foi escrito nos jornais que “desde que consumida com moderação [uma ou duas por dia] e associada a um padrão de vida saudável” a cerveja fazia bem à saúde.

A notícia está aqui. Nela era referido que a cerveja ajuda "a diminuir o risco de doenças cardiovasculares, melhora os índices de colesterol, previne contra o cancro e melhora a função cognitiva.” E ainda mais extraordinário: “o consumo da cerveja não está associado nem à obesidade nem ao perímetro abdominal”.

Na linha do inestimável serviço público a que estão habituados os leitores, a notícia teve especial destaque, no A hora que há-de vir!..

Agora uma nova descoberta. A cerveja também combate o cancro da próstata! Apenas para ter um completo efeito devem ser consumidas por dia, 17 cervejas.

Fica apenas uma alerta, para quem escreve notícias ou quem as encomenda. É preciso que sejam rigorosos. É que com a “morte” não se brinca. Precisamos saber se falam verdade. Enquanto não faço o exame à próstata, vou continuar moderar o consumo da cerveja.

Caso contrário, perdido por um, perdido por cem. Uma problema fácil de resolver!


é uma ave selvagem

é uma ave selvagem
o teu olhar
sempre o teu olhar

rasgado sobre a voz

o teu olhar
que solto te convoca
e nos convoca a sós

Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa 5)

Eu só


"Estou bem aonde eu nao estou

eu só quero ir
Aonde eu nao vou
eu só estou bem
Aonde eu nao estou
eu só quero ir
Aonde eu nao vou"

Excerto de uma canção de
António Variações

sexta-feira, junho 9

Eh Companheiro!




Eh! Companheiro aqui estou
aqui estou pra te falar
Estas paredes me tolhem
os passos que quero dar
uma e feita de granito
não se pode rebentar
outra de vidro rachado
p´ras duas pernas cortar

Eh! Companheiro resposta
resposta te quero dar
Só tem medo desses muros
quem tem muros no pensar
todos sabemos do pássaro
cá dentro a qu´rer voar
se o pensamento for livre
todos vamos libertar

Eh! Companheiro eu falo
eu falo do coração
Já me acostumei à cor
desta negra solidão
já o preto que vai bem
já o branco ainda não
não sei quando vem o vento
pra me levar de avião

Eh! Companheiro respondo
respondo do coração
ser sozinho não é sina
nem de rato de porão
faz também soprar o vento
não esperes o tufão
põe sementes do teu peito
nos bolsos do teu irmão

Eh! Companheiro vou falar
vou falar do meu parecer
Vira o vento muda a sorte
toda a vida ouvi dizer
soprou muita ventania
não vi a sorte crescer
meu destino e sempre o mesmo
desde moço até morrer

Eh! Companheiro aqui estou
aqui estou p´ra responder
Sorte assim não cresce a toa
como urtiga por colher
cresce nas vinhas do povo
leva tempo a amadur´cer
quando mudar seu destino
está ao alcance de um viver

Eh! Companheiro aqui estou
aqui estou pra te falar
De toda a parte me chamam
não sei p´ra onde me virar
uns que trazem fechadura
com portas para espreitar
outros que em nome da paz
não me deixam nem olhar

Eh! Companheiro resposta
resposta te quero dar
Portas assim foram feitas
p´ra se abrir de par em par
não confundas duas coisas
cada paz em seu lugar
pela paz que nos recusam
muito temos de lutar.

Letra: Sérgio Godinho
Música e interpretação: José Mário Branco

O Mundial e os imigrantes/emigrantes

Começa hoje o Mundial de Futebol. Fico a torcer por Portugal. Não vou contudo andar de bandeirinha na mão, ou no carro. Não vou comprar camisola ou andar de “cascol.” Mesmo que venham “embrulhados” e oferecidos em alguns jornais ou outras publicações das que costume comprar.

Vou vibrar com a selecção. Esperar que ganhe. Os portugueses, estão sedentos de algo que os anime. Uma boa campanha, talvez, sirva para trazer algum ânimo e conforto aos portugueses. Bem precisam. Ao menos, ganharemos em alguma coisa, porque “isto” tem sido só a perder...

Sou a favor, como sabem de uma política de imigração inclusiva e responsável. Acho que os imigrantes que produzem riqueza para este país, os que trabalham ou querem trabalhar, os “imigrantes” que são portugueses de nacionalidade, não reconhecidos, os que trabalham legal ou ilegalmente, os que são atirados para a marginalidade, merecem um tratamento digno. Tal, como genericamente, tiveram os nossos emigrantes espalhados pelo mundo. Problemas de marginalidade, de integração, de conciliação de culturas, não são fácil de resolver. Tem de ser feito esse esforço.

