segunda-feira, janeiro 30

Ai Portugal, Portugal

Baixa médica selectiva

Manuel Alegre meteu baixa médica por 15 dias. Continua pois a receber o seu vencimento como vice-presidente da Assembleia da República, pago pelos contribuintes. Tudo certo até aqui. O que não está certo é que vá trabalhar para outros sítios. No fim-de-semana em Lisboa e hoje, ao que me disseram, em Viana do Castelo a preparar o seu movimento de cidadania. Triste exemplo de quem pugna por uma cidadania exigente.

Os buracos dos Fundos de Pensões

O Tribunal de Contas vem dizer-nos o que já se sabia e eu já tinha denunciado aqui, no particular do fundo de pensões dos CTT. Os fundos de pensões transferidos para a Caixa Geral de Aposentações, a que, Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, acorreram para fazer face ao défice, não estão suficientemente aprovisionados pelo que será o Estado a suportar esses encargos, extras, com os beneficiários. As implicações destes buracos nos fundos, significa para o Estado um encargo anual superior a trezentos milhões de euros. Quando é que será que os responsáveis políticos ou os decisores passam a ser responsabilizados, criminalmente, pelo mau uso dos dinheiros públicos?

Rico Portugal

Alan Greenspan deixa esta semana o cargo de presidente da Reserva Federal Americana, o banco central da maior economia do mundo. Não pretendo fazer um balanço da sua actividade. Apenas pretendo dar pública nota do ordenado, do responsável pela maior economia do mudo e aproveitando a “boleia” dizer quanto ganha o seu homólogo português. Então é assim:
O presidente do banco central americano, Alan Greenspan, leva para casa, por ano, 140 000 euros e o seu homólogo português, o presidente do banco de Portugal, Vítor Constâncio, leva só (quase) o dobro, 272 628 euros. Ah rico Portugal!

sábado, janeiro 28

O Bloco no seu labirinto

Um Post que podia ter a minha assinatura, no Aspirina B

S.L. Benfica 3 - 1 Sporting C. P.


Ser Benfiquista
É ter na alma a chama imensa
Que nos conquista
E leva à palma a luz intensa
Do sol que lá no céu
Risonho vem beijar
Com orgulho muito seu
As camisolas berrantes
Que nos campos a vibrar
São papoilas saltitantes
Luís Piçarra
(hino do Glorioso)

sexta-feira, janeiro 27

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte;
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte-
será arte?

Ferreira Gullar

quinta-feira, janeiro 26

Um balanço das presidenciais (fim)

O resultado de Alegre teve o condão de aclarar posições. Em primeiro lugar mostrou que há um eleitorado socialista, sociologicamente, mais à esquerda, cansado do aparelho, dos notáveis, das elites e a dar grandes sinais de exigência de políticas de rigor e transparência, mas com sensibilidade para as questões sociais.

Este eleitorado tende a acantonar-se a propostas políticas mais à esquerda do Partido Socialista o que é um bom sinal e deve levar a esquerda a reflectir sobre o seu futuro. Por outro lado, ficou claro que este movimento de pessoas que apoiaram Alegre é muito heterogéneo. Provem de distintas sensibilidades, tem diferentes motivações pessoais e políticas, nasce de uma conjuntura específica, não tem um líder qualificado e por isso qualquer tentativa de construção de uma nova associação, de qualquer natureza, em seu redor, está condenada ao fracasso e pode comprometer um projecto a prazo de reorganização das esquerdas.

Poderá ser um voto inglório se for usado para outras guerras. Cabe aos partidos e a cada um de nós, interpretar correctamente o significado da votação em Alegre.

Mário Soares como candidato foi a aposta perdida à nascença. Toda a gente viu isso quando a sua candidatura foi anunciada. Soares tinha muitos anticorpos à esquerda e à direita. A candidatura de Soares, fez ressuscitar velhos demónios e toda a gente caiu em cima do homem e do político.

Também, por culpa própria.

Soares não se deu conta de que este já não era o seu tempo. Avaliou mal a situação e avaliou-se mal. Avançou com generosidade, procurando prestar um serviço ao partido, depois das renúncias de Guterres, Vitorino, Jaime Gama e das hesitações de Alegre. Não foi claro o aparecimento da sua candidatura. “Cheirou” a golpe nas costas de Alegre. Cuidou só de olhar para dentro e afastou-se da realidade.

Soares, teve uma prestação eleitoral nobre e galharda, mas cheia de equívocos. Nunca percebeu o que se estava a passar. Não entendeu o “estranho” fenómeno que a certa altura tomou conta da sua candidatura e inopinadamente “inundou” o País: da esquerda à direita, largos sectores da população viram em Soares, o símbolo das velhas políticas, das oligarquias, dos favorecidos, do “tacho”, do compadrio e das clientelas. Sem apoios fortes, dando o corpo ao manifesto na defesa das políticas anti-sociais do governo, praticamente só, subestimado pelos próprios socialistas, não podia evitar uma derrota pesada e estrondosa para si e para o Partido Socialista.

Jerónimo de Sousa fez bem o seu trabalho. O objectivo era consolidar e reforçar a confiança dos seus eleitores nesta nova direcção. Fê-lo com mestria. Jerónimo com uma imagem simpática, afável, mostrando convicção e simplicidade ao mesmo tempo, com um discurso mais terra-a-terra, do agrado popular, tem sido eficaz, na sua mensagem. O recuperar do fôlego ficou patente no comício nacional em Lisboa que animou as hostes. O aparecimento do Bloco tem feito bem ao Partido Comunista. Não deixa, contudo, de transparecer que está a falar para o interior do partido.

Francisco Louçã fez uma campanha extraordinária. O objectivo era muito categórico. Em primeiro lugar derrotar Cavaco Silva, depois espalhar no País a semente de novas ideias, uma nova forma de fazer política, transmitir esperança, força, convicção, esperança, auto estima e por fim mobilizar as energias cívicas para uma cultura de exigência, rigor e responsabilidade. Não mais do que isto.

Falhou no primeiro objectivo, agarrou bem os restantes, não obstante o resultado de 5,3 por cento, abaixo do melhor resultado de sempre, 6.3 por cento, das últimas legislativas o que manifestamente não dá justiça, a um desempenho de alto nível.

Louçã enfrentou esta tarefa com bravura, talento, inteligência e competência, como não deixaram de reconhecer a generalidade dos comentadores. Louçã baixa de votação, com a deslocação de imensos votos para Alegre, mas acolhe, também, muitos outros, que minimizam as deslocações para Alegre.

Uma parte significativa do eleitorado do Bloco é muito jovem e urbano e algo volátil, não tendo ainda, naturalmente (O Bloco tem apenas seis/sete anos) um eleitorado consolidado. Muitos votos destes eleitores, foram, em grande parte para Alegre, por um lado, porque lhes parecia o candidato com mais possibilidades de congregar mais apoios para uma segunda volta, contra Cavaco e por outro para castigar Soares. Não havia da parte da grande maioria deles, discordância com a candidatura de Francisco Louçã, apenas fizeram uma avaliação das forças em presença e fizeram a opção que lhes pareceu mais correcta. Nada a dizer.