Eu quando vejo, imigrantes, a torcer a sério por Portugal, sinto uma grande satisfação, sinto que estão a dar bofetadas de luva branca, a políticas racistas e xenófobas.
Quando os ouço gritar, "Portugal, Portugal" acredito na sinceridade daquele grito. Não acredito nos "Portugal, Portugal", dos cabeças rapadas, dos neonazis.

Quero dizer-vos que sou um apreciador do Deco. Um grande jogador. Um talento. Uma pessoa que transmite serenidade e confiança a falar e a jogar. Também, uma pessoa humilde, entre algumas vedetas.
Sabemos que Deco não teve grandes problemas de naturalização. Como acontece com a generalidade dos jogadores de futebol.
Não tenho nada contra. Apenas lamento que estes processos céleres não aconteçam com outros imigrantes.

Dito isto, quero dizer-vos que gostava de uma selecção nacional de jogadores portugueses.
Nascidos em Portugal ou que adoptaram o país como o seu país. E se naturalizaram. Ou se querem naturalizar ou legalizar.
Não gosto de coisas naturalizações “forçadas” só para melhorar a nossa prestação desportiva.

Deco é agora português. Mas não sei se é o seu país.
Em tempos quiseram, “naturalizar” à pressa outros jogadores que sobressairiam, nos seus clubes. Jogadores de “passagem” à espera de outras visibilidades.
Não me parece, mesmo assim, que seja o caso de Deco.
Queria ser português e queria jogar por Portugal, embora a porta da selecção do Brasil, lhe estivesse ainda aberta.

Pelos nossos emigrantes em especial, gostava que a selecção nacional, fizesse uma excelente campanha!

O orgasmo.

Os lábios apertavam com vigor o membro duro. A língua dela desenhava uns belos e harmoniosos movimentos geométricos, numa dança sensual de cobiçada cumplicidade. E o pénis hesitava entre acompanhar o saracotear da língua e entrar no bailado ou espraiar-se egoísta, a acompanhar tão bela e lasciva demonstração de amor.

Ela lambia o seu sexo degustando seu cheiro, paladar e a sua língua percorria todo o canal ejaculador firme e cheio em movimentos desregrado, por onde haveria de passar o líquido cremoso, deleitoso que seria oferecido à sua companheira, vertido na mais bela salva, para ser sorvido, ate saciar a sua sede do prazer e da paixão.

Os movimentos dos corpos eram consistentes. Na cama já, estendidos, seus corpos se entregavam à volúpia desmedida e descontrolada. Os beijos sucediam-se, as línguas confundiam-se, as salivas misturavam-se, num dois em um, em cadência e resplendor. Nada os poderia fazer parar. Ela e ele não viam mais, não sentiam mais nada, o tecto podia cair, a casa desabar, um tsunami de desejo e sensualidade estava a acontecer naquele preciso momento. A chama estava ateada. Ninguém poderia prever a dimensão e as consequências daquele fogo.

Ela tomou de novo seu sexo. Sentiu que ele estava muito perto do orgasmo. Agarrou-o com vontade, passou-lhe a língua pela glande, introduziu-o na boca e em movimentos mais acelerados, em vaivém, sentiu, na quentura do seu membro e nos gemidos incontroláveis que a “combustão” estava demasiado próxima. Antes do tempo desejado. Não demorou um minuto sequer. Um jacto de prazer e de paixão afogou-se na sua boca. Os olhos dele reviraram-se. Não via nada. Sentia-se nas nuvens. Ela, por seu lado, não desperdiçou peva. Engoliu tudo até à última gota e lambeu o seu sexo com doçura, lavando-o em saliva. Com prazer e com muito amor. Acabaram por adormecer, extasiados. Sem contar. Mas por pouco tempo.

Continua...

Fernando Marques

O meu último post, gerou alguma perplexidade, entre alguns habituais leitores. Alguns comentaram isso directamente comigo. Outros preferiram fazê-lo de outras maneiras. Os que comigo falaram pessoalmente e porque são meus amigos, foram simpáticos e até teceram elogios. No entanto chamaram-me a atenção que alguns outros, menos, familiarizados comigo, talvez lhes cause estranheza, ter ido por esta linha, habituados que estavam mais a uma intervenção social e política. A minha mulher, também me disse que pessoas mal intencionadas, podem fazer juízos abusivos, mas que por ela e não esperava outra coisa, se a chatearem, saberá dar-lhes uma resposta adequada.
Mas esses meus amigos têm razão. Embora me incentivassem a continuar se isso não me prejudicar. Claro que para mim não é nenhum problema. É mais um desvio que aliás não é o primeiro, para outro tipo de abordagens. Portanto, não tenho que pedir desculpas, não tenho que ter receios de qualquer espécie, nem tenho que mudar nada. Sou o que sou. Sou assim. Mas estes desvios "pontuais", nunca me iriam desviar do meu principal combate. Esse sabem qual é. Embora esteja muito, muito cansado...


ah, deixo-vos este link para quem quiser saber alguma coisa mais sobre o homem.

quinta-feira, junho 8

Porque tenho um blogue (III)

Porque tenho a mania de que até digo umas coisas interessantes... às vezes.