Penso que Louçã com esta candidatura ganhou uma posição de maior destaque na cena política e é uma reserva para novos combates no futuro e emprestou mais prestigio ao Bloco. Este campo da esquerda exigente está mais alargado e pode ser reforçado. Assim saibam as forças desta área, encontrar as formas de organização e de democracia participativa, alargada, com fóruns de discussão e reflexão, sem reservas mentais, sem sectarismos e integradora.

A posição de Teixeira Lopes relativamente ao anúncio do regresso de Joana Amaral Dias, não é um bom prenúncio. Aguardemos.

Os próximos tempos com Cavaco Silva na presidência e Sócrates no governo, apoiados no lobby de interesses, do poder económico, não pronunciam boas notícias para os que mais têm sido castigados, nos últimos tempos.O futuro tranquilo, segue dentro de momentos.

quarta-feira, janeiro 25

Um balanço das presidenciais (1)

Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais e com ele toda a direita. A esquerda, toda a esquerda, perdeu. Alegre, apesar dos bons resultados pessoais, também perdeu. Manuel Alegre na noite das eleições, disse que estava solidário. Devia ter dito que perdeu. Como disseram todos os outros. Ninguém pode ficar de fora na esquerda. A esquerda perdeu porque o único adversário da esquerda era Cavaco Silva e ele ganhou.

Tenho lido e ouvido por aí muitas análises e reflexões sobre o resultado das eleições. Análise há “treinador de bancada”. Todos temos a nossa explicação para o resultado.

O desfecho, não fugiu, às minhas previsões, mais coisa menos coisa. Na primeira volta ou na segunda, mais voto, menos voto neste ou naquele candidato, mas Cavaco Silva iria ganhar as eleições, era a minha profunda convicção. A primeira conclusão que retiro destas eleições é que a esquerda não é maioritária no País. A esquerda como eu a vejo. Uma esquerda plural, mas a esquerda. A soma de todas estas esquerdas é minoritária. Não há maioria política e social de esquerda A esquerda vota à esquerda. A esquerda votou e não ganhou. O povo de esquerda tinha candidatos, para todos os gostos. Não pode ser desculpa dizer que nenhum agradava. O leque era assaz largo para escolher um candidato que condissesse com os nossos propósitos. E a esquerda compareceu e perdeu. Quem vota Cavaco Silva, seguramente, não é de esquerda. A prova está feita.

Cavaco Silva vence por mérito estas eleições, através de uma estratégia pensada ao pormenor. A retirada da cena política nos últimos dez anos, gerindo as palavras e os silêncios, foi estudada e cuidada. Uma meticulosa encenação messiânica, foi aplicada e desenvolvida pelos seus correligionários, colocados em pontos estratégicos, sendo a comunicação social estratégica nesta arquitectura de um candidato. Os que conceberam a candidatura, criaram a figura do homem providencial, o homem que vai guiar o País na senda da prosperidade, da tranquilidade e que vai resolver os problemas e as dificuldades do País.

Mas, Cavaco Silva vence, também, por inépcia do Partido Socialista. A direcção do PS geriu de forma confusa e ambígua todo o processo de escolha do seu candidato, desde o início. Nunca se percebeu qual a estratégia de Sócrates. Podemos especular sobre o assunto. Houve quem visse, em todo este processo, tramas, conspirações, traições, astuciosamente engendrados, para levar à eleição de Cavaco. Nunca se saberá.

Cavaco, em consequência destas duas razões, aproveita, habilmente, o descontentamento das políticas anti-sociais e a perda de confiança, amplamente depositada no Governo Sócrates nas eleições legislativas de Fevereiro. Basta ver que o PS nas legislativas de Fevereiro de 2005 obteve 45 por cento e agora com os candidatos da área socialista Alegre e Soares, obtém 35 por cento. Estes resultados comparados, permitem verificar que parte destes 10 por cento se deslocou para Cavaco. Foi esta grande massa de votantes, que ora dão a vitória ao PS ora ao PSD, que nestas eleições resolveram dar a vitória a Cavaco Silva.

O Governo é outro dos grandes culpados. O seu principal contributo é a insensibilidade social que desde o início, deu testemunho. Não bastando ter aprovado das medidas mais gravosas de que há memória, como o aumento da idade da reforma, a retirada de direitos sociais, o Governo em plena campanha “esquece” que tem um candidato e “entrega o ouro ao bandido”, ao tomar mais medidas impopulares como o aumento dos combustíveis, dos transportes públicos, ao fechar centros de saúde ou ao apresentar propostas de aumentos salariais que baixam o salário real, tudo isto como se lhe fosse indiferente o resultado das eleições ou desse como adquirido ou até desejável (na linha da teoria da maquinação maquiavélica), a vitória de Cavaco Silva.

Inimaginável!

Manuel Alegre é apenas um vencedor virtual. O seu mérito reside apenas em ter percebido, a tempo, a conjuntura política: A de um governo desgastado e desacreditado, na sua base social de apoio e na população em geral; a escolha errada do candidato do Partido Socialista, sentenciado desde a primeira hora a uma derrota anunciada; a percepção do descrédito dos políticos e partidos, em que os maltratados ou os favorecidos, são sempre os mesmos; a divisão na esquerda; um estatuto de homem contumaz e de pose justicialista.

E assim, de repente o homem de sempre dos aparelhos partidários, o indefectível apoiante das políticas de todos os governos socialistas, o político que apoia o orçamento/negócio do “queijo limiano” de Campelo, que aprova as medidas anti-sociais de Sócrates, que pede encarecidamente o apoio partidário à sua candidatura, aparece como o paladino dos direitos de cidadania, com dissertações fogosas, contra tudo aquilo que sempre foi, durante trinta anos, de um ressentido, ferido por não ser a escolha do seu partido.

O resto foi o que se viu. Um jogo político baixo, tacticista, de jogador “pequeno”, como a campanha eleitoral evidenciou. Frases batidas até à exaustão, um discurso nacionalista aplaudido pela direita e um silêncio cúmplice nos ataques indecentes de que Soares foi alvo. Uma campanha eleitoral de vaidade, de homenagens narcísicas ao seu passado, de pouco esclarecimento, poucas ideias, debates frágeis, ataques caluniosos a outros candidatos da esquerda e uma complacência com a candidatura de Cavaco Silva.

Tudo junto, deu uma enorme “salada russa” e uma prestação demagógica e falsa que seduziu a direita, conquistou parte do eleitorado socialista e de outros eleitores de esquerda que face ao quadro de candidatos, acharam ser o melhor colocado para derrotar Cavaco e dar uma canelada a Soares.