A contra OPA está aí.

O Belmiro de Azevedo se ficar com a PT, fica com a PT de borla. As contas estão aqui. O Estado dá uma ajuda. Enquanto não pagar o empréstimo ao Banco, não paga IRC. Uma ninharia. Apenas 3 mil milhões de euros.

Os accionistas andam muito satisfeitos. Já ganharam muito dinheiro, cerca de 30 milhões de euros, só com o aumento dos dividendos, por causa da OPA da Sonaecom. Agora vão ganhar mais. O dobro, diz o Expresso, até 2009.

A Telefónica, o Bes, o Patrick Monteiro, o coronel Luís Silva, a CGD, entre outros, depois de ganharam milhões de euros, com o aumento inesperado dos dividendos, vão embolsar mais alguns milhões de euros, com novo aumento. É um fartar vilanagem.

O Estado passa ao lado destes rendimentos, livres de impostos. É assim… quem trabalha, farta-se de pagar impostos. Uns tantos, ganham milhões na bolsa e não pagam rigorosamente, nada. O Bloco bem apresentou uma proposta para obrigar esta gente a pagar IRS ou IRC no caso das OPA’s, com recurso a empréstimo bancário. Como se esperava a proposta foi recusada pelos partidos do sistema neoliberal.

Para os trabalhadores é que continua a não haver nada. Na história da PT nunca se viu, uma coisa assim, no ano em que a Empresa atingiu os maiores lucros de sempre e mais remunerou os accionistas, apresentou a mais baixa proposta salarial de sempre.

Enfim, parece que sempre vai aparecer uma contra OPA à de Belmiro, oferecendo mais 2, 5 mil milhões de euros do que os 11,5 milhões de Belmiro. Para quem achava que o Belmiro tinha apresentado uma proposta honesta… aí está a resposta. È uma “ Private equity” constituída por algumas empresa estrangeiras, sendo Miguel Pais de Amaral o cabeça de testa em Portugal.

Belmiro deve importa-se pouco. Já conseguiu alguns dos seus objectivos: paralisou a empresa PT, provocou uma pequena revolução interna na PT que tem prejudicado os trabalhadores e a sua Sonaecom desenvolve livremente a sua actividade sem “oposição” e ainda aparece aos olhos de alguns sectores como “um salvador” e um patriota.

Entretanto, “esperto”, já adquiriu as acções suficientes da PT, a um preço que lhe permitiram, apenas numa semana e com tendência a engordae, depois do anúncio da nova OPA concorrente, as mais valias suficientes, superior a mais de dois milhões de euros, para cobrir quase todos os encargos da sua oferta.

Estes "Belmiros" são mesmo uns grandes patriotas. O povo português é um eterno distraído e os nossos neoliberais, são uns badamecos da pior espécie. É assim que se faz Portugal. Uns bem, outros mal.

Adenda: ia-me esquecendo de dizer que defendo a nacionalização da rede básica da PT, isto é; que todas as infraestruturas de Telecomunicções voltem ao Estado.

Não acreditem

Se
lhes
disserem

que
estou
a
ficar

maluquinho
não acreditem.

Eu sou maluquinho!

quarta-feira, junho 7

Ele deixou-se conduzir



Ele deixou-se conduzir. Aquele instante era há tanto tempo desejado. Retribuiu-lhe o beijo, docemente. Os lábios de ambos permaneceram colados, uns minutos, tentando adivinhar sabores, comprazendo-se no momento esperado.

Estava tudo muito calmo. As línguas tocaram-se muito de leve. Ele tomou-a só para si. Arrepanhou-a pela força dos seus lábios sequiosos, para dentro da sua boca, com tanta vontade que nem reparou no gesto mais brusco. Ela não se desfez. Apenas o leve gemido o alertara.

Ela suave e compreensivelmente pousou generosamente os seus lábios nos dele e respondeu-lhe com uma leve mordidela no lábio inferior.

Era o sinal de cumplicidade e de ousadia que ambos esperavam. Os corpos já estavam seminus.

O desejo era muito forte. Ele não estava a conseguir resistir àquele corpo com corpo. Aos beijos afectuosos dela percorrendo o seu corpo ele já não correspondia. Estava extasiado, seu corpo arrepiava-se, quase não se sentia a sua respiração, não conseguia reagir.

Os olhos dele brilhando, denunciavam-no. Ele não conseguia esconder a vontade, o desejo indómito de a tomar selvaticamente.

Ele não estava a conseguir conter-se. Ela percebeu-o bem na troca de olhares ligeiro que se seguiu.

Ela enérgica, avançou. Desabotoou-lhe os botões das calças enquanto lhe mordia levemente os bicos dos seus peitos até sentir um leve gemido. Ela estava a desbravar terreno. A conquistar tempo e espaço. A gozar o momento e o tempo. Ela estava a gerir o tempo. Tinham tempo. Havia muito tempo pela frente.

Ele estava mais inquieto.

A ânsia estava estampada no rosto dele. Ele comprazia-se...

Com um pequeno gesto de corpo, ele deixou escorregar as calças pelas pernas abaixo. Ela baixou-se e suavemente tirou-lhe a última peça de roupa que faltava.

Depois... depois, agarrou-lhe no pénis já duro e levantando os olhos, como que a dizer; “pronto, amor, cheguei” num gesto sublime e único, meteu o pénis dele na sua boca até onde conseguiu entrar, apertou-o forte com os lábios e o corpo dele todo tremeu.

...continua

Fernando Marques

(pequenos delírios para dispersar...)


Porque tenho um blogue (II)

Uma manifestação de rebeldia

terça-feira, junho 6

Andam a brincar connosco é que é

O Governo do Partido Socialista no tempo de Guterres adquiriu doze caças F16. O Público de hoje, afirma que esses doze caças F16, ainda estão empacotados. Tal e qual, como vieram dos fornecedores norte-americanos.

Não foram utilizados e não são necessários.
Agora querem tentar vendê-los. Foram 150 milhões de euros gastos inútil e ruinosamente. É assim. Neste país não se responsabilizam os decisores políticos. Por mais escandalosos que sejam os negócios e o prejuízo para o erário público.

Entretanto, aqui bem perto, em Fragoso, concelho de Barcelos, ao terceiro dia, foi pedido apoio à Espanha, para com a ajuda dos seus meios aéreos, combater um incêndio. E porque não foram accionados os nossos meios aéreos? Parece que ainda não está aberta a época de incêndios.

Tirem-me daqui!

Porque tenho um blogue (I)

Um exercício de narcisismo.

A bandeira nacional e outras "bandeiras"

Irrita-me ver a bandeira nacional e ouvir o hino nacional. Já não tenho pachorra!

Não gosto dos símbolos nacionais. Não gosto sequer da palavra pátria. Toda esta campanha em volta dos nossos símbolos, em particular da bandeira nacional, deixa-me os cabelos em pé.

Gosto de Portugal, gosto da minha terra, não gosto deste patrioteirismo que o Sargento Scolari impulsionou e que por aí, circula, até à exaustão, à pala da selecção de futebol. A bandeira aparece agora e costuma aparecer, quando os nossos neonazis decidem vir para a rua, protestar contra os “estrangeiros”. Que associação acabei de fazer…

Só uma vez usei a bandeira nacional. Foi para a pôr na varanda com uma pano preto ao redor. Estava triste com o país. Acredito que lhe vou dar outra vez uso.

A minha pátria não tem uma nacionalidade.
A minha pátria é o mundo dos que sofrem, dos que vivem mal, dos que são desconsiderados, dos pobres. A minha pátria é onde tenho raízes. É onde estão os meus amigos. Os meus familiares. É onde tenho uma marca.

Gostava de ver o povo português mobilizar-se por outras “bandeiras”.

As alterações na administração pública

Aqui já esteve um post sobre as alterações na Admnistração pública. Retirei-o após verificar que através do motor de busca do Internet explorer apresentava problemas. Já quando o coloquei, tive grandes dificulades em o publicar, apresentando uma série de erros de HTML, que não consigo explicar. Se conseguir resolver, essa dificuldade, torno-o a colocar. As minhas desculpas a quem o leu e especialmente à Helena que o comentou por o mesmo ter "desaparecido".

segunda-feira, junho 5

Tempo de reflexão

Quando, atravessados por um tempo em que o homem eufemisticamente se rotula de civilizado, com o mundo já dividido entre as grandes fortunas e as maiores misérias, entre as classes mais mediáticas e as mais desprezadas, entre os cada vez mais ricos e os cada vez mais pobres, é aí que nos apercebemos da dureza que advém do nosso egoísmo e da nossa vaidade, da prepotência do poder e da ganância pelo acumular de riquezas fáceis.
Mas o maior dos males, hoje, reside ainda na corrida às armas de destruição maciça. Ou na loucura dos eternamente depravados.

Como o mundo está!...

E em que mãos colocamos o nosso destino e a segurança do planeta ao eleger com o voto aqueles que, doravante, mereciam pelo voto ser derrubados! Os que, afinal, só pensam em fazer a guerra, os que praticam todos os tipos de tráfico, os que agridem constantemente os mais elementares direitos da pessoa humana, os que atiram milhares de idosos e crianças para campos de concentração e de refugiados.