A outra grande mentira trata-se de dizer que este é um movimento da cidadania. Não é verdade. A cidadania pratica-se e manifesta-se quotidianamente. Nas comissões de bairro, nas comissões de moradores, nas associações culturais, cientificas, ambientais, sindicais, nos movimentos sociais, na prática assertiva, exigente, no combate pelo direito e a justiça. Os mais de um milhão de eleitores que votaram Alegre votaram nele por razões conjunturais. Os movimentos de cidadania não são isto, são muito mais. São combate de todos os dias, são presente e são futuro, são luta e não acomodamento, são integração e não contemplação, são concretos e definidos. Alegre pela sua natureza, nunca será o mentor ou líder de um movimento com este espírito.

(Só agora vem o meu balanço. Na 2ª feira, fiquei "doente", não saí de casa e não quis saber de nada. Depois não tive tempo. Inicio agora e devo concluir amanhã)


sexta-feira, janeiro 20

O meu palpite

Em tempos de sondagens, aí vai o meu palpite. Deixem os Vossos.

Cavaco Silva - 49,7
Mário Soares - 18, 5
Manuel Alegre - 16,9
Jerónimo de Sousa - 7,4
Francisco Louçã - 6,9
Garcia Pereira - 0,6

Quem ficar mais próximo recebe um livro de poesia da Adelaide Graça. Ela assina.

quinta-feira, janeiro 19

Uma segunda volta sem história e com um triste fim.

Um terço dos eleitores do Bloco, segundo uma sondagem, diz ir votar no Manuel Alegre. Aparentemente, esse terço perdido, irá ser recuperado, basicamente, em eleitores socialistas de Sócrates e em perdas e recuperações cruzadas na esquerda, pelo que tanto Louçã como Jerónimo, não devem ter grandes oscilações, com votações próximas dos resultados das últimas legislativas.

Já é um fado, triste por sinal, como são quase todos os fados.

Andamos nisto há anos. O País não consegue sair da cepa torta por medos. Medos de fantasmas interiores que nos consomem. Medos de mudanças a sério e uma grande dose de falta de coragem. É sempre o mesmo. A cada desencanto, aparecem novos “encantamentos” que rapidamente se desvanecem para dar lugar a novos desencantos, até novos encantos que hão-de vir. E assim se faz Portugal.

Somos um povo que gosta de sofrer. Anos após ano andamos a fazer escolhas menores. Úteis, dizemos nós. Sempre em nome de um mal menor. E acabamos por ficar com o mal menor rapidamente transformado em igual ou pior. Ainda há pouco tempo saímos de umas eleições em que trocamos um mal por outro mal menor (governo Sócrates) e muitos já se arrependeram. Até à próxima eleição. Altura em que voltaremos a votar no mal que antes recusamos.

É a vida como diria o outro.

Agora como se não bastasse um mal maior (Cavaco), muito dos apoiantes da Alegre, logo na primeira volta, descobrem que é preciso combater, não um, mas dois males maiores a combater (Soares e Cavaco -que para eles são iguais) e escolhem um mal menor. O Alegre, contra Cavaco.

Manuel Alegre, por si, já ficará muito satisfeito se ficar à frente do Soares. O resto vem por acréscimo e que tão bom que é, para ele, claro. Se Cavaco Silva ganhar, Manuel Alegre, não deixará de dormir descansado, mas se Soares ficar à sua frente vai, seguramente, ter umas noites de insónias.

Nada a fazer! Quando a vaidade e o oportunismo se sobrepõem e os tontos do costume (com todo o respeito por quem está sinceramente crédulo na bondade da sua candidatura), são embalados nestas tretas de ocasião.

Em minha opinião Cavaco Silva vai ganhar. À segunda volta. Antes disso vai ter que sujeitar-se a novos debates (era bom que fosse com Louçã). Na minha análise, os candidatos da esquerda vão ter, juntos, mais que 50 por cento dos votos e Cavaco irá novamente a votos. Mas na segunda volta, nenhum candidato da esquerda, qualquer que seja, irá fazer o pleno dos eleitores que votaram nos outros quatro candidatos.

Alegre na segunda volta não vai buscar eleitores a Cavaco (ninguém irá) e não terá o pleno da esquerda. As razões, dos apoiantes de Alegre que se recusam a votar Soares, serão as razões, de muito dos Soaristas para recusar-se a votar Alegre. A maior parte dos eleitores do Partido Socialista que está com Soares, não irá nunca votar Alegre, numa segunda volta. Não conseguiu à primeira não vai conseguir à segunda. Alegre não foi o escolhido pelo PS e muitos militantes não aceitam que Alegre concorra contra o próprio partido.

Alegre, à esquerda desiludiu muita gente e perdeu a consideração e o respeito que antes tinha, com a sua arrogância, as suas incoerências e ataques desbocados e mesmo caluniosos, a que acresce a impreparação e falta de ideias, (apenas favorecido devido às fragilidade do PS de um mal Governo Sócrates e de um discurso reaccionário, perigoso e aproveitador dos sentimentos antipolíticos e antipartidos – surpreendentemente, aceite em alguma áreas de eleitores do Bloco), e por isso não lhe auguro bons resultados na segunda volta.

Soares não tem nenhuma possibilidade na segunda volta, quando deixou de ter apoios numa certa esquerda que, surpreendentemente, recuperou assuntos do baú, julgados arquivados, depois de ter ganho duas eleições presidenciais. Também não irá buscar, a maioria dos votos dos socialistas Alegres. A colagem excessiva às políticas do Governo prejudica-o muito agora, e numa segunda volta será fatal.

O Jerónimo e o Louçã, infelizmente, não conseguem ultrapassar alguns estigmas que lhes estão associados e descolar da percepção generalizada de que não têm qualquer hipótese, apesar de terem feito os dois, à sua maneira, as melhores campanhas e no caso de Louça ser reconhecido como o candidato mais capaz e competente.

Esta poderá, pois, vir a ser, uma segunda volta sem história e com um triste fim. Só um candidato estaria preparado para dar luta a Cavaco no terreno da luta política e das questões económicas, como já aconteceu nos debates da pré-campanha e esse é Francisco Louçã.

É a minha aposta de coração mas também da razão. E fico com uma certeza a de que nunca me arrependerei.

Alegre ou Soares um deles irá à segunda volta, entre os dois prefiro, indubitavelmente, Soares.

quarta-feira, janeiro 18

Cavaco não ganhará à primeira volta

“O deputado Louçã concede hoje a última entrevista antes das eleições. É uma entrevista que choca. Pela lucidez, pela inteligência. Mas sobretudo pelo contraste. O contraste com o mesmo Louçã, candidato a Presidente.” (Editorial do Jornal de Negócios).

Sérgio de Figueiredo, director do Jornal de Negócios, surpreende-se. Miguel Sousa Tavares, no Expresso também ficou surpreendido. “Francisco Louçã revelou-se para mim, uma agradável surpresa. Foi, de longe, o melhor e mais bem preparado candidato nos debates”. Muitos outros, antes, já tinham ficado surpreendidos, destacando todas as suas qualidades políticas, técnicas, a sua inteligência, a preparação que revela, um amplo domínio de variados temas. Alguns outros, ainda, só agora “descobriram” o brilhante curriculum profissional e até o percurso político.