Ao elaborar este texto pergunto-me se, porventura, não estarei a traçar uma ideia de exacerbado pessimismo. Certo e absolutamente que não!
O contrário, seria não ter consciência da realidade, não querer ver.... não querer assistir... recusar aceitar...
Seria esquecer que, nesta conjuntura, morrem por ano cerda de dez milhões de crianças com fome em todo o mundo. Seria não querer assistir à mais sofisticada forma de escravidão nos nossos dias. Seria recusar ver a diabólica manifestação da mentira sobre a verdade. E isto, caros leitores, obriga-nos a uma reflexão profunda.

E, para esquecer misérias e injustiças, nada melhor do que entrar na onda da selecção de futebol que nos é impingida pelos donos da TV, sem que nos falem do esbanjamento e do desperdício que tudo isso acarreta.
Depois, isso mesmo: temos ainda o Santo António, o S. João, o S. Pedro e outras romarias populares espalhadas por tudo quanto é terra. Muita festa e muito pagode para levantar o viço. Para uma falsa auto estima. Para dar largas ao nosso entusiasmo. E, apesar de tudo, esquecer... para fazermos de conta que nada de anormal se passa à nossa volta. E tudo é tão efémero, meu Deus!
Salvam-se os verdadeiramente Santos, sempre filhos do anonimato, formiguinhas de Deus e peregrinos do Amor que, voluntariamente, colocam toda a sua força e toda a sua inteligência ao serviço dos famintos, dos desprezados e dos esmagados. Porque vivem os seus dramas e interpelam-se com os dramas dos seus irmãos. Vivem a sua dor procurando minimizar a dor dos seus irmãos, vivem a sua solidão interiorizando a solidão dos seus irmãos. E, nesta grande caminhada do Amor, ainda transportam consigo carradas de esperança para dar aos desesperados, aos doentes e aos sem abrigo. São assim, simplesmente assim, os que amam em abundância.

Álvaro de Oliveira

(artigo também publicado no Correio do Minho)

DEMITA-SE SRª MINISTRA!

Este governo, com pouco mais de um ano de vigência já está a ir longe demais. Privilegia os ricos e poderosos e ataca frenética e descaradamente os que menos têm, os cidadãos, os trabalhadores deste país. Quer reduzir o défice à custa de quem trabalha e que paga os seus impostos honestamente utilizando a arrogância, a demagogia, a repressão e o populismo.

O que este governo está a fazer chama-se terrorismo social. Está a atacar tudo o que seja público, desde o encerramento de maternidades, escolas e outros serviços públicos essenciais e a mandar para o desemprego milhares de funcionários públicos de forma encapotada, a coberto do famigerado PRACE. Nem o governo do PSD se atreveu a ir tão longe e que "morre de inveja" por não estar no poder a praticar este tipo de políticas nitidamente conservadoras e neo-liberais.

Como se isto não bastasse, os ministros deste governo enveredaram pelos insultos baixos e indignos aos trabalhadores do Estado. Foi o que aconteceu com a ministra da Educação, ao afirmar que "quer as escolas quer os professores não se encontram ao serviço dos resultados e das aprendizagens", culpando os professores e educadores pelo insucesso escolar. Além de outras declarações indignas e de apresentar um projecto de revisão do estatuto da carreira docente que só podem causar repulsa e revolta! Tal como milhares de docentes do Algarve ao Minho e da Madeira aos Açores, sinto-me atingido na minha dignidade profissional e, por tal facto, exigimos uma reparação que, no mínimo, só poderá ser a demissão da ministra da Educação! Peça desculpa e demita-se Srª Ministra, (caso não seja demitida pelo Primeio-Ministro, o que não acredito, pois Sócrates é o principal suporte destas políticas).

Está em marcha um fortíssimo ataque contra os professores e educadores que pretende atingir aspectos essenciais da sua profissionalidade e liquidar direitos fundamentais inscritos no seu estatuto de carreira. A este ataque junta-se uma ignóbil campanha política junto da opinião pública com a intenção de denegrir a imagem de 145 mil docentes perante a sociedade e, deste modo, serem criadas as condições favoráveis para a ofensiva que se encontra em curso.

A aprovação do novo estatuto da carreira docente consubstancia três objectivos fundamentais: culpar os professores e educadores, tornando-os "bodes expiatórios", pelo fracasso das políticas educativas, implementadas ao longo destes últimos anos pelos sucessivos ministérios da educação da responsabilidade de governos do PS e do PSD; controlar ideologicamente e de forma repressiva a profissão docente; impor critérios economicistas em nome da redução do défice. Neste último caso, além de se querer destruir a carreira única, obrigando a maioria dos docentes a ficarem retidos a meio da carreira de forma administrativa, está implícita uma artimanha ainda mais terrível e diabólica - atirar para o meio da rua milhares de professores e educadores através de diversos expedientes - desilusão, cansaço, exclusão, processos disciplinares, etc. Será o regresso ao período de antes do 25 de Abril. E o mais paradoxal e dramático, para não dizer trágico, é que estas medidas anti-sociais vêm da parte de um governo que se diz socialista. Não foi para isto que milhares de docentes votaram, apostando numa alternativa de governo diferente.