Eu também estranho a estranheza deles. Ou talvez não.

Uma leitura obrigatória, a entrevista de Louçã ao Jornal de Negócios, para quem quiser conhecer melhor o seu pensamento e as suas propostas, sobre:

as razões do atraso e os obstáculos para o desenvolvimento do País,
a forma como se aplicaram os fundos estruturais,
um novo modelo de desenvolvimento estruturante,
a liberalização do comércio mundial,
a competitividade de Portugal,
a sustentabilidade da Segurança Social, as alternativas possíveis e as suas propostas,
a transformação dos hospital em PPP,
a necessidade de um orçamento de base zero e de um novo redesenho do Estado,
as privatizações na energia, saúde, ou água,
a reforma do sistema fiscal,
as funções do Presidente da República,
as razões porque Francisco Louçã se considera o único europeísta nestas eleições,
os caminhos que a Europa deve trilhar,
a directiva Bolkstein,
um sistema fiscal europeu e um Banco central com capacidade para emitir títulos de dívida pública ou
a sua explicação para um Cavaco forte nas sondagens e a responsabilidade de Sócrates e de outros candidatos.

A não deixar de ler.

A sério, muito a sério

Só vejo um candidato com o perfil adequado para Presidente.

Francisco Louçã.

É responsável. Tem visão estratégica. É o melhor preparado. O mais conhecedor. O mais competente. O mais empenhado. O mais determinado.

Conhece os grandes problemas do País. Defende uma Europa de solidariedade. Tem ideias. Tem propostas. Está disponível para os grandes desafios. Tem uma preocupação social muito vincada.

O que é preciso mais?

Não estão fartos do viradinho do costume? Não estão cansados deste regabofe?

A política está a precisar de nervo. Estou farto de falsos consensos. De fatalidades. De que tem de ser assim. Não! O que precisamos é de pessoas decididas, rigorosas, solidárias, combativas.

Estes "nossos políticos" já não se levam a sério. Podem insultar-se. Fazer afirmações graves que isto é "campanha eleitoral" e logo esquece. Perderam a vergonha e o bom senso. É preciso ter memória. É preciso afastar certos fantasmas que ainda toldam algumas consciência. Em trinta anos de democracia, foi PS, PSD, PS-CDS, PS-PSD, PSD-CDS, foi Soares, (não) foi Alegre, foi Cavaco, Durão, Santana, querem mais, do mesmo? Eu não! Recuso-me.

Força Chico!

domingo, janeiro 15

Alegre no trilho do insulto


O Alegre passou-se. A sua reacção à crítica de Louçã no comício de Braga, em que estive presente, é absolutamente incrível, quase inacreditável. Foi um ataque desconcertante, desproporcionado, inesperado, contundente, feroz.

Manuel Alegre passou os limites e foi malcriado. Não pretendia falar mais sobre o homem e sobre o político. A minha opinião sobre o político amiudada vezes foi exprimida neste sítio. Não gosto do político, também não apreciava o homem. Acasos da minha memória. Parece que tinha razão. Para além do fraco político parece que também estamos perante um homem fraco.

Manuel Alegre já tinha oferecido umas amostras de deselegância com os outros candidatos da esquerda, nesta campanha.

Manuel Alegre não faz campanha, exibe-se. Passeia o seu enorme ego. A sua grande vaidade pessoal. Manuel Alegre, não quer fazer política a sério. Quer mandar umas “bocas”. Manuel Alegre não quer o contacto com as pessoas, ouvir os seus problemas, apresentar propostas ou ideias, contrapor argumentos. Quer aparecer “acima”, atribuir-se méritos, raptar memórias, acontecimentos, protagonistas. A campanha de Manuel Alegre tem sido um revisitar da história para retirar dividendos indevidos. Não falha um monumento, um cemitério, uma estátua, invoca os capitães de Abril, a resistência antifascista, os feitos, a pátria, tudo como se fosse obra sua, ou o seu herdeiro e que ninguém ouse contestar, questionar, criticar. A ele ninguém o cala. Vai tudo à frente. Foi Jerónimo, Soares, Matilde Sousa Franco, foi agora Francisco Louçã.

Manuel Alegre não distingue critica política, de calúnia. Francisco Louçã ao fim de largar e largas semanas de campanha atreveu-se a dizer que Manuel Alegre faz uma campanha desajustada. Que é preciso os candidatos falarem com as pessoas, ouvir os seus problemas, conversar sobre a vida, as dificuldades, o desemprego, as reformas.

Ninguém deve esperar pelos votos. O voto deve ser merecido. O voto tem de ser merecido. O voto tem de ser conquistado.

O que desagradou a Manuel Alegre foi isto. A verdade. O resto é conversas.

O que este episódio releva é que os candidatos não são só o que se vê nas eleições. Os candidatos têm um passado e têm um presente e isso não pode ser esquecido. Louçã lembrou o famoso “orçamento do queijo limiano”, aprovado à custa do vergonhoso negócio da compra do voto do deputado Campelo. No momento do voto, onde estava Alegre? Bastava o seu voto. Isto não pode ser esquecido. Manuel Alegre mostra-se agora contra algumas medidas do governo Sócrates, mas ele apoiou-as. Votou a favor do programa do governo, a favor do aumento do IVA, votava a favor do aumento da idade da reforma, das privatizações se fosse necessário, não se coibiu de dizer Manuel Alegre. Agora não gosta de ser lembrado.

Os candidatos devem merecer o voto que pedem. Manuel Alegre decididamente não o merece. Não fez nada por isso. Nem antes, nem na pré, nem durante a campanha.

Manuel Alegre anda a passear a sua vaidade à procura da honraria, das benesses e da cadeira do poder como prémio de carreira. Não o merece.

As declarações de Manuel Alegre, sobre Francisco Louçã mostraram um carácter baixo que surpreendeu todos. O Homem que não gosta de “perder nem a feijões” perdeu a cabeça e verteu insultos. Espalhou calúnias. Disse o impensável. Desrespeitou não só Louçã mas os aderentes, simpatizantes e eleitores do seu partido. Ofendeu a inteligência dos seus apoiantes.

Para memória futura ficam aqui algumas das declarações:

“Louçã é um Cavaco do avesso. Estou farto das lições de moral. Não aceito a direcção espiritual de Louçã que parece ter errado a vocação. Ele deixou de combater Cavaco Silva e persiste em combater as forças de esquerda. Ele anda aqui atrás de uns dinheiros e de uns votozinhos. Eu sou de outro campeonato. Eu tenho um passado político de luta e de resistência, Louçã não sei se tem".

Registo também a reacção de Francisco Louçã:

“Manuel Alegre escolheu o caminho fácil e desagradável do insulto. Não quero comentar um deslize para sublinhar a pequenez das rixas. Respeito quem, nesta campanha, faz homenagens, beija estátuas e faz essas escolhas da memória de si próprio, mas na campanha devem discutir-se os problemas do País. Louça acrescentou que desrespeita o País quem acha que uns votos são inhos e outros são importantes”.

Duas notas: 1 - Estive em Braga e ouvi o Louçã numa grande intervenção num grande comício com o auditório da Gulbenkiam a abarrotar. Deixem-me deixar-vos aqui mais uma aparte; Fui informado de que a rádio transmitiu que a sala esvaziou após a intervenção de Sérgio Godinho. Mentira, não saíu mais de uma dezena de pessoas e entraram outras tantas. 2- Ontem à noite realizou-se o maior e mais animado jantar-comício alguma vez realizado em Viana e aquela senhora idosa (84 anos) que apareceu entrevistada era a minha mãe. Todos na luta.
É a vida.

quinta-feira, janeiro 12

Um grande queijo limiano

Eu tenho-me batido nas minhas intervenções públicas e aqui no blogue de que é preciso mais protesto, mais exigência, mais raiva. Nem mais! Ontem na sessão da Assembleia Municipal, partimos a loiça. Fizemos a intervenção abaixo e abandonamos a sessão como forma de protesto.

Simplesmente recusamos participar na encenação de uma farsa desempenhada por maus actores.

Os Presidentes das Juntas de Freguesias "independentes" mudaram em quinze dias de um voto contra para um voto a favor, sendo que o documento apresentado foi o mesmo. Deixo para cada um dos leitores o seu juízo.
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Exmos Senhores
Na sequência da sua primeira grande derrota política nos últimos doze anos, o Senhor Presidente da Câmara referiu que a proposta foi recusada porque "mexia com os interesses" de alguns presidentes da Junta.

Disse-nos que havia pressão exercida de alguns presidentes de junta sobre a Câmara para retirar dividendos na distribuição dos inertes.

Acusou, ficando a insinuação, de concertações "entre os fornecedores e os presidentes das juntas".

E nós perguntamos:
Isso aconteceu quando, senhor presidente?
No último ano? Há quantos anos isso acontece?
Só agora, passados doze anos é que descobre as deficiências deste modelo?
Como é que face a tão graves acusações como as que produziu não tomou as medidas correctivas a tempo?

Não deixa de ser curioso que quando o Bloco de Esquerda apresentou uma proposta de alteração das relações entre a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia V.Exª se tenha indignado com o facto de nós afirmarmos que aquela proposta iria contribuir para uma melhor transparência e eficácia na transferência de verbas.

V.Exª não gostou que tivéssemos utilizado a palavra transparência. Afinal parece que tínhamos razão.

E o que dizem disto os senhores presidentes das Juntas?
Aceitam passivamente todas as acusações que vos foram feitas?
Afinal a proposta mexe ou não com os V/ interesses?
Pressionam ou não os elementos da Câmara?
Fazem ou não concertações com os fornecedores?

A Câmara Municipal apresenta a esta Assembleia a mesma proposta de opções do plano e orçamento para 2006, rejeitada por maioria na sessão de 22 de Dezembro, apenas reformulando o mesmo no que se refere às transferências financeiras para as juntas procurando, segundo o documento, melhor explicitar a "incorrecta interpretação do texto de apresentação das Grandes Opções do Plano".

O executivo da Câmara Municipal faz de nós tontos e pretende fazer ilusionismo.

Num passe de mágica tenta convencer-nos que o que agora vemos não é aquilo que já vimos e que agora voltamos a ver.

Não sabemos ainda qual será a posição dos senhores presidentes de junta que votaram contra o documento.

Temos conhecimento que existiram inúmeras reuniões entre os presidentes de junta e a Câmara Municipal durante este período, tal como, aliás, já tinham ocorrido antes da última assembleia.
Foi pena que as não tivesse tido com os restantes agrupamentos políticos.

Mas a questão que aqui deixamos quer ao Senhor Presidente da Câmara quer aos senhores presidentes de Junta é o que mudou entretanto nesta relação, que nós não conseguimos descortinar, quando é certo que os montantes a transferir e orçamentados são exactamente os mesmos que estavam previstos no anterior documento.

Se este orçamento agora for aprovado, algo não bate certo.

Aquilo que hoje se vai passar aqui, ao ser proposto votar o mesmo documento que há quinze dias foi derrotado é uma indecência e um desrespeito para com esta Assembleia.

É um marco negro na história da democracia vianense e do principal órgão representativo dos munícipes do concelho.

O Executivo da Câmara, neste novo (velho) documento, com arrogância, apenas releva o voto contra as GOP e o Orçamento para 2006 a três Presidentes de Junta, nomeando-os nominalmente no documento que agora apresenta a esta assembleia quando se sabe que a posição foi assumida pela totalidade dos presidentes de Junta "independentes", ignorando igualmente as razões dos outros agrupamentos políticos para o seu voto contra.

O executivo da Câmara ao registar que houve uma incorrecta interpretação do texto quer dizer a todos os que votaram contra o documento, que são uma espécie de iletrados, destituídos de suficiente inteligência e uns inaptos para interpretar um simples texto.

O executivo da câmara ofende, menoriza, desconsidera.

Por entendermos que a nossa participação neste ponto da Ordem de Trabalhos é legitimar a actuação da Câmara Municipal e aceitar a desconsideração de que esta Assembleia está a ser alvo, recusamo-nos a votar estes documentos, requerendo que passe a constar da acta que os membros do agrupamento político do Bloco de Esquerda a partir do final desta declaração e neste ponto da Ordem de Trabalhos, se ausentam da assembleia,

Uma última palavra para os Senhores Presidentes de Junta Independentes: há três semanas votaram contra este documento. Todos sabemos que nem vocês nem nós o interpretámos mal, ao contrário do que diz o Senhor Presidente da Câmara. Nada se alterou. Só há um caminho: a coerência.

OS DEPUTADOS

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(Fernando António da Silva Marques)

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(Luis Filipe de Oliveira Louro)

quarta-feira, janeiro 11

A Democracia diminuída

Logo à noite tenho Assembleia Municipal. Vou lá sem vontade nenhuma! Como contei na última Assembleia o Orçamento e Plano foram derrotados por força dos votos conjugados de todos os presidentes das juntas de freguesia "independentes".

Já tive acesso à nova proposta da Câmara. Não altera nada. Apenas reformula uma parte do texto dizendo que três (?) presidentes das Juntas não compreenderam bem o enunciado para manter tudo na mesma.

Uma vergonha! O Presidente da Câmara das duas uma; ou já garantiu que alguns desses presidentes vai alterar o seu voto ou vai faltar à sessão. Não vislumbro uma terceira possibilidade.

Nós com dois elementos, temos os tais cinco minutos para denunciar esta merda e ainda queremos retomar as duas propostas que não foram votadas.

A democracia está doente e diminuída.

terça-feira, janeiro 10

Cavaco Silva e a Segurança Social - O cinismo.

Cavaco Silva vem mostrar-se, agora, inquieto com o problema da sustentabilidade da Segurança Social, mas diz que “confia no governo”. Nesse aspecto está bem acompanhado por Mário Soares e Manuel Alegre, pois ambos apoiam as medidas do governo, como o aumento do IVA e o aumento da idade da reforma.