O que está em causa não é só o agravamento das regras da aposentação e a ilegalidade da não contagem do tempo de serviço, mas igualmente o perfil profissional dos professores e educadores, colocado em causa pelo Ministério da Educação com o recurso a medidas ilegais e ilegítimas e que ameaçam o abastardamento da profissão docente.

Exige-se não só a demissão desta Ministra, mas também uma nova equipa ministerial que altere o rumo da política educativa que respeite os professores e educadores, contribuindo para a construção de uma escola pública de qualidade e de sucesso para todos.

À guerra declarada por este governo contra os professores e educadores (e outros trabalhadores), só resta a estes responderem com a mesma moeda. A apatia, o desânimo, os braços caídos, não conduzem a nada e só agravam a situação. Teremos de ter presente a máxima de Goethe: "se perdes os bens perdes algo, se perdes a honra perdes muito, mas se perdes o ânimo perdes tudo". Unidade e luta, pois a razão e a força estão do nosso lado. Trata-se de um combate que é preciso ganhar, um combate que se trava entre a modernidade progressista e o conservadorismo imobilista, atávico e neo-liberal.

E a próxima forma de luta está aí à porta - Greve e Manifestação de todos os professores e educadores (excepto o ensino superior) para o próximo dia 14 de Junho! Não deixar para amanhã, podendo ser demasiado tarde, o que se pode fazer hoje! O exemplo das lutas populares francesas contra o famigerado CPE serve-nos de referência e mostra-nos o caminho.

João Vasconcelos
Professor, membro da Coordenadora Distrital
do BE - Algarve

(Este post foi-me enviado, via mail, pelo José Carrilho)

nada digo sobre o tempo que passou

nada digo sobre o tempo que passou estava escuro os
passos eram demorados e as crianças morriam de fome
à frente dos meus olhos só a noite e o que ela envolvia
sobre um silêncio quase inumano e os meus amigos presos
e os meus amigos torturados e os meus amigos mortos
aí perdi os sentidos e a liberdade toda a liberdade que os
meus olhos precisavam de beber
nada digo da noite os passos eram demorados e estavam
ansiosos para chegar à manhã que então acordava com abril
e os meus amigos libertados

Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa 27)

domingo, junho 4

Eu "sacana" me confesso...

O Governo demagogicamente quer trapacear os mais incautos. Os canastrões do costume, companheiros de “la route” das medidas neoliberais do Governo, contra os trabalhadores, já se vieram manifestar. O Ministro das Finanças parecia mesmo estar indignado… Dizem que não percebem os trabalhadores... Que eles estão contra tudo... Que nunca estão contentes com nada... Não é verdade.

Há várias razões para não estar satisfeito. Os funcionários públicos de repente, sabemos, passaram a ser os principais responsáveis pelo estado do país. Ganham muito, estão a mais, trabalham pouco, são burocratas, uns privilegiados. Todos são uns privilegiados: o gestor público, o médico, o juiz, o professor, o jardineiro, o enfermeiro, o contínuo, o assistente judicial, o inspector de finanças, o funcionário de balcão.

Há que ser honesto: quem aguenta durante anos ver-se acusado de todos os males, pelos velhos lideres de opinião, pelos seus “patrões”, por toda uma garotada de pseudo novos-fazedores de opinião, com uma cultura neoliberal, classificando-os de malandros, incompetentes e de que são apenas um peso para o Estado e que grande parte deles tem de ser despedido?

Há que pôr cobro a isto!
Todos sabemos a função pública que temos. Mas também sabemos quem são os responsáveis.
E também sabemos quem enxameou a administração pública de gente a mais em alguns sectores.
São e foram os dirigentes políticos que governaram este país!..

Agora parecem aflitos e dizem que os trabalhadores têm de compreender, têm de aceitar, que não têm outro remédio, que não há outra saída. Enfim, palavras e mais palavras.
Por mim podem continuar assim que não lhes dou nenhum crédito.

Digo mesmo: que se deixem de canalhisses. E que resolvam a sério o problema. E para resolver, é preciso, primeiro, saber qual é o problema; se o problema é haver trabalhadores em excesso ou se é de uma má gestão dos efectivos e dos recursos ou da falta de recursos, disponíveis . Ou se são ambas.

É preciso saber onde está o mal, efectivamente.
É preciso saber se se devem fundir, extinguir ou reforçar serviços.
É preciso saber onde se trabalha mal e porque se trabalha mal.
Depois, sim, fazer permutas, promover a mobilidade ou mesmo flexibilizar o trabalho.
E reorganizar toda a máquina do estado.

Não estou contra a mobilidade ou a flexibilidade, se tiver que ser mesmo. Mas é preciso saber oferecer as contrapartidas e de ser escrupuloso no seu cumprimento, para não criar mais injustiças.