Na verdade, só Francisco Louçã, vem de há muito a alertar para este grave problema e foi o único a inscrever no seu manifesto eleitoral uma proposta de alteração do modelo de financiamento e quis trazer para o debate público esta questão importante para os próximos anos.

Cavaco Silva que no debate com Louçã tinha mostrado desconhecimento sobre os estudos que no âmbito da Assembleia da República tinham sido apresentados, vem agora, dizer que a questão da sustentabilidade, “já deveria ter sido colocada no topo das nossas prioridades.”

É preciso um grande descaramento e desvergonha! Este homem toma-nos por imbecis e papalvos. Esta figura nebulosa aparece-nos agora fingido, contrafeito, dissimulado no sorriso aberto amarelado, surgido do Além, portando a bandeira da esperança, da solução, da prosperidade.

Foi no período em que Cavaco Silva foi governo, de 1985 a 1995, durante dez anos, em períodos de crescimento económico que o governo não transferiu para a Segurança Social, a parte do orçamento de Estado, descontada pelos seus contribuintes (dinheiro que por lei e por direito própria a eles pertencem e que tem aquela única utilização) e que atingiram na época mais de 1 200 milhões de contos segundo o Livro Branco da Segurança Social.

Essa verba nunca chegou a ser reposta por qualquer governo sucessor de Cavaco Silva alegando dificuldades financeiras, mas o Estado mantém a dívida.

Também aqui os Governos Cavaco Silva foram um desastre. Vir agora dizer que está preocupado é de um grande cinismo. Com esta não transferência, Cavaco Silva descapitalizou fortemente a Segurança Social e obrigou o Estado a recorrer aos fundos de capitalização, que são a almofada para os períodos mais críticos, muito mais cedo, para assegurar o pagamento das pensões.

Para quem estiver interessado fica aqui o link da proposta de Louçã para a sustentabilidade da Segurança Social, um documento não perfeito e acabado, certamente, mas importante para o debate urgente que tem de ser travado.

Vá lá, leiam, reflictam, debatam, não é uma proposta qualquer, feita por alguém desqualificado tecnicamente!

Depois não nos digam que não há saídas alternativas, (todos os dias e por todos os meios, repetidas até à exaustão por muitos ignorantes, como é visível em alguns comentários) ao aumento da idade da reforma e ao eliminar sucessivo de conquistas sociais.

Talvez nos consigam convencer.

segunda-feira, janeiro 9

Que fazer?

Às vezes, paro para pensar, nos precisos termos que isso possa significar; parar mesmo, faço-me entender? Pensar é um acto mais ou menos irreflectido. Estamos sempre a pensar. Nesta nossa massa cinzenta, ao mesmo tempo, fervilham, turbilhões de pensamentos. Acontece com todos, presumo. É por isso que digo que paro, às vezes, para pensar. Parar para pensar só num assunto. Comummente chama-se a isto, reflectir, pensar muito, ir aos pormenores para compreender melhor.

Há pessoas que pensam melhor que outras. Gozam de mais instrução, são mais brilhantes, possuem mais informação, desenvolveram melhor certos neurónios. Admito isso sem custo. Mas, por si só, tais capacidades não as habilitam mais. Ou são, as suficientes para ter uma melhor opinião, mesmo quando se apresentam todas juntas. Há muitas mais variáveis que constroem um pensamento. A nossa vivência, o nosso trabalho, o meio em que nascemos e convivemos, as circunstâncias da vida, forjam personalidades distintas e sabedorias diferentes. Por isso somos diferentes. É no encaixe de algumas destes peças, do puzzle da vida, que se alinham causas idênticas e se juntam as pessoas em volta de certos propósitos.

Todos sabemos isto. Negar é negar a evidência. É a esta luz que encontro a explicação para diferentes posicionamentos em questões capitais da organização da sociedade. Que vejo os alinhamentos à esquerda e direita, plurais, que interpreto a luta de classes sociais. Esta lição deu-me a vida. É claro que a leitura de Marx ou Engels ou de outros pensadores marxistas, ajudou a consolidar um pensamento, a perceber a relação dos acontecimentos. Mas foi sem dúvida a “escola da vida”, as dificuldades, a pobreza extrema, a injustiça social, a guerra colonial que nos deram consciência social e mais tarde, a consciência politica que criaram as pessoas que hoje somos.

Nunca poderei vir a ser uma pessoa de direita. É seguro! Nunca poderia trair a minha memória e a memória de tantos que lutaram e lutam por um ideal de sociedade mais justa e que não se conformarão com as desigualdades. Posso, com o passar dos anos moderar ou radicalizar as minhas posições, posso ter momentos de desânimo e desilusão, posso “ameaçar” desistir, posso mudar a minha forma de intervenção, mas nunca, nunca deixarei de ser uma pessoa da esquerda exigente, da esquerda combativa, da esquerda que não abdica dos seus valores mais profundos. Essa esquerda está em muitos partidos e até fora deles. Ela saberá encontrar, os denominadores comuns para encontrar as energias para estas batalhas de transformação. Tenho essa convicção.

É claro que os grandes momentos de desilusão acontecem quando se travam grandes disputas, se emprega todo o nosso esforço e tudo fica na mesma ou volta atrás. Espero pelo dia em que os grandes vitimados atirem a pedra ao charco e dêem a confiança a quem pretende mudar, a sério, as coisas.

Vasco Pulido Valente, enfastiado faz um diagnóstico destas eleições presidenciais, quase perfeito. Para ele:

Cavaco Silva, “arrasa” a concorrência porque o eleitorado o associa a “prosperidade”. Alegre tem uma razoável votação por que “faz figura” o que lhe basta quando metade do eleitorado PS detesta o governo. Soares, perde porque esta simpática sociedade não gosta de velhos. Jerónimo e Louçã ficam de fora porque ninguém os consegue imaginar em Belém e Louçã, fica atrás de Jerónimo, por falta de uma “máquina” e porque no fundo, o papel de revolucionário oficial do regime (de que nunca mais conseguirá sair), diverte a populaça, mas não leva longe.”

Terá razão? Que fazer?

domingo, janeiro 8

Uma forma abjecta de fazer política

O coxo que nos desgoverna decidiu aparecer na campanha da sua Assombração. Mas como não pode andar, a não ser de chincolapé, decidiu-se pela video-campanha, fazendo-se filmar, da cintura para cima, no gabinete do primeiro-ministro.
Ou seja, o coxo, anquilosado pelos movimentos e provavelmente anquilosado pelas ideias, usa o cargo para apelar ao voto no seu testa-de-ferro, naquilo que eu considero a mais abjecta forma de fazer política e que, muito provavelmente, constaria nos manuais de Hitler, Pinochet, Fidel ou outro soba africano dado e arregaçado à autocracia.
Não há quem apresente uma queixa na Comissão Nacional respectiva? Terei de o fazer eu, sozinho? Ou as bandeiras que o coxo tinha atrás de si foram postas na arrecadação da sua garagem, para imitar o gabinete?Que diz o Fernando a isto? Que diz o Fernando a esta torpe imitação do apelo da Assombração na Assombraçãozinha no dia de voto das autárquicas em Lisboa?Estou de tal forma indignado, que não consigo conter a ira.
Fora com esta cambada!

Quadrúpede Rosa

Nota: recebido como comentário no Post anterior e eu subscrevendo a indignação, postei-o.

sexta-feira, janeiro 6

Desiludido mas não desistido.

Acabei de ver a reportagem na SIC sobre Francisco Louçã. Está tudo lá. Não devo acrescentar muito mais. Quem viu ficou a conhecer bem o homem, o político, o professor universitário. Um homem de causas, combatente, estudioso, investigador, conhecedor, competente, humilde.

Quando se vê e ouve Louçã, se conhece a sua actividade politica, se conhece o seu curriculum, político e técnico, não pode deixar de se lembrar de Cavaco Silva e rever os seus dez anos de afastamento da política activa e verificar que neste tempo a sua actividade se resumiu a leccionar economia e à publicação de duas autobiografias políticas.

Apesar disso, um é o Professor Cavaco Siva, o salvador da pátria e o outro é o Louçã, às vezes o Dr. Francisco Louçã, um radical arrogante.

Nesta situação só posso ficar aborrecido, claro que fico aborrecido.

Ao contrário de Cavaco, Francisco Louçã nos mesmos dez anos, além das suas, exigentes, actividades políticas, continuou como professor no ISEG (Univ. Técnica de Lisboa), onde dá aulas, gratuitamente e ainda preside a um dos centros de investigação científica (Unidade de Estudos sobre a Complexidade na Economia).

Neste tempo, publicou tês livros de ensaio político, nove livros de economia, alguns com a colaboração dos mais reputados economistas mundiais, recebeu em 1999 o prémio da History of Economics Association para o melhor artigo publicado em revista científica internacional. É membro da American Association of Economists e colabora nas principais revistas científicas internacionais (American Economic Review, Economic Journal, Journal of Economic Literature, Cambridge Journal of Economics, Metroeconomica, History of Political Economy, Journal of Evolutionary Economics, etc.). Foi professor visitante na Universidade de Utrecht e apresentou conferências nos EUA, Inglaterra, França, Itália, Grécia, Brasil, Venezuela, Noruega, Alemanha, Suiça, Polónia, Holanda, Dinamarca, Espanha e é um dos economistas portugueses com mais livros e artigos publicados (traduções em inglês, francês, alemão, italiano, russo, turco, espanhol, japonês).

Mas o povo quer assim e que se há-de fazer... todos se queixam de que isto está mal, mas ao fim e ao cabo, acabam sempre por votar nos mesmos. E uma vezes temos o PS outra vez o PSD a governar.

Também ouvi a sondagem da Universidade Católica e até dei um salto na cadeira. Cavaco Silva, 60%, Soares (13) e Alegre (16), juntos não chegam aos 30%, Louçã fica nos 4% e Jerónimo nos 7%. A Sondagem de ontem da Aximagem, vai no mesmo sentido e dá Cavaco com 54,6%, Soares 13,8%, Alegre 10%, Louçã 6% e Jerónimo 4%. Uma tristeza e uma desilusão!

Francisco Louçã, especialmente, mas também Jerónimo Sousa, mereciam bem melhor.

Faz-me impressão que esta grande massa de descontentes e que andam sempre a dizer mal dos que nos governam e com razão ou dos políticos em geral, não seja capaz de dizer basta e arriscar a votar diferente.

Com 50 anos já tenho idade para não sofrer este tipo de desilusões. Mas que posso fazer se não continuar a lutar em nome de um ideal de justiça social, de uma sociedade melhor para todos?

quinta-feira, janeiro 5

Acudam-nos!

Esta campanha eleitoral está a tornar-se enfadonha. Parece que já está tudo dito e tudo decidido. E afinal, quase nada se disse de importante. E parece que também não estão interessados. Quase parece que os resultados das sondagens satisfazem todos. Com uma pequena nuance: Cavaco Silva quer ganhar à primeira e os restantes candidatos, querem empurrá-lo para a segunda volta! A excepção parece ser Manuel Alegre que lhe será indiferente, a não ser que seja ele próprio a ir à 2ª volta.

Cavaco Silva quer despachar já isto na primeira volta. Ele não está para se chatear com uma segunda volta! Mais debates televisivos, mais contactos de rua, mais sessões públicas, visitas, aturar jornalistas, prestar esclarecimentos, ser confrontado, ouvir criticas? Não! Isso não é para uma pessoas da sua estirpe. Ele não ouve, não responde, não modera, não conversa. Ele afirma, ele é superior, ele manda, ele comanda, ele é que sabe, ele é o salvador. Ele se não ganhar à primeira volta é capaz de desistir. Falo a sério. Ele não é homem para sofrer derrotas. Já lhe bastou perder em 1996, contra Sampaio. E por isso desapareceu, sem “produzir” nada a não ser dar umas aulitas.
Tadinhos de nós, se o temos de gramar!

Mário Soares desperta-me sentimentos contraditórios. Eu até simpatizo com o Homem. É uma pessoa solta, tem um discurso forte e sem peias. Diz sempre o que pensa mesmo que politicamente incorrecto ou obtuso. É uma pessoa do povo, afectuosa e carismática. Sabemos quem ele é com todos os defeitos e virtudes. Mas tem constrangimentos fortes: um percurso político sinuoso, especialmente, como Primeiro-Ministro, com alianças, com o PSD, com o CDS e imensas medidas impopulares e desnecessárias, mesmo contra-natura e tem outras questões não esclarecidas, como foi o caso “Macau” ou o papel de Carlucci, entre tantas outras. Tem muitos anticorpos na esquerda. A colagem às políticas do governo, também o prejudica fortemente. E tem um grande handicap, que é a idade, não obstante a impressionante capacidade física e mental que ainda demonstra, mas já confunde e “tropeça” muito, (Ribeiro e Castro, o mais flagrante) e no fim do mandato, terá oitenta e cinco anos.
Não sei ao que veio!

Manuel Alegre é a maior desilusão. Aquele que poderia ter sido é o candidato “escolhido” da esquerda se tivesse a coragem e convicção de avançar como candidato, à semelhança do que fez Sampaio em 96 sem esperar pelo apoio do seu partido é afinal uma pessoa ressabiada, vaidosa, um pouco petulante que procura um ajuste de contas e a glória de uma carreira política inócua. Talvez consiga uma outra estátua. Adivinha-se um novo PRD. Tenho de concordar com Pacheco Pereira quando afirma que “o que Alegre diz sobre qualquer tema é vago, confuso, ou lugar-comum”. Em minha opinião, por muito que possa doer, Fernando Rosas, caracterizou bem a campanha de Alegre” Manuel Alegre não sabe muito bem do que fala, acerca de assunto nenhum”. E mesmo quando, aparentemente, usa o verbo, vem carregado de um nacionalismo perigoso e confuso que tenho dificuldade em entender, como “ a energia criadora de um povo que
se orgulha da sua história e da sua marca que deixou no mundo”. Como diz o Historiador José Neves, “falta de rigor intelectual ou conveniência estratégica”. Proponho-vos um exercício: imaginem o discurso de Alegre se tivesse tido o apoio que pediu ao PS, como seria o seu discurso? Os eleitores de Alegre estão, maioritariamente, no centro político, embora cuidem de estar na esquerda do PS.
Alegre não é a renovação!