O Governo aprovou um novo regime de mobilidade dos funcionários públicos, que praticamente, já existia. Apenas se introduziu uma novidade. Uma boa novidade, mas de pouca eficácia, presume-se. A novidade é que os trabalhadores excedentários, (trabalhadores com vinculo à função pública mas sem serviço e ao fim de três meses a receberem apenas 60% por cento do vencimento - quem gostaria de estar nesta situação?) poderão cumulativamente, exercer outra actividade no privado, passando a receber, creio, metade do vencimento de funcionário público.

Mas esta é a outra grande falácia:
é que, em regra, a ter em conta o que o governo anuncia, os trabalhadores excedentários, serão os trabalhadores, mais velhos, os supostamente menos capazes, ou os jovens com pouca experiência.
Só assim posso perceber a razão do mecanismo da mobilidade. A não ser por esta razão o que iria acontecer eram cortes cegos. Na bolsa dos excedentários estariam, assim, os competentes, os mais e os menos, os produtivos, os mais e os menos, os trabalhadores empenhados e os malandros. Ora essa não é a lógica empresarial que o governo tanto enaltece. Contradições...

Nesta situação caberá perguntar, se os "trabalhadores mais velhos, os mais incompetentes, os inexperientes," irão encontrar emprego no privado! E com os actuais níveis de desemprego, não estarão a querer enganar papalvos??

Os do costume, os do menos mal, dirão que é melhor assim do que serem despedidos ou de lhes ser “imposto” uma rescisão contratual.
Pois é.
Mas isso seria partir do pressuposto de que os trabalhadores iriam aceitar o despedimento (que seria inconstitucional) ou uma rescisão do contrato, amigável. Eu não acredito. Eu, no lugar deles, não deixaria de lutar com todas as minhas forças e armas que pudesse dispôr.
O emprego não tem preço. A segurança no trabalho deve ser defendida.
O direito ao emprego ou ao trabalho (por causa das más línguas) é das lutas mais justas e dignas que podem existir.

Sinceramente, não sei se temos trabalhadores a mais na função pública. Talvez sim ou se calhar não.
Também admito que problema possa estar na má gestão dos serviços e/ou na incompetência das chefias.
A verdade é que o país gasta demais com a sua administração pública, segundo dizem. Acredito.

Para se ter a certeza onde estão os verdadeiros problemas, serão precisos fazer estudos aprofundados, direcção a direcção, serviço a serviço, departamento a departamento, analisar modelos de gestão, comparar diferentes experiências, conhecer os objectivos propostos, analisar os recursos tecnológicos necessários e suficientes, e organizar tudo.
Organizar ou reorganizar tudo, numa óptica de um serviço público de qualidade, ao serviço dos cidadãos.
Só a partir desta análise se pode definir o modelo, os objectivos, os meios técnicos, os activos humanos, verdadeiramente necessários e com realismo.
E depois sim, partir para orçamentos de gestão financeira de base zero. Para saber como gastar, onde gastar e porque gastar.

Tenho a certeza que nada disto aconteceu. Isto só seria possível, em minha opinião, por uma auditoria externa e credível. Não foi o que se passou. Não é o que se vai passar. Não estão interessados. É mais fácil uma gestão de mercearia. Sem faltar o livro preto aos quadradinhos. Para não esquecer...

Pela parte que me toca, não concordo com estas medidas. Serei sempre contra qualquer despedimento, ou tentativa de despedimento que não seja por reconhecida justa causa. E aí temos os tribunais para julgarem. O país não se resolve mandando trabalhadores para o desemprego ou para a inactividade que é o que tem estado a acontecer. Com muita pressão psicológica à mistura. O país faz-se com as pessoas.

Eu "sacana" me confesso, (não foi isso que quiz dizer Sr. Ministro?) contra qualquer tentativa de despedimento. Às claras ou não. Nunca me convencerão é que o desemprego é uma solução.

Feira de Livro em Lisboa

Sessão de Autógrafos na Feira do Livros de Lisboa - Pavilhão dos Pequenos Editores:
Dia 8 de Junho de 2006 - 21h30
Adelaide Graça - Sem Chaves Nem Segredos

Produções Editoriais, Lda - SeteCaminhos

Vamos lá amig@s, comprar o livrito, receber um autógrafo e um beijinho da Lay.



O veto de Cavaco à lei da paridade

Realmente vivemos num país atrasado. Até a burguesia e os seus representantes são uns atrasados, aliás, sempre foram uns atrasados. Em vez do desenvolvimento escolheram a rapina de África, em vez da democracia burguesa escolheram a ditadura, em vez da modernidade sempre escolheram o conservadorismo. Nem para capitalistas têm prestado.

Está difícil vencer o conservadorismo. A incorporação da mulher no mercado de trabalho ajudou um pouco à sua independência, mas persistem os mais baixos salários e a mais alta precariedade. São as primeiras a ser despedidas e as últimas a ser admitidas.