Jerónimo de Sousa é o PCP com as suas qualidades e defeitos. É uma figura com carisma e simpática à vista. O problema é que não descola do discurso para dentro do partido, para segurar as hostes. Mas em substância nada mudou. Ainda há dias, em entrevista ao DN, concedia que os países, governados pelos Partidos Comunistas da China e da Coreia do Norte, com quem tem relações de proximidade, são socialistas embora não perfilhasse para Portugal um modelo igual. Tem feito uma campanha sem sobressaltos, mas demasiado previsível, certinha, mas sem rasgos, em particular nos debates. Tem imenso “medo” do crescimento do Bloco.
Cumpre o papel, mas tem um discurso batido!

Francisco Louça é o mais consistente e o mais bem preparado. Com ele não há baldas. É estudioso, inteligente e competente. O seu discurso é forte, não tem medo das palavras, tem posições muito claras e trouxe para o debate questões e propostas que ninguém ousou contestar, técnica e politicamente. Tem um curriculum impressionante. Francisco Louçã, além de deputado e coordenador do Bloco, também lecciona na universidade, publicou uma série de livros de investigação na sua área, individual ou com outros reputados economistas internacionais, traduzidas em várias línguas e publicou artigos, nos mais prestigiados jornais internacionais, foi convidado para conferências e colóquios no estrangeiro. Comparando com Cavaco Silva, nestes seus dez anos de exílio, apenas foi professor e publicou dois livros autobiográficos. Nos debatos a dois foi o mais esclarecedor e competente.
É o candidato da esperança de renovação das políticas e dos políticos!

quarta-feira, janeiro 4

Ah ganda Xico!

«Eleitorado de esquerda vai decidir entre mim ou Soares»

Francisco Louçã acredita que vai passar a segunda volta das presidenciais. O candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda disse na TSF que se Cavaco Silva não vencer numa primeira volta, terá de enfrentar ou Louça ou Mário Soares.

Ontem, em entrevista ao DN disse o que diria a Bush ; o que pensa sobre temas que outros se furtam a discutir; da responsabilidade de Sócrates no avanço de Cavaco e disse que se está a criar um apartheid social em Portugal.

Mas disse outras coisas importantes de que retirei alguma notas e que não encontrei em Online. (excerto da entrevista ao DN com uns apartes meus.)

“Quando apresento uma alternativa sobre a sustentabilidade da Segurança Social, é porque quero colocar no debate uma clarificação sobre que caminhos são possíveis. Todos os candidatos dizem que defendem a sustentabilidade da Segurança Social, mas dizem uma frase sobre isso. O que é absolutamente irresponsável.”

Bem mas quem é que não afirmará que se preocupa com a sustentabilidade da Segurança Social? O que eu gostava de saber é a importância que lhe atribuem e o que pensam sobre quais as saídas. Pelos vistos, não pensam nada. O que disseram de relevante sobre esta questão fundamental?

“ A Europa está a morrer, está a morrer se se reduz a um orçamento de 1%, se se reduz a uma Europa em três velocidades que não desenvolve politicas de coesão. Eu sou europeísta e defendo uma busca de uma alternativa para a política internacional. Não me quero isolar. Se nos próximos anos não conseguirmos mobilizar-nos para escolher prioridades de desenvolvimentos, ficaremos sempre como uma espécie de colónia da Europa.”

Além de Louçã, nenhum outro candidato, falou sobre a Europa, apresentou algum balanço ou estudo dos 20 anos de adesão. Ou expôs ideias para discussão ou propostas para aperfeiçoamento nos próximos anos. Ninguém! Dizem o que diz o comum dos mortais. Esperava-se mais de candidatos a Presidente da República.

“ Nós somos um País pobre, com dificuldades, temos poucos recursos. Um País que tem dois milhões de pobres e tem grandes problemas do desemprego tem de desenvolver o debate político, clarificando as alternativas, mobilizar recursos e energias.”

O Presidente não resolve o problema do desemprego. Mas no âmbito das suas competências pode promulgar ou vetar leis importantes, promover o debate político, apontar bons exemplos, fazer pedagogia. Quem mais se tem batido pela discussão destes problemas?

“Os eleitores sabem que votam em mim não para que aplique as medidas, mas porque o voto representa o reforço de uma alternativa e porque acreditam que procurarei mobilizar as energias e as maiorias que não nos prendam a uma espécie de inevitabilidade, que são as de aceitação de um apartheid social e da diminuição da politica europeia.”

Tudo muito claro. As balizas estão definidas constitucionalmente, mas Francisco Louçã não deixa de dizer qual será a sua função política, para enfrentar os caminhos que entende fundamentais para desenvolver o País.



terça-feira, janeiro 3

A recusa de candidaturas presidenciais

As candidaturas de Luís Filipe Guerra e Manuela Magno foram recusadas pelo Tribunal Constitucional, alegadamente por não possuírem algumas das certidões de eleitores, validadas pelas Juntas de Freguesia, apesar de terem mais das 7 500 assinaturas exigíveis. Parece que as 48 horas seguintes que são concedidadas para regularizar a situação não foram suficientes.

Não posso aceitar que sejam razões de falta de operacionalidade de órgãos do Estado a ractificar as certidões, um motivo para impedir as candidaturas de concorrerem. O processo tem de ser mais expedito e não estar à mercê das boas vontades ou da inexistência de meios de algumas Juntas, onde umas demoram uma semana ou mais a passar as certidões e outras as passam no mesmo dia em que são o pedidas ou no máximo no dia seguinte.

É mais uma forma revoltante de condicionar a democracia participativa!

segunda-feira, janeiro 2

Uma nova exigência para a Europa


Completam-se hoje [ontem] 20 anos sobre a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia. A adesão foi a decisão política mais importante que se tomou no país depois da revolução dos cravos. Esta mudou o nosso século XX. Aquela marcou decisivamente o modelo de desenvolvimento económico e social, e o modo como vivemos no mundo. Vinte anos depois, exige-se um balanço exigente do nosso processo de integração. Um balanço que interrogue, por um lado, o uso dos fundos comunitários; e, por outro lado, a estratégia que os governos seguiram nas instituições comunitárias. Um balanço que nos faça reflectir sobre as exigências necessárias para a Europa dos nossos dias.

Ver análise e proposta de Francisco Louçã no site da campanha.

O meu relógo só tem uma hora*

D. Quixote foi-se embora

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p'ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição
Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

Jorge Palma

*A hora que há-de vir. Para não lembrar coisas tristes.