O direito de voto veio tarde, a liberdade pessoal ainda mais tarde. A moral ditada por um capitalismo patriarcal ainda se faz sentir. Se um homem “come”várias mulheres é um engatatão, um herói. Se uma mulher “come” vários homens é uma puta. E assim sucessivamente.

O direito à decisão sobre o seu próprio corpo é coisa de difícil conquista. A despenalização do aborto continua uma luta com vitória ainda por garantir.

Até com a paridade os conservadores embirram. O conservadorismo não perdoa – então no que diz respeito aos direitos das mulheres todas as tentativas de modernidade e conquista social são ainda mais difíceis.

O veto político – não foi veto constitucional – de Cavaco veio dar mais uma força aos conservadores. Aí está o primeiro resultado da vitória da direita nas presidenciais. Pelos vistos Cavaco não quer que as listas tenham obrigatoriamente paridade. Talvez Cavaco aceite que a lei exija paridade, mas que a própria lei aceite que ela própria – a lei – seja violada, pagando-se uma multa. Se assim for a violação do direito da paridade será tratada como uma contra-ordenação. E o PS parece que vai nisso!

Victor Franco

observo o clarear dos dias esquecidos

observo o clarear dos dias esquecidos nas medas do tempo
é pela manhã que inicio a faina e começo a desbravar
a seara do teu corpo repouso breve das mãos no tear
de alegrias e tormentas
há um melro que canta melodias matinais o meu despertador
nas primaveras que dispo com a foice dos dedos
e refresco a minha solidão com o orvalho dos teus cabelos
falaremos do tempo meu amor e da cor dos teus olhos
quando o trigo crescer
Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa - 28)


sábado, junho 3

Um dia em casa

Hoje o meu dia passeio-o no quarto. E na cama. Umas vezes por debaixo do lençol, com frio, outras por cima, com calor. Lendo jornais, vendo televisão, dormindo. Espero amanhã, já sair à rua. Isto de estar preso em casa não é para mim.

Talvez me demore

talvez me demore as aves adormeceram as noites passam
arrastando sonhos e ilusões dobro-me agora à tua ausência
e confesso-me ainda mais vazio nada tenho para dar-te
senão manadas de silêncio frio que as montanhas produzem
quando acordo aqui sorvo apenas demoras e acasos
no desfiar de paixões inacabadas até que as aves regressem
do seu sono
Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa - 30)


sexta-feira, junho 2

A UGT e as crianças

Hoje era para escrever sobre as portas que a UGT já está a abrir à destruição da segurança social pública. A UGT faz lembrar a história do escorpião e da rã. Está-lhe na “massa do sangue”…

Mas a leitura dos jornais empurrou-me para a reportagem da “Única”, a revista do “Expresso” com bons textos e boas fotos sobre trabalho infantil.

Vou ser parco sobre esses trabalhos – eles falam por si e quase nada acrescentarei. Eles valem pela recolocação do problema na agenda política. Eles mostram como entre o brilhos das montras, o sorriso dos anúncios publicitários, o fetiche da mercadoria, está um mundo cruel de exploração do trabalho que não poupa as próprias crianças.

O fetiche da mercadoria é poderoso. Esta essência do capitalismo exala “perfumes” de desejo e posse – sinónimos de estatuto social, glorifica empresários de sucesso e fotos mil em revistas cor-de-rosa – gente bonita como se costuma dizer.

Quando desmontamos esse fetiche descobrimos mundos onde “os meninos têm menos sorte do que os pintainhos”. Mas também descobrimos meninos como Robin. “Tantos eram os seus porquê que as irmãs chamavam-no menino porquê”. Esse menino que “quer ser missionário, correr mundo a defender os direitos dos pobres” dá-nos uma ajuda na nossa tarefa. Perceber porquê.

Talvez a sua escolha não recaia na opção missionária se o desafio da dialéctica e do materialismo lhe levar outros respostas de valor real, mais fortes do que a fé.

Mas é bom retomar a interrogação.
Porquê? Porquê? Porquê?

Victor Franco


quinta-feira, junho 1

Baladas de Orvalho



perco o olhar noutras palavras puras e ofereço-me à
sabedoria das aves sou esse vagabundo que apanha as
palavras despidas de êxito e vai depositá-las nos convés
da espera
nem outra margem me segura os passos vou por este
lado do engenho onde o sonho inspira as aves para a
construção dos ninhos
assim se cumpre o signo dos meus dias ir até ao fim da
estrada com as palavras coladas aos dedos

Álvaro de Oliveira
(Passos de Anisa - 29)


Do último livro de Álvaro de Oliveira, Baladas de Orvalho, da colecção: Arco da Palavra. Amanhã, não vou faltar à sessão de Lançamento do livro, em Braga, no salão da Junta de Freguesia de Nogueira. Até lá